sexta-feira, 8 de julho de 2016

Rituais anacrônicos


O presidente do Tribunal Superior Eleitoral acredita que até setembro deve ser finalizada a produção de novas provas nas ações em que a oposição pede a cassação dos mandatos da presidente da República afastada e do presidente interino, constantes de quatro processos que são relatados pela mesma relatoria.
Ele disse que "Estamos trabalhando na instrução e na perícia. Estimamos talvez para setembro, se não houver outros incidentes, que possamos estar nos avizinhando da finalização da instrução. Depois virão essas questões de ordem". Em abril deste ano, a ministra-relatora determinou nova produção de provas nas ações.
Com relação à possibilidade da inclusão nos processos de informações de novas delações premiadas, contendo elementos sobre a campanha da presidente afastada, o ministro afirmou que o tribunal já dispõe das discussões sobre as chamadas doações-propinas e que "aquele condicionamento e tudo mais. Isso já estava na impugnação".
O magistrado também esclareceu que o próprio juiz de Curitiba já está compartilhando parte significativa das provas existentes na Justiça Eleitoral, tendo arrematado que "(...) Portanto, isso poderá eventualmente ser usado. Os pedidos já tinham sido feitos no sentido de que havia impropriedades no financiamento da campanha. Isso certamente será contemplado no momento oportuno".
O ministro esclareceu ainda que não há prazo determinado para o julgamento das ações e que o Justiça Eleitoral vai institucionalizar modelo de análise das contas sob a sua jurisdição, nos moldes das instruções empregadas nas contas em referência, ou seja: "Estamos institucionalizando isso no TSE. A partir de agora, passamos a ter um núcleo de inteligência que vai nos ajudar e vamos sistematizar isso.".
Para tanto, a Justiça Eleitoral vem contando com a colaboração do Tribunal de Contas da União, da Receita Federal, do Banco Central do Brasil, da Polícia Federal e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), de modo que, segundo o magistrado, o trabalho conjunto ajuda a fazer o cruzamento de informações importantes. Ele disse que "Estamos realmente aprimorando. A prestação de conta já se dá com processo eletrônico. Isso vai nos permitir também fazer os batimentos e cruzamentos com os bancos de dados dessas instituições conveniadas.".
Tudo indica que a Justiça Eleitoral vem fazendo o trabalho da sua competência constitucional e legal, mas fica muito evidente que a demora para se decidir sobre questões de suma importância para o destino dos brasileiros não se compadece com os princípios da modernidade e da evolução da humanidade, que exigem o aperfeiçoamento das técnicas de julgamento dos tribunais, que não podem ficar presos a anacrônicos rituais que permitem, sem justificativas plausíveis, que as demandas permaneçam meses e anos na dependência de diligências quase sempre infrutíferas, em indiscutível prejuízo para o interesse público e a dinâmica da modernidade dos acontecimentos.
No caso sob análise, diante das alentadas informações noticiadas pela imprensa, dando conta das inumeráveis delações premiadas confirmando o repasse de dinheiro sujo para a campanha à reeleição da petista, a sociedade sente-se frustrada com tantas manobras que fazem com que os processos que apuram as irregularidades eleitorais nunca se concluam em tempo razoável.
Conviria que as conclusões das apurações acontecessem logo em seguida às denúncias sobre os fatos infracionais, mas é comum que muitos casos ultrapassam o término do mandato dos envolvidos, fazendo com que os esforços materiais e financeiros se tornem perdidos e infrutíferos, porque o objetivo preconizado pelo julgamento, no que pertine à absolvição ou condenação dos culpados, não seja  alcançado, deixando de surtir os efeitos pedagógicos das medidas, com vistas à precaução sobre a reincidência de casos semelhantes futuros.
A sociedade nutre a esperança de que a riqueza e a exuberância de exemplos de entulhos da burocracia, do cipoal legislativo e, enfim, de tudo que constitui retrocesso e obsoletismo contrários à celeridade da eficiência e do progresso contribuam para a urgente reformulação, em especial do ordenamento jurídico, de modo a se permitir que os julgamentos do Poder Judiciário sejam realizados, mesmo com a observância do direito da ampla defesa e do contraditório, em prazos razoáveis, como já fazem as nações civilizadas e evoluídas democraticamente, sempre em benefício do interesse público, sem perda de tempo, tendo como principal objetivo a reparação dos danos à sociedade com a maior celeridade possível. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
        Brasília, em 08 de julho de 2016

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