sábado, 30 de julho de 2016

Verdade sob fórceps


Enfim, de tanto se vangloriar que era a pessoa mais imaculada e honesta do mundo, chegou a vez de o ex-presidente da República petista sentar no banco dos réus pela primeira vez em sua história política.
Um juiz da 10ª Vara do Distrito Federal acaba de aceitar denúncia formulada pelo Ministério Púbico Federal, contendo acusação de que o ex-presidente teria comandado esquema arquitetado para obstruir a Operação Lava-Jato, conforme detalhes constantes da delação premiada do ex-senador e ex-líder do governo no Senado Federal.
Segundo consta dos autos, as provas apresentadas contra o ex-presidente são fartas, consistentes e robustas, tendo por base ligações telefônicas, extratos bancários e e-mails, que revelam a pretensão dele de o ex-senador adotasse “medidas para a compra do silêncio de Nestor Cerveró”, ex-diretor da área internacional da Petrobras, tendo como objetivo se evitar que este fechasse acordo de delação premiada, que poderia comprometer tanto o próprio petista como um de seus amigos mais próximos, o compadre pecuarista.
Segundo consta dos autos, o pecuarista teria contratado empréstimo de 12 milhões de reais com o banco Schahin, para saldar dívidas de campanhas do PT, em 2006. Em troca, o grupo Schahin ganhou contrato bilionário com a diretora comandada pelo ex-diretor da Petrobras. A família do pecuarista, depois de contatado pelo ex-senador, resolveu ajudar no complô arquitetado contra a Operação Lava-Jato, tendo desembolsado o valor de R$ 250 mil para pagar os honorários de um advogado que defendia o ex-diretor da Petrobras.
A conclusão do Ministério Público é de que há fortes indícios de que “Lula atuou diretamente com o objetivo de interferir no trabalho do Poder Judiciário, do Ministério Público e do Ministério da Justiça, seja no âmbito da Justiça de São Paulo, seja do Supremo Tribunal Federal ou mesmo da Procuradoria-Geral da República”.
Além do ex-presidente, outras seis pessoas também viraram réus, mas, segundo afiançam os investigadores, o petista ocupou papel central no esquema e dirigiu a atividade criminosa praticada pelo grupo.
Após o recebimento da denúncia apresentada pelo Ministério Público, o juiz concluiu que, “Pela leitura dos autos, observo a presença dos pressupostos processuais e condições da ação (incluindo a justa causa, evidenciada pelas referências na própria peça acusatória aos elementos probatórios acostados a este feito), e que, a princípio, demonstram lastro probatório mínimo apto a deflagrar a pretensão punitiva proposta em juízo”.
À toda evidência se as provas apresentadas contra o ex-presidente não fossem fartas e seguras, certamente que o Ministério Público Federal e o juiz federal jamais dariam prosseguimento à ação contra ele, à vista dos possíveis desperdício processual e vexame pelo insucesso de medida inócua e irresponsável, diante da relevância política que isso significa no contexto nacional, exatamente por envolver o principal e mais celebrado homem público do país.
Ao que tudo indica, o velho adágio de que a conta do mal sempre chega mais cedo ou mais tarde aos malfeitores tem tudo para se confirmar no caso em comento, porquanto nunca o ex-presidente esteve tão próxima dos detestáveis bancos dos réus, em que pese ele sempre se achar que estava acima de tudo e de todos, inclusive da lei, mas as suas arrogância e prepotência podem cair por terra se não conseguir provar que é realmente inocente, não tendo nada com esse affaire.
É muito triste para o Brasil que a pessoa que se dizia, de forma reiterada, até há pouco tempo, ser o suprassumo da honestidade, seja agora considerado réu, justamente  por possível tentativa de obstrução do competente e importante trabalho da Operação Lava-Jato,  que faz uma espécie de depuração de fatos irregulares oriundos da corrupção que teria sido arquitetada, nutrida e se agigantada exatamente no governo dele, fato que contradiz com o sentimento de probidade e de honestidade, eis que a Petrobras foi aparelhada com a aquiescência do Palácio do Planalto, sob o comando do ex-presidente, que agora precisa explicar à Justiça que é inocente e não tem culpa quanto aos fatos objeto da denúncia de obstrução da Justiça, que é tão grave quanto aos crimes de corrupção propriamente, que os réus agora arrolados pretendiam esconder do alcance das investigações.
É lamentável que o ex-presidente tenha sido alcançado pela Justiça, agora arrolado, primeira vez, como réu, mas se trata de importante oportunidade para que ele possa reafirmar e comprovar tudo o que tem dito e frisado que é a pessoa mais honesta do planeta ou, então, a sua tese, até agora defendida com todo ardor, cairá por terra e o seu futuro político será sepultado em definitivo, com o que ele poderá passar para a história como sendo o presidente da República brasileiro mais festejado e prestigiado dos tempos contemporâneos que perdeu seu brilho graças ao infortúnio de seus atos contrários à dignidade e à nobreza dos verdadeiros homens públicos, que jamais se envolvem com o submundo da delinquência.
A decisão do juiz federal, no presente caso, é de suma importância para a história política brasileira, uma vez que os esclarecimentos sobre os fatos denunciados, que não permitem subterfúgios ou artificialismo demagógico, vão contribuir para pôr às claras as verdades reais, que insistem em se esconder sob os escombros dos malfeitos que são a marca registrada dos governos petistas, segundo os fatos revelados, em especial, pela competente e persistente Operação Lava-Jato. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de julho de 2016

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