domingo, 3 de julho de 2016

Investimentos inúteis


O laboratório antidoping do Brasil, construído e equipado especialmente para os jogos olímpicos, com o investimento da ordem de R$ 188 milhões, é descredenciado às vésperas do evento, fato que tem o condão de manchar ainda mais a imagem do Rio de Janeiro, como anfitrião do empreendimento esportivo, bem assim do Brasil, que o patrocina.
A suspensão é por tempo indeterminado, exatamente porque o laboratório não conseguiu atingir os padrões internacionais de controle de dopagem, cujo acontecimento representa mais um duro golpe para a imagem cada vez mais turvada do Rio de Janeiro, que passa por maior desconfiança quanto aos quesitos de segurança e saúde públicas, em especial acerca da incidência da zika.
          O Laboratório Brasileiro de Controle Dopagem (Ladetec), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, teve a intervenção da Agência Mundial Antidoping (Wada), que, apesar dos esforços do governo, alegou que o laboratório que faria as análises das amostras dos atletas não conseguiu atingir o necessário padrão de qualidade para evento da magnitude da Olimpíada.
Diante disso, o Brasil pode até recorrer da decisão, no prazo de 21 dias, com vistas à reversão da medida em apreço e à autorização para o exame de aproximadamente 5.500 amostras dos atletas, que poderão ser processadas provavelmente no Canadá ou na Suíça, ao meio da terrível burocracia tupiniquim, nos anacrônicos aeroportos, embora com suas modernas instalações.
O mesmo laboratório já havia sido suspenso em 2013, por não ter espaço e equipamentos adequados às normas da Wada e por cometer três erros em testes. Com vistas a servir ao evento, o governo federal injetou 188 milhões em uma reforma completa do local, que aumentou em quatro vezes, dobrou o quadro de técnicos e comprou dezenas de novos equipamentos, mas os esforços foram em vão, em indiscutível demonstração de incompetência administrativa, que gasta muito e mau, como no caso em comento, em que o laboratório não passou no exame de qualidade, apesar de tanto tempo para se aos padrões exigidos pelos órgãos de fiscalização.
O diretor da Wada afirmou que, "Enquanto isso, vamos trabalhar em estreita colaboração para resolver o problema", tendo prometido fazer o transporte seguro de todas as amostras que estão no Ladetec, que deverão ser analisadas em outro laboratório credenciado pelo mundo: "Os atletas podem ter certeza de que a suspensão só acabará quando o laboratório estiver otimizado e que a melhor solução será adotada para garantir a lisura das análises feitas durante os Jogos".
Na época da Copa do Mundo de 2014, com o Ladetec suspenso, as amostras das urinas dos jogadores foram enviadas à Suíça, cujo custo da operação foi suportado pela Fifa, mas, agora, ainda não foi definido quem vai arcar com mais essa pesada fatura, que poderia ter sido evitado se a incompetência tupiniquim não tivesse operado com a sua maestria de sempre.
Além do vexame patenteado com o descredenciamento em laboratório em referência, também houve gigantesca derrota da organização dos jogos olímpicos, quando foi descumprida a promessa de despoluição da Baía de Guanabara, que compreendia a minimização da sujeira das águas em até 80%, fato que poderia ter abrandado a fúria da imprensa internacional, que fez ácidas críticas sobre o uso do local com tanta poluição, o que poderá contribuir para a confirmação da agência Associated Press, que chegou a divulgar detalhado estudo mostrando alta presença de vírus conhecidos por causar doenças estomacais, respiratórias e outras, incluindo diarreia aguda e vômitos, nas águas da Baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas.
A situação de clara precariedade de funcionamento das instituições de apoio aos jogos olímpicos demonstra exatamente as más condições existentes no país para sediar uma Olimpíada e outros eventos de grande porte, principalmente porque existem muitas prioridades que são ignoradas pelo governo, que preferiu se esforçar para promover evento megalomaníaco, sem ter as mínimas condições econômicas para tanto, preterindo as carências dos brasileiros.
O descredenciamento em tela tem o condão de mostrar ao mundo, com letras garrafais, que o Brasil deu passos precipitados, além de suas condições, ao assumir a realização de evento de suma importância mundial, sem que sejam atendidos os requisitos indispensáveis ao pleno funcionamento, como no caso do laboratório antidoping, cujos exames pertinentes passam a ser realizados fora do país, o que é lamentável e inadmissível, diante dos investimentos jogados pelos ralos do desperdício.
Compete à sociedade repudiar, com veemência, as trapalhadas, os desperdícios, as incompetências e as desastradas gastanças que foram realizadas com o projeto da Olimpíada, por ficar bastante claro que houve exorbitância na destinação de recursos para empreendimentos que certamente não vão atender ao interesse público, em verdadeiro desvio de finalidade da vinculação dos gastos públicos, que devem atender à satisfação das causas da população. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 03 de julho de 2016

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