Segundo reportagem publicada em O Globo, a
construtora Odebrecht adquiriu, em junho de 2010, um prédio em São Paulo, que
tinha por finalidade sediar nele o Instituto Lula, à vista do que foi apurado
pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, que esclarece que a compra fora feita
em nome da DAG Construtora, de Salvador, cujo proprietário é amigo e parceiro
de negócios do dono da referida empreiteira, que se encontra preso.
Segundo as investigações, a família do
ex-presidente tinha conhecimento dos planos sobre o uso do prédio para o
instituto dele, uma vez que um projeto de reforma do imóvel, abrangendo auditório,
sala para exposição e até apartamento com cinco suítes, na cobertura, foi
localizado numa pasta cor de rosa endereçada à ex-primeira-dama, apreendida
pela Polícia Federal, no início deste ano, no sítio de Atibaia (SP), que era
usado pelo petista e sua família.
O conteúdo da pasta e as negociações para compra do
prédio são descritas num relatório de análise da Polícia Federal, que O Globo
teve acesso.
Em que pese o prédio ter sido efetivamente adquirido
pela citada empresa, a sede do Instituto Lula terminou sendo instalada no
prédio do antigo Instituto Cidadania, no Ipiranga, onde permanece até os dias
atuais. A desistência do projeto original de uso ocorreu depois da descoberta
de que o imóvel estava envolvido em pendências judiciais dos antigos
proprietários.
A Polícia Federal também apreendeu na residência do
ex-presidente e-mails impressos com indicação de que a negociação do prédio,
com a área construída de 5.268 m², foi feita com a participação efetiva de um
advogado amigo do petista, que costuma assessorar negócios imobiliários dele, inclusive
na aquisição do sítio de Atibaia, por dois amigos do filho do ex-presidente.
Segundo O Globo, os e-mails apreendidos contêm os
preços de venda do prédio, no valor de R$ 10 milhões, e das dívidas pendentes,
no montante de R$ 2,3 milhões.
Os peritos concluíram que o projeto da pasta cor de
rosa “refere-se à reforma do imóvel da
Rua Haberbeck Brandão, 178”, na Vila Clementino, e o “terreno foi objeto de negociação para atender os interesses do então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
Também foi apreendido, na residência do petista, um
contrato de opção de compra, onde consta como vendedora a então proprietária do
imóvel em questão, e como comprador um pecuarista, amigo e compadre do
ex-presidente.
A data é anterior à venda para a Odebrecht, e quem
assina o contrato é o advogado amigo do petista. Ouvido pela Polícia Federal, o
pecuarista afirmou que não quis participar do negócio, ficando a compra do
imóvel pela DAG.
A Polícia Federal menciona documento apreendido na
construtora Odebrecht, que aponta a compra de um terreno da ASA para construção
do “prédio do Instituto”, diz que o preço foi abaixo do escriturado e há
eventuais riscos de que a DAG ficaria exposta devido às dívidas relacionadas ao
imóvel.
Em outro e-mail de setembro de 2010, apreendido nas
investigações e divulgado em maio deste ano pelo jornal Valor, o ex-presidente da Odebrecht afirma que “Preciso mandar uma atualização sobre o novo
prédio para o Chefe amanhã. Qual a melhor maneira?”, tendo como destinatário
um braço-direito do ex-ministro da Casa Civil do governo do petista.
Trata-se outro caso emblemático colocando o todo-poderoso,
mais uma vez, no olho do furacão das falcatruas que nunca tem fim, porquanto a
vasta documentação apreendida na residência do petista e na Odebrecht mostra,
com riqueza de detalhes, que o imóvel em questão seria mais um daqueles famosos
agrados de construtora investigada pela Operação Lava-Jato, por seu
envolvimento na roubalheira na Petrobras.
Apesar de a negociação não ter concluída como
planejado, em termos de efetivação da entrega do imóvel reformado para o uso do
instituto do ex-presidente, as fortes evidências da transação em tela mostram o
quanto há de nebuloso e inescrupuloso nesse affaire, diante da tentativa de a construtora
que tem negócios com o governo querer agradar o principal político do país com
valioso imóvel, que, mesmo assim, jura ser o homem mais honesto do planeta,
embora os fatos conspirem contra essa falácia.
Os brasileiros precisam repudiar os homens públicos
que, de maneira persistente, procuram encarnar a indefensável ideia da
honestidade, da lisura, quando os fatos relacionados a eles evidenciam, com
robustas provas documentais, a verdadeira imagem que reflete a sua figura nada
limpa, cujos procedimentos e atitudes consubstanciam a contraposição dos
princípios da probidade, moralidade e dignidade, à vista da existência de elementos
que apontam para a direção da negação das afirmações nada convincentes a
justificar a lisura e a honestidade, cujos conceitos seriam facilmente
confirmados com a simples ausência de substanciosas provas materiais. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 18 de julho de 2016
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