segunda-feira, 18 de julho de 2016

O segredo dos e-mails


Segundo reportagem publicada em O Globo, a construtora Odebrecht adquiriu, em junho de 2010, um prédio em São Paulo, que tinha por finalidade sediar nele o Instituto Lula, à vista do que foi apurado pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, que esclarece que a compra fora feita em nome da DAG Construtora, de Salvador, cujo proprietário é amigo e parceiro de negócios do dono da referida empreiteira, que se encontra preso.
Segundo as investigações, a família do ex-presidente tinha conhecimento dos planos sobre o uso do prédio para o instituto dele, uma vez que um projeto de reforma do imóvel, abrangendo auditório, sala para exposição e até apartamento com cinco suítes, na cobertura, foi localizado numa pasta cor de rosa endereçada à ex-primeira-dama, apreendida pela Polícia Federal, no início deste ano, no sítio de Atibaia (SP), que era usado pelo petista e sua família.
O conteúdo da pasta e as negociações para compra do prédio são descritas num relatório de análise da Polícia Federal, que O Globo teve acesso.
Em que pese o prédio ter sido efetivamente adquirido pela citada empresa, a sede do Instituto Lula terminou sendo instalada no prédio do antigo Instituto Cidadania, no Ipiranga, onde permanece até os dias atuais. A desistência do projeto original de uso ocorreu depois da descoberta de que o imóvel estava envolvido em pendências judiciais dos antigos proprietários.
A Polícia Federal também apreendeu na residência do ex-presidente e-mails impressos com indicação de que a negociação do prédio, com a área construída de 5.268 m², foi feita com a participação efetiva de um advogado amigo do petista, que costuma assessorar negócios imobiliários dele, inclusive na aquisição do sítio de Atibaia, por dois amigos do filho do ex-presidente.
Segundo O Globo, os e-mails apreendidos contêm os preços de venda do prédio, no valor de R$ 10 milhões, e das dívidas pendentes, no montante de R$ 2,3 milhões.
Os peritos concluíram que o projeto da pasta cor de rosa “refere-se à reforma do imóvel da Rua Haberbeck Brandão, 178”, na Vila Clementino, e o “terreno foi objeto de negociação para atender os interesses do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
Também foi apreendido, na residência do petista, um contrato de opção de compra, onde consta como vendedora a então proprietária do imóvel em questão, e como comprador um pecuarista, amigo e compadre do ex-presidente.
A data é anterior à venda para a Odebrecht, e quem assina o contrato é o advogado amigo do petista. Ouvido pela Polícia Federal, o pecuarista afirmou que não quis participar do negócio, ficando a compra do imóvel pela DAG.
A Polícia Federal menciona documento apreendido na construtora Odebrecht, que aponta a compra de um terreno da ASA para construção do “prédio do Instituto”, diz que o preço foi abaixo do escriturado e há eventuais riscos de que a DAG ficaria exposta devido às dívidas relacionadas ao imóvel.
Em outro e-mail de setembro de 2010, apreendido nas investigações e divulgado em maio deste ano pelo jornal Valor, o ex-presidente da Odebrecht afirma que “Preciso mandar uma atualização sobre o novo prédio para o Chefe amanhã. Qual a melhor maneira?”, tendo como destinatário um braço-direito do ex-ministro da Casa Civil do governo do petista.
Trata-se outro caso emblemático colocando o todo-poderoso, mais uma vez, no olho do furacão das falcatruas que nunca tem fim, porquanto a vasta documentação apreendida na residência do petista e na Odebrecht mostra, com riqueza de detalhes, que o imóvel em questão seria mais um daqueles famosos agrados de construtora investigada pela Operação Lava-Jato, por seu envolvimento na roubalheira na Petrobras.
Apesar de a negociação não ter concluída como planejado, em termos de efetivação da entrega do imóvel reformado para o uso do instituto do ex-presidente, as fortes evidências da transação em tela mostram o quanto há de nebuloso e inescrupuloso nesse affaire, diante da tentativa de a construtora que tem negócios com o governo querer agradar o principal político do país com valioso imóvel, que, mesmo assim, jura ser o homem mais honesto do planeta, embora os fatos conspirem contra essa falácia.
Os brasileiros precisam repudiar os homens públicos que, de maneira persistente, procuram encarnar a indefensável ideia da honestidade, da lisura, quando os fatos relacionados a eles evidenciam, com robustas provas documentais, a verdadeira imagem que reflete a sua figura nada limpa, cujos procedimentos e atitudes consubstanciam a contraposição dos princípios da probidade, moralidade e dignidade, à vista da existência de elementos que apontam para a direção da negação das afirmações nada convincentes a justificar a lisura e a honestidade, cujos conceitos seriam facilmente confirmados com a simples ausência de substanciosas provas materiais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 18 de julho de 2016

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