segunda-feira, 30 de maio de 2016

Em busca da verdade


Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, o ex-ministro do Planejamento sugeriu em conversas gravadas com o ex-presidente da Transpetro, empresa subsidiária da Petrobras, que possível mudança no governo federal resultaria em pacto para "estancar a sangria" feita pela Operação Lava-Jato, que investiga ambos e quantidade inominável de outros políticos suspeitos de participação em esquema de propina com recursos daquela estatal.
Relata-se que a conversa em questão teria ocorrido semanas antes da votação do processo de impeachment da presidente do país, ainda na Câmara dos Deputados, mas o advogado do ex-ministro disse que ele "jamais pensaria em fazer qualquer interferência na Lava-Jato, porque essa não é a postura dele", pretendendo insinuar que os brasileiros são um bando de ingênuos que não sabem interpretar as verdadeiras intenções dos políticos tupiniquins.
As conversas trazem revelações bombásticas sobre o que se passa de verdade nas cabeças dos homens públicos, a exemplo do seguinte diálogo: "O Janot (procurador-geral da República) está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria".
Noutro trecho o presidente da Transpetro disse que acredita que o envio de seu caso do Supremo Tribunal Federal para o juiz federal, em Curitiba, seria estratégia para que ele fosse obrigado a fazer delação premiada e, por via de consequência, poderia incriminar importantes líderes do PMDB.
Ele também afirma que novas delações não deixariam "pedra sobre pedra", que mereceu o complemento do ex-ministro, que disse que o caso "não pode ficar na mão desse (Moro)".
          Mais adiante, foi dito que "a solução mais fácil era botar o Michel (Temer)", como forma de o eventual governo dele poder viabilizar a construção de pacto nacional: "com o Supremo, com tudo" e outro interlocutor responde: "aí parava tudo. É, delimitava onde está, pronto".
O presidente da Transpetro afirma que "o caminho é buscar alguém que tenha relação com Teori (Zavascki)", que é o relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal.
Demonstrando muita preocupação, o referido executivo afirma que a situação é grave, porque "Eles querem pegar todos os políticos" e, em seguida, acrescenta que precisa da inteligência do ex-ministro, que se coloca à disposição para falar.
À vista dos fatos vindos à lume, fica tudo muito claro que as investigações da Operação Lava-Jato precisam cada vez mais de muito apoio da sociedade, para que elas possam continuar, ante a importância dos trabalhos em busca da verdade e da moralização do país.
Não há a menor dúvida de que as revelações em apreço são contundentes e têm a capacidade de causar assombro à sociedade, por mostrarem que os homens públicos estão com dificuldades para explicar seus envolvimentos nos esquemas de corrupção, que tem o epicentro localizado na Petrobras, de onde partiu o propinoduto para o abastecimento de cofres de partidos políticos, a exemplo do PT, MPDB e PP, e de contas bancárias de importantes políticos, empresários e executivos, sendo que muitos dos quais já foram condenados e se encontram presos.
As revelações em apreço não constituem qualquer novidade no mundo político, porque elas apenas confirmam a má e degenerativa índole dos políticos tupiniquins, que protagonizam atos de corrupção com a maior naturalidade, em benefício próprio e de seu grupo político, mas mesmo assim nada disso os sensibiliza no sentido de reconhecer seus atos ilícitos e os prejuízos causados aos brasileiros, conquanto, segundo seus entendimentos, eles são sempre normais, por fazerem parte da arraigada cultura política, embora a participação deletéria dos políticos tem o peso da destruição dos princípios da dignidade, moralidade e honestidade, em prejuízo do interesse público.
Diante da alarmante situação de promiscuidade envolvendo parcela significativa dos representantes do povo, com a constatação de que muitos dos quais se encontram sendo investigados por suspeita de corrupção, conviria que o Poder Judiciário passasse por aperfeiçoamento e modernização, de modo que os julgamento dos casos devidamente comprovados pudesse se realizar com a celeridade bem antes do término dos respectivos mandatos, como forma de as punições servirem de exemplo pedagógico, com vistas a serem evitadas situações futuras semelhantes às levantadas pela Operação Lava-Jato. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de maio de 2016

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