Causa enorme perplexidade que a presidente da
República tenha anunciado aumento de 9%, em média, do benefício do Bolsa
Família, antes mesmo de avaliação e estudos que evolvessem a viabilidade
orçamentária, ou seja, a certeza sobre a possibilidade da execução da medida,
no sentido de poder contar com respaldo do Orçamento da União, para a
realização tranquila do pagamento das despesas correspondentes.
Não
obstante, o governo, depois de conceder o reajuste da bondade, exatamente no
Dia do Trabalhador, contrariando, no mínimo, o princípio da racionalidade
administrativa, quanto à efetividade das despesas, eis que a medida beneficia
injustamente quem não trabalha nem produz diretamente nada em contribuição ao
Produto Interno Bruto, verificou que o decreto pertinente deve condicionar à
aprovação do projeto de lei, em tramitação no Congresso Nacional, que altera a
meta fiscal deste ano, segundo foi apurado por especialistas em finanças
públicas.
Mesmo
depois de a presidente do país já ter anunciado o reajuste em apreço, em clima
de euforia, na solenidade em comemoração ao dia dos trabalhadores, o decreto
ainda não foi editado por ela, em razão do forte temor da Casa Civil com
relação à adoção da medida, que não tem respaldo legal, porque poderia ferir,
mais uma vez, o princípio orçamentário.
Assessores
do Palácio do Planalto temem que a presidente possa correr risco de ser
condenada novamente pelo Tribunal de Contas da União, à vista da existência do
impedimento de aumento das despesas com base em meta fiscal que ainda não foi
aprovada pelo Congresso, conquanto a proposta de mudança da meta de superávit
de R$ 24 bilhões para um déficit de até R$ 96,6 bilhões pende do aval do
Parlamento.
Na
prática, a alardeada “bondade” da petista pode ser delegada para o próximo governo,
passando a responsabilidade para o novo ministro da Fazenda, no provável
governo do peemedebista, que terá que assumir ou não a decisão sobre o reajuste
anunciado por sua antecessora, o que vale se intuir que o bônus político do
aumento será da presidente e o ônus de não concordar com ele poderá recair para
os novos donos do Tesouro.
Embora
o governo argumente que os recursos para o reajuste do Bolsa Família,
contabilizados em aproximadamente R$ 1 bilhão, já estejam previstos no
Orçamento, o governo encontra sério problema para materializar a medida, sob
pena incorrer em crime de responsabilidade, diante do comprometimento de nova
despesa sem a indispensável mudança da meta fiscal, que é legalmente exigida para
acomodar as inquietantes previsões de receita, que têm sido imprevisíveis, nos
últimos tempos.
O
próprio responsável pelo Tesouro Nacional já disse que não há espaço fiscal
para o aumento dos gastos anunciados pela presidente, notadamente à vista do
rombo potencial de quase R$ 100 bilhões previsto para este ano nas contas do
governo e de R$ 65 bilhões já estimados no projeto de Lei de Diretrizes
Orçamentárias de 2017.
É
por demais curioso que a presidente pode ser afastada do cargo exatamente pelas
práticas das condenáveis pedaladas fiscais, mas ela não aprende nem se
conscientiza sobre possível crime pela reincidência de falha semelhante, em
teimoso desrespeito às regras insculpidas na Lei de Responsabilidade Fiscal, tudo
em nome de suas incontroláveis obsessões pelo social, que foram a marca do seu desastrado
governo, por ter preferido priorizar a distribuição de renda à classe carente e
relegar a planos secundários as demais e não menos importantes políticas de
governo e de Estado, principalmente as pertinentes à economia, que tem como sua
marca terrível a destruidora recessão, por ter deixado rastro perverso e
maléfico de desemprego, redução do salário, inflação alta, taxas de juros escorchantes,
dividas públicas impagáveis, desindustrialização, descrédito dos investidores,
retirada do capital estrangeiro, diminuição do consumo e do crédito,
inexistência de investimentos em obras e serviços públicos, entre outras
dificuldades e mazelas que são o retrato consolidado da degeneração do país com
reconhecidas potencialidades como o Brasil, que se encontra totalmente rendido
às forças da incompetência, omissão, ineficiência e completa falta de reação
para a retomada do desenvolvimento.
Nos
países sérios e desenvolvidos democraticamente, os governantes têm o senso de
responsabilidade de que o orçamento é algo que merece ser respeitado como
instrumento máximo de política governamental, não podendo realizar despesas
senão nos limites das metas fiscais, em estrita obediência à arrecadação, sob
pena de responderem pelo grave crime de responsabilidade fiscal, por se trata
de infração contra a administração pública.
Contrariamente,
nas republiquetas, os governantes aproveitam os momentos solenes para anunciar
atos demagógicos, impensados e irresponsáveis, recheados de medidas
absolutamente fora da realidade orçamentária, com o propósito exclusivo de
mostrar bondade demagógica que se traduz em sacrifício para os contribuintes,
que são aqueles aos quais é transferido o ônus do ato irresponsável anunciado,
visto que o orçamento não comporta despesas sem a devida contraposição da
receita, fato que demonstra extremas incompetência e irresponsabilidade
administrativas.
Urge
mudança da mentalidade dos homens públicos fracos e despreparados, por
estadistas que tenham o mínimo de sensibilidade política para entender e se
conscientizar que a gestão pública precisa de equilíbrio, racionalidade e responsabilidade,
de modo que as políticas fiscais sejam executadas com austeridade,
economicidade e efetividade, com embargo de hipocrisia e demagogia que são
contrárias aos princípios da administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 05 de maio de 2016
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