quinta-feira, 28 de julho de 2016

Empirismo de planejamento


Embora com discreta festa, foi recepcionado pelo Comando da Aeronáutica o Boeing 767-300ER, alugado nos EUA, para recuperar a capacidade da Força Aérea em transporte logístico, ajuda humanitária e de atuação em missões diplomáticas.
O grande jato tem alcance intercontinental, podendo cobrir a rota Brasília-Tóquio com única escala e recebe até 257 passageiros, já tendo seu emprego pela FAB durante a Olimpíada.
O valor do contrato de três anos, com renovação automática por mais um ano, é, pasmem, de US$ 19,7 milhões, a ser pago em quatro parcelas. A seleção do fornecedor, a Colt Transporte Aéreo S/A, foi feita por meio de licitação, cujo negócio cobre áreas de suporte técnico e o seguro da aeronave.
O novo jato de longo alcance é o substituto do Sucatão, o Boeing KC-137, versão militar do clássico modelo707 civil. Na configuração da FAB, foi usado por 27 anos para reabastecimento em voo e também como avião presidencial até a administração do ex-presidente petista. Em 2005, o governo decidiu comprar o Airbus A319.
O Boeing 767-300ER pode levar até 38 toneladas de carga e tem 100 assentos a mais que o 707. Será possível realizar missões de resgate de brasileiros, em casos de emergência.
Nem precisa ser especialista sobre aeronave para se perceber o exagero na escolha de aeronave com característica pouco usual, dando a impressão do desperdício de recursos, uma vez que a aeronave em apreço será pouco utilizada, por não se enquadrar nas missões normais do dia a dia, porquanto o seu uso será feito em casos excepcionais e não parece justificável que locação tão dispendiosa fique à mercê de situações esporádicas ou excepcionais, evidenciando o empirismo do planejamento público, salvo melhor juízo. 
A alocação de aeronave caríssima contradiz a realidade brasileira, onde pacientes morrem por falta de transporte populares, para o seu socorro e ainda vem o governo com essa de alocar avião, por preço exorbitante, para satisfazer as desenfreadas benesses palacianas ou os interesses estranhos às necessidades da população, como se o país estivesse às mil maravilhas, nadando em superávit orçamentário, sem qualquer carência de assistência social.
Pobre país que despreza as prioridades na gestão dos recursos públicos, por gastar sem a menor preocupação com as prioridades da população.
Urge que o governo justifique a real necessidade da alocação de aeronave, por preço tão significativo, quando têm tantas prioridades a serem atendidas bem antes da contratação em apreço.
Convém que o governo, isto sim, incentive a prata da casa, promovendo maciços investimentos na indústria aeronáutica genuinamente brasileira, de modo a se possibilitar que o país possa produzir suas próprias aeronaves, nas condições adequadas às suas operações de transportes, com vistas ao atendimento das reais necessidades nacionais, cujas medidas ainda têm o condão de contribuir para o incremento do emprego para os brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 28 de julho de 2016

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