O Uruguai ratificou sua vontade de passar a
presidência temporária do Mercosul à Venezuela, em contrariedade à posição de
Brasil, Paraguai e Argentina.
Aquele país fez comunicado anunciando que "O governo uruguaio, em exercício na
presidência temporária do Mercosul, reitera sua posição no sentido de passá-la,
conforme estabelecido pelas normas vigentes do Mercosul". Segundo
essas normas, o Uruguai deve fazer o processo de passagem da presidência
rotativa do grupo à Venezuela, em que pese essa decisão contrariar a vontade dos
demais países do bloco.
Diante da conturbada situação político-econômica da
Venezuela, o Mercosul se depara com importante crise quanto à transferência do
comando do bloco ao governo bolivariano daquele país, à vista da nítida
instabilidade ali reinante, com o que o bom sendo recomenda que o seu
presidente não tem realmente condições de assumir tamanha responsabilidade, conquanto demonstra incapacidade para sequer administrar a economia interna,
que vai de mal a pior, conforme mostram os fatos, que denunciam a debacle
dominante naquela nação.
O Brasil, que tem governo interino duramente
criticado por Caracas, manifestou seu desejo de adiar até agosto a discussão
sobre a transferência da presidência do Mercosul, segundo a manifestação do
chanceler brasileiro, que já apresentou pleito nesse sentido ao governo do Uruguaio,
parece fazer vistas grossas para o apelo tupiniquim.
Por sua vez, o Paraguai também se manifestou contra
a decisão do Uruguaia, quando o chanceler daquele país declarou que não aceita
a transferência da presidência temporária do bloco regional a uma nação cujo
governo "está buscando o fim da
Assembleia Nacional, que é a voz do povo".
Nessa mesma linha e de forma mais incisiva, segue a
posição do presidente da Argentina, que disse: "Nós vamos presidir o Mercosul nos próximos meses", logo após
ter dito que o governo venezuelano "violou
todos os direitos humanos" e
"levou à fome e ao abandono a população venezuelana. Por isso, necessitam
de um referendo, necessitam ir às eleições o mais rápido possível".
É evidente que os países são independentes e autônomos
enquanto esses princípios digam respeito aos direitos da administração de seus negócios
internos, mas, no caso do Mercosul, há regras claras sobre a necessidade do cumprimento
dos direitos humanos e dos princípios democráticos como imposição indispensável
à participação de qualquer país como membro da organização.
No caso da Venezuela, a situação é muito clara
quanto à degradação desses salutares princípios, quando os fatos mostram a
completa decadência e o desrespeito aos conceitos de cidadania e organização
comunitária, em especial no que diz respeito à repressão aos movimentos
reivindicatórios por alimentos essenciais à sobrevivência da população, cujo
governo demonstra desrespeito diante da crise instalada no país pelo completo
desabastecimento do produtos de primeira necessidade, deixando muito evidente
que o país não atravessa a normalidade administrativa e democrática exigida
pelos conceitos estabelecidos pelos países integrantes do Mercosul.
O
boicote pelos membros do Mercosul ao governo da Venezuela tem a importância de
mostrar-lhe que as políticas adotadas naquele país não se coadunam com os
princípios civilizatórios e humanitários e que é preciso impor condições para
que a normalidade democrática volte a fazer parte da administração daquele
país, na forma preconizada pelo estatuto da organização econômica inspirada
pelo Mercosul.
Os
fatos mostram que a Venezuela é exatamente a antítese do primado a que se
pretende com a organização do Mercosul, que tem como escopo o desenvolvimento
social e econômico de países sul-americanos, mas a situação de extrema
decadência política e administrativa daquele país somente recomenda a sua
suspensão do bloco, enquanto não for resolvida a terrível crise humanitária
imposta ao seu povo. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 08 de julho de 2016
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