quinta-feira, 12 de maio de 2016

Dia histórico e inesquecível


O Senado Federal houve por bem afastar, por até 180 dias, a presidente da República do cargo, por 55 votos a 22 dos senadores presentes na sessão especial, que entenderam que ela deva ser julgada por crime de responsabilidade fiscal, em razão das denominadas pedaladas fiscais.
O resultado foi considerado surpreendente, por ter superado os 2/3 da composição do Senado, que é o quórum mínimo para o afastamento definitivo dela, fato que mostra enorme dificuldade para o seu retorno ao Palácio do Planalto e acena que a votação final pode ser ainda mais folgada no que tange ao atingimento desse quórum, considerando que a petista não dispõe mais da caneta presidencial, para afagar a avidez dos inescrupulosos políticos, que são aproveitadores contumazes das benesses do poder.
          À luz dos fatos, é possível se vislumbrar que a era “gloriosa” do PT, no comando do país, tenha chegado ao fim, de forma melancólica, depois do apogeu dele de mais de 13 anos do partido à frente do Palácio do Planalto, em que pese a legenda ter se mantido imersa em perturbadores escândalos, além de ter sido incapaz de livrar a presidente do impeachment, em clara demonstração de incompetência na gestão de recursos públicos, ou seja, por ser acusada de gastar de forma abusiva e irresponsavelmente, com infringência das normas pertinentes ao limite das metas fiscais, que motivou o desfecho, em princípio, do governo petista.
À toda evidência, o afastamento da petista, a quem se atribui a culpa pelas terríveis crises política, econômica, ética e administrativa, abre espaço para recolocação do país nos trilhos do desenvolvimento, mas isso exigirá do novo presidente a superação de gigantescos desafios, uma vez que o legado da petista é horroroso ao extremo, notadamente no que diz respeito às políticas econômicas, que se encontram em profundo atoleiro, à luz dos horrores da recessão, da desindustrialização, do desemprego e de tantas mazelas que empurraram o país ao retrocesso socioeconômico.
Embora os motivos ensejadores do impeachment se restrinjam apenas às pedaladas fiscais, por caracterizarem o crime de responsabilidade fiscal, o legado da petista, na administração do país, causa espanto e sensação de terror e repulsa, à vista do descontentamento nacional com a desastrada execução das políticas públicas ou com a ausência delas, eis que o país se encontra nas trevas da recessão e do subdesenvolvimento, graças à incompetência, à ineficiência e à falta de capacidade gerencial para se evitar que as ações de governo se traduzissem em verdadeiro malogro, causando significativos prejuízos aos interesses dos brasileiros.
Em que pesem as reclamações petistas de que o processo de impeachment se traduz em verdadeiro golpe parlamentar, essa visão tacanha e retrógrada somente tem acolhimento no âmbito daqueles que insistem em enxergar os fatos à luz do seu campo de visão e de suas conveniências, conquanto esse não é o entendimento esposado pelas pessoas cônscias e possuidoras de faculdades normais e muito menos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, órgão que é considerado guardião da integridade da Carta Maior do pais, os quais não se cansam em se manifestar pela legitimidade  dos atos adotados tanto na Câmara dos Deputados, como no Senado, o que somente confirma que a acusação de golpe não passa do inconformismo e do desespero por parte de quem resiste à aceitação sobre a realidade dos fatos, que são insofismáveis, por serem fruto de casos concretos e imutáveis causados pela má gestão pública.
          Ressalte-se que, ao negar provimento ao último recurso do governo, um ministro do Supremo foi bastante enfático com forte argumento sinalizando para a inviabilidade de chances de sucessos futuros do governo, quanto à judicialização do impeachment, ao afirmar que "Não há base constitucional para qualquer intervenção do Poder Judiciário que, direta ou indiretamente, importe juízo de mérito sobre a ocorrência ou não dos fatos ou sobre a procedência ou não da acusação. O juiz constitucional dessa matéria é o Senado Federal, que, previamente autorizado pela Câmara dos Deputados, assume o papel de tribunal de instância definitiva, cuja decisão de mérito é insuscetível de reexame, mesmo pelo Supremo Tribunal Federal. Admitir-se a possibilidade de controle judicial do mérito da deliberação do Legislativo pelo Poder Judiciário significaria transformar em letra morta o art. 86 da Constituição Federal".
Isso demonstra que ao governo deve restar a infrutífera e bestial ideia de potencial vitimização, discurso, aliás, inócuo, à luz dos fatos, que são robustamente indestrutíveis com palavras destituídas de conteúdo.
Como sói acontecer em casos de ameaças de apearem-se do governo, a cúpula petista, os aliados e a própria presidente afastada não têm o menor pudor para alardear versão ampliada e absurda do terrorismo eleitoral disseminado na última eleição, segundo o qual o novo presidente vai acabar com programas sociais e cortar direitos trabalhistas.
Trata-se de enunciado com visível tom de desespero por parte de pessoas que conseguiram a destruição do país, o aviltamento da Presidência da República, o aprofundamento da queda livre da crise econômica, além da insistência da retórica irredimível de que misteriosas "forças conservadoras" conspiram para retirá-las do poder, sem antes fazerem autoavaliação sobre a enorme rejeição à atuação do governo que se afasta, conforme atestam as pesquisas de opinião.
Na verdade, o importante passo de esperança acaba de ser dado, com a aceitação do processo jurídico-político sob a incumbência do Congresso Nacional, onde vem sendo assegurado o respeito ao amplo direito de defesa e ao contraditório, que são princípios, na forma mais clara possível, contrários à absurda e insistente mentalidade de golpe.
Não há direito assegurado ao detentor de cargo público eletivo, mesmo com milhões de votos, sob o argumento de respeito às urnas, de ficar imune a questionamento sobre atos contrários aos princípios constitucional e legal ou de deixar de responder, na forma da lei, sobre eles, porque a dinâmica do ordenamento jurídico não possibilita que os casos passíveis de responsabilização daqueles que deram causa ao patrimônio público e aos princípios da legalidade, moralidade e dignidade.
Enfim, hoje é um dia histórico, inesquecível, para os brasileiros, porque houve o afastamento da Presidência da República de pessoa que demonstrou completa incapacidade para administrar o país com as potencialidades do Brasil e que foi capaz de causar enormes prejuízos ao interesse da população, por ter sido, no seu governo, a causadora da potencialização do dramático processo recessivo da economia, com suas consequências nefastas e maléficas ao bem comum e ao desenvolvimento nacional. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de maio de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário