domingo, 24 de julho de 2016

A renúncia como presente



Em harmonioso encontro entre os chefes do Executivo e do Legislativo, quando tudo transcorria sob o clima de meras amenidades não muito próprio nas movimentadas relações políticas de Brasília, eis que o presidente do Senado Federal tratou de animar o momento, ao fazer revelação inesperada e de extrema importância de que a presidente afastada teria jogado a toalha e admitido não ter mais chances de impedir a aprovação do impeachment na Câmara Alta.
O senador alagoano disse que ouviu da presidente afastada declaração, em tom de desabafo, de que, in verbis: “Quero acabar logo com essa agonia”.
O presidente do Senado é considerado “político de Brasília”, por sempre estar ao lado do poder, tendo sempre merecido a confiança e a amizade das principais autoridades da República e não tem o menor escrúpulo para se bandear para perto de quem melhor possa atender às suas conveniências políticas.
Não faz muito tempo, ele se empenhava em afastar o presidente interino da presidência do PMDB, o que poderia distanciá-lo do Palácio do Planalto, o que o deixaria sem condições de ocupar a principal poltrona do poder, com o conforto que ele desfruta agora.
Mesmo integrando os quadros do PMDB, que já não mais formava aliança com o PT, o alagoano desfilava, meses atrás, com os poderes de principal general da batalha da petista, na tentativa de blindá-la contra o impeachment.
Encarando o clima de “político de Brasília”, o alagoano é autêntico termômetro capaz de identificar a temperatura do poder e a sua conversa, em tom de confidencialidade com o presidente em exercício, com quem nem sempre manteve grande simpatia, demonstra a certeza de que é bastante improvável o retorno da petista ao Palácio do Planalto.
Diante do quadro delineado na atualidade, em que os ventos sopram em favor do presidente interino, quando os fatos e acontecimentos estão se encaixando sem maiores embaraços, a premonição do alagoano de se agasalhar em local seguro não chega a ser nenhum fato extraordinário, à vista da dificuldade de se encontrar alguém no Congresso Nacional, mesmo do PT, que ainda acredite na volta da presidente ao governo, em que pese a opinião pública mostrar, em mais de 60% do eleitorado, preferência pela realização de nova eleição presidencial.
Não se pode ignorar que o presidente interino, em pouquíssimo tempo no governo, conseguiu implantar na administração do país clima favorável à estabilidade na política e na economia, que favorece, no seio da sociedade, sua permanência no poder, a ponto de políticos acenarem por vitória folgada da parte do atual governo, no julgamento do processo de impeachment.
Também não é novidade que, com vistas à consolidação da maioria folgada favorável ao impeachment, o governo cuida de agradar os congressistas, com no­meações de pessoas indicadas por deputados e senadores de sua base de apoio, para a ocupação de cargos públicos, no segundo e terceiro escalões, como forma de sacramentar a distribuição de cargos federais entre parlamentares, dando continuidade à velha, surrada e sempre abominável política vergonhosa do toma lá, dá cá, que nunca vai ter fim.
Se é verdade que a presidente afastada teria dito que “Quero acabar logo com essa agonia”, ela, como ninguém, tem infinito poder para dar cabo ao seu martírio, que, na verdade, é muito mais dos brasileiros que repudiam a incompetência, a desmoralização e a ineficiência administrativas.
Se realmente ela quisesse acabar com sua angústia e a dos brasileiros, não hesitaria em decidir pelo ato mais nobre que um estadista de verdade, reconhecedor da sua incompetência, faz com altruísmo e respeito à nação, qual seja, apresentar sua renúncia ao cargo que ocupa, que certamente representaria enorme contribuição para ela e a nação, o qual apenas desagradaria aos seguidores dela, que já se acostumaram com idolatria à incompetência na administração do país.
Nas circunstâncias, a presidente afastada já foi capaz de destruir os princípios da administração pública, sobretudo no que diz respeito às políticas econômicas, que foram colocadas impiedosamente à lona, capitaneada pela terrível recessão e pelo desastre do desemprego, além de todas mazelas representadas pela pior qualidade dos serviços públicos, que muito bem seriam recompensados pela feliz ideia de renúncia da petista, que passaria para a história como a presidente que teve a dignidade de reconhecer a sua incapacidade para comandar o país com as potencialidades econômicas do Brasil.
Não há a menor dúvida de que a renúncia da presidente afastada funcionária como extraordinário presente para os brasileiros, em recompensa por tudo de ruim que a sua gestão foi capaz de produzir em prejuízo dos interesses nacionais, que foram reduzidos à sua menor significância, em termos dos princípios da moralidade, dignidade, legalidade, economicidade, transparência, eficiência e eficácia. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
            Brasília, em 24 de julho de 2016

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