sexta-feira, 20 de maio de 2016

A indispensável limpeza


No momento, a situação de incerteza no comando da Câmara dos Deputados, quanto à condução dos trabalhos legislativos, dificulta bastante a tramitação dos projetos do novo presidente do país, que depende da aprovação deles no Congresso Nacional, mas as atividades legislativas passam por turbulência com relação ao temor da possível paralisia resultante da permanência do deputado maranhense como presidente interino da daquela Casa.
O deputado maranhense já disse que não renuncia “de jeito nenhum”, embora partidos da base do governo avaliem que ele não terá condições de conduzir as votações, por não ter apoio das lideranças partidárias, que pretendem definir como as sessões deverão ser conduzidas, sem a presença dele. 
O imbróglio é grave e não se dissipa com o tempo, porque se trata de revolta gerada entre os deputados, em razão de o presidente interino da Câmara ter tentado anular a aprovação da continuidade do processo de impeachment da presidente afastada, cujo ato insano foi revogado logo em seguida, diante da gigantesca pressão vinda de todos os lados.
Um deputado disse que “Se ele (o presidente interino da Câmara) presidir a sessão, não sei o que pode acontecer naquele plenário. Mas legitimado (para ser o presidente em exercício) ele está. Vou chamar todos os líderes da base para fazer uma leitura dos cenários e percepções”.
Para um tucano, a Câmara precisa votar medidas provisórias editadas pela presidente afastada, para "limpar" a pauta e permitir que as futuras propostas de ajuste fiscal do novo governo sejam apreciadas. 
Já outro deputado disse que "Não podemos fazer nenhum tipo de paralisação. Temos que votar as medidas provisórias, limpar essa pauta, na expectativa do envio dos projetos do novo governo. Acho que tem que ter um esforço coletivo. Até porque as medidas [de ajuste fiscal] vão precisar de profundo debate. Não pode misturar problema que é da nossa natureza, a presidência da Câmara, e obstruir a pauta".
O clima está tão acirrado na Câmara que um deputado foi taxativo: “Vou contestar a presidência mesmo que interina do senhor Waldir Maranhão. Ele não tem condição de conduzir a sessão da Câmara dos Deputados depois do papelão que promoveu na semana passada. A sessão que vier a ser conduzida por ele vai causar celeuma e confusão. Não o queremos presidindo nenhuma sessão”.
À toda evidência, o clima não é dos melhores no âmbito da Câmara dos Deputados, quando todos atiram na direção do seu presidente interino, que realmente agiu com imaturidade e imprudência, quando quis sozinho, de forma inusitada e autoritária, pôr no lixo importante decisão soberana adotada por 367 deputados, o que negaria a validade ao processo de impeachment da presidente afastada.
Só existe uma maneira para se contribuir para a compreensão do fato em si, que é a análise da situação à luz dos preceitos legais e regimentais, porque as hipóteses adotadas em afronta a eles somente põem lenha na fogueira e isso não é o melhor caminho para a solução do impasse.
O que existe, na verdade, são pressões de toda ordem, na tentativa de enfraquecer as forças do presidente interino, para que ele desista de continuar com o seu projeto de poder, que tem todo respaldo dos próprios deputados, que votaram na chapa do presidente afastado e, por via de consequência, nele, ou seja, ele é legítimo presidente da Câmara, só que a sua imagem se encontra queimada e degradada depois da sua atitude desastrosa de anular ato jurídico perfeito e acabado.
Diante disso, surgiram avaliações preconceituosas e depreciativas sobre o deputado maranhense, as quais não contribuem absolutamente para nada, quando o cerne da questão deveria se voltar para a solução do caso, por meio da provocação de discussão saudável e positiva para o melhor encaminhamento da causa.
Na realidade, o cerne da questão é o deputado afastado, cuja situação suscitou o travamento dos trabalhos da Câmara, mas isso poderia ser solucionado tão somente com a cassação do mandato dele, uma vez que seu histórico tem o condão de manchar, por completo, o decoro parlamentar, não tendo mais condições de representar absolutamente nada e muito menos influenciar nos destinos do Parlamento, embora ressalte-se, de passagem, que ele tenha prestado relevantíssimo serviço aos interesses nacionais, com a abertura do processo de impeachment da presidente afastada, que não tem nada a ver com a situação atual de paralisia dos trabalhos da Câmara.
Convém que a Câmara dos Deputados providencie, o quanto antes, a cassação do mandato do deputado presidente da Casa, que se encontra afastado do mandato por decisão do Supremo Tribunal Federal, de modo que os caminhos sejam limpos para a eleição do novo presidente, em conformidade com o ordenamento jurídico e em respeito aos princípios democrático e republicano. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 20 de maio de 2016

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