domingo, 3 de julho de 2016

Tesoureiro, o temor?


Nos idos de 2005, quando da descoberta das ligações entre o então responsável pelas finanças do Partido dos Trabalhadores e o empresário que deu início ao mensalão, processo que levaria à ruína líderes históricos do PT, como o ex-ministro da Casa Civil e o então presidente do partido, o delator desse famigerado caso teria alertado o então presidente da República nestes termos: "Presidente, o Delúbio vai botar uma dinamite na sua cadeira.”.
O tempo passou, mas a palavra "tesoureiro" somente tem a capacidade de provocar calafrios nos dirigentes e militantes do PT, a exemplo do que vem acontecendo, na atualidade, com a persistente Operação Lava-Jato, uma espécie de eterno pesadelo que se transformou em realidade que incomoda toda cúpula do PT, com a terrível situação do tesoureiro que assumiu a tesouraria do PT em 2010 e está preso desde 2015.
Ele tem sinalizado que pode fazer delação premiada, para se livrar da prisão, a qual tem sido considerada pelas autoridades como de fundamental importância para montar o quebra-cabeça de drenagem de recursos da Petrobras para irrigar as contas do PT e de suas campanhas.
Esse fato tem tirado o sono das lideranças petistas, diante da possibilidade de as revelações de seu ex-tesoureiro mostrarem a verdade sobre a podridão ética e moral que vêm sendo escondida sob as ridículas alegações de que os recursos recebidos pelo partido seguem rigorosamente a regularidade para a espécie.  
Desta feita, outro ex-tesoureiro, o que foi sucedido pelo que se encontra preso, que ocupou o cargo de 2005 a 2010, se transforma oficialmente em alvo da Operação Lava-Jato. O nome dele já havia sido citado no depoimento de um empreiteiro à Justiça Federal, em março de 2015. Agora, ele é alvo de mais nova fase da operação. Ele é considerado o homem-ponte entre o mensalão e o chamado petrolão, o esquema na Petrobras.
Antes mesmo da conclusão das investigações e dos veredictos da Justiça, a inclusão definitiva desse ex-tesoureiro entre os alvos da Lava-Jato mostra que, para além dos nomes e dos personagens, o cargo de tesoureiro do PT embutia uma função estratégica num sistema pré-estabelecido pelo partido e suas engrenagens de financiamento, assumindo, com isso, a inevitável função de fiel depositário de paiol de dinamite que pode explodir a qualquer momento.     
Por sua vez, parece bastante estranho que o PT se assuste com a simples palavra tesoureiro, que é o guardião da dinheirama do partido, que tem se manifestado, sempre quando há denúncia de propina em favor dele, no sentido de que os recursos por ele recebidos são legais, porque registrados na sua contabilidade e aprovados pela Justiça Eleitoral, tudo em consonância com as normas de regência.
Diante disso, é inadmissível que o partido se preocupe com a figura do tesoureiro, porque isso dá a ideia de que pode ter algo errado ou ilegítimo na atuação dele.
É verdade que quem não deve não teme, mas o temor do PT denuncia a sua falta de convicção quanto à legalidade do funcionamento da sua tesouraria, principalmente à vista da situação representada por seus tesoureiros, que foram condenados, sendo que um se encontra preso, mas, nos casos denunciados, não houve nenhuma contestação com elementos irrefutáveis e convincentes, apenas as mesmas alegações de praxe, de que o partido somente recebe doações legais. 
Urge que a sociedade exija que os partidos políticos sejam obrigados a prestar contas sobre as doações e financiamentos de campanha, de modo que a legitimidade do procedimento seja confirmada com a indicação da fonte dos recursos, mediante documentos idôneos, independentemente dos registros contáveis pertinentes e das informações à Justiça Eleitoral sobre os gastos realizados. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de julho de 2016

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