quarta-feira, 20 de julho de 2016

Oportunidade perdida?


O prefeito da cidade do Rio de Janeiro disse, a poucos dias da abertura da Olimpíada, que os jogos são “uma oportunidade perdida”, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, tendo ressaltado que as crises econômica e política e os recentes casos de corrupção como prejudiciais às imagens daquela cidade e do Brasil.
Ele foi enfático em afirmar ao periódico britânico que “É uma oportunidade perdida. Nós não estamos nos apresentando bem. Com toda essa crise econômica e política, com todos esses escândalos, não é o melhor momento para estar com os olhos do mundo voltados para nós. Isso é ruim. Os Jogos Olímpicos são uma grande inspiração para que as coisas sejam feitas”.
Em que pese o prefeito tenha reconhecido a “oportunidade perdida”, ele se mostrou irritado com a imagem projetada do Rio de Janeiro no exterior, em especial no que se relaciona com o vírus zika, por ter desencorajado alguns atletas a participarem do maior evento esportivo do mundo, e a violência na capital fluminense.
O prefeito reclamou do exagero sobre os fatos publicados mundo afora, de que “Se você lê a mídia internacional, parece que tudo por aqui é zika e pessoas atirando umas nas outras”, como se não tivesse outro assunto para ser enfocado sobre a Cidade Maravilhosa.
Há poucos dias, ele declarou à rede americana CNN que “o assunto mais sério do Rio”, a segurança pública, o governo estadual “está fazendo um trabalho terrível, horrível. O governo está falhando completamente em seu trabalho de policiar e cuidar das pessoas”, deixando patenteado o estado desastroso da segurança pública na cidade sede da Olimpíada, em contraposição aos princípios de paz e harmonia primados pelo encontro de atletas do mundo, já quase civilizado e livre dos horrores da falta de segurança.
Não há a menor dúvida de que os aspectos abordados pela imprensa mundial, no que dizem respeito principalmente à saúde e segurança de vidas humanas, são realmente assombrosos e preocupantes, exatamente porque eles mexem com a consciência das pessoas sensatas, que vivem em lugares cujos governantes têm responsabilidade com o bem-estar das pessoas, em especial quanto à saúde e à segurança públicas, que são indispensáveis para quem entende que isso já faz parte, há bastante tempo, do mundo civilizado e evoluído, ante as conquistas históricas da humanidade.
O terrível e horroroso trabalho do governo pode e deve ser criticado normalmente tanto por quem governa a cidade da Olimpíada como também pela imprensa mundial, em benefício da verdade, principalmente, nesse particular, para alertar, com absoluta propriedade, como é do seu primordial dever, que as situações de saúde e segurança públicas são efetivas e realmente caóticas, calamitosas e preocupantes, de modo a avisar, de forma zelosa e preventiva, às pessoas a existência do iminente perigo e do risco de vida no desembarque à cidade que já foi considerada mundialmente como “Maravilhosa”, evidentemente por suas belezas naturais, que foram destruídas graças à ação e à força maléficas da marginalidade, que possui quadrilhas extremamente preparadas para infernizar a vida dos cariocas e dos turistas, que não se cansam de registrar os maus-tratos e a insegurança, que, de maneira inexorável, fazem parte do dia a dia daquela cidade.
Não se trata de oportunidade perdida, como quer mostrar o prefeito da “Cidade Maravilhosa”, mas de oportunidade que jamais deveria ter sido idealizada, diante das ingente e montuosa necessidades da população, que vem padecendo, de forma cruel, pela monstruosa incompetência dos administradores públicos, que privilegiaram, de forma irresponsável, a Copa do Mundo de Futebol e a Olimpíada, sem prévios estudos técnicos sobre os impactos, entre outros, econômico-financeiros, quanto às prioridades da população, preferindo despejar montanhas de recursos em obras absolutamente desnecessárias, inúteis e dispendiosas.
À toda evidência, os aludidos eventos não atendem ao interesse público, por não satisfazerem às necessidades da população, e ainda desviaram e retiram recursos de onde tem realmente carência, exatamente em razão da patente escassez de recursos, cujas obras megalomaníacas contribuíram e vão continuar contribuindo para dificultar ainda mais a vida dos brasileiros carentes, diante da falta de dinheiro para novos projetos em seu benefício.
Realmente, os eventos que nunca deveriam ter sido pensados antes da solução das carências dos brasileiros, vão constituir oportunidade não perdidas, mas lamentáveis diante de investimentos onde foram jogados pelos ralos do desperdício e da incompetência dos homens públicos, que demonstraram infinitas insensatez e irresponsabilidade, em assumir compromissos contrários ao interesse da população, que tem sim prioridade quanto à prestação de serviços públicos substanciosos e de qualidade, em contraposição às cristalinas precariedades que são expostas tanto nacional como internacionalmente.
Diante da demonstração do desvio de recursos públicos para obras estranhas ao interesse público, é dever dos órgãos de controle e fiscalização, na forma da competência constitucional e legal, apurar as responsabilidades pelos danos causados aos brasileiros, de modo que os culpados possam ser condenados pelos desperdícios de recursos, como forma de reparação dos danos apurados e da importante precaução para se evitar a reincidência de casos futuros semelhantes, servindo como lição pedagógica no sentido de os recursos públicos terem, necessariamente, a aplicação prioritária em projetos e atividades relacionados ao interesse público e ao bem comum da população, com embargo de obras e eventos megalomaníacos contrários ao desenvolvimento socioeconômico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 20 de julho de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário