quinta-feira, 14 de julho de 2016

O pagamento da mediocridade


Nas conversas reservadas entre amigos, o ex-presidente da República petista atribui a ele e ao partido menor parcela de culpa do que a da presidente afastada pelos erros que levaram a defenestração do PT do poder, por causa, segundo o petista, a partir da perda do controle da economia e do apoio dos empresários ao governo petista, fatos que contribuíram para que os políticos se rebelassem contra ela.
Numa conversa com um cacique petista, Lula ouviu que todos eles e o PT pagariam agora por seus erros políticos. Numa junção de culpa, o ex-presidente entende que cabiam a ele e ao partido o pagamento de 30% da responsabilidade pelos erros políticos e econômicos, ficando os 70% restantes para ser computados na conta da petista, em clara demonstração de desprezo por quem a elegeu, em 2010, e a apoiou na reeleição, mesmo ciente das pesadas e incontestes críticas que tinham contra o governo dela.
Os desafios do ex-presidente e do PT parecem intransponíveis, diante da dimensão dos erros atribuídos a eles, justamente por terem surgidos com ideias bastantes nobres de correção, sobretudo em defesa da ética, mas os fatos não resistem à autocrítica assombrosa de muitos agravantes pelo elenco de maldades que contradizem completamente a ideologia em nome da ética e da moralidade.
Na opinião do ex-presidente, a presidente afastada realmente tem parcela significativa de culpa, por ter contrariado as cobranças na aplicação de receituário nos moldes do pensamento do partido, cujo resultado da economia é uma das principais causas da ruína petista, que naufragou com o adjutório das dificuldades para interpretar a real importância do equilíbrio fiscal, que foi ignorado o tempo todo, a ponto de resultar no estrondoso rombo das contas públicas.
Não há dúvida de que a desastrada condução da política fiscal foi mortal para a gestão petista, tanto que o ex-presidente insistia para que o atual ministro da Fazenda tivesse integrado o governo da presidente afastada, mas ela resistia sempre, em nome de desentendimento havido entre ambos, no passado.
No momento, o ex-presidente tem dificuldade para vencer o pesadelo e o desafio para responder às acusações no âmbito da Operação Lava-Jato, tendo que responder às investigações em Brasília e Curitiba.
Na verdade, ele somente conseguirá se apresentar como candidato do partido à Presidência da República se livrar das acusações que pesam sobre ele, no sentido de ter se beneficiado de vantagens oriundas do desvio de dinheiro da Petrobras, conforme as reformas realizadas em imóveis vinculados a ele, mesmo diante das negativas sobre as propriedades deles.
Até o momento, o ex-presidente tem conseguido somente negar os fatos, apenas com afirmação sem provas, sem a apresentação de elementos consistentes para demover as comprovações documentais levantadas pela força-tarefa da citada operação.
O ex-presidente poderia fazer verdadeira autocrítica se reconhecesse que o governo petista teria conseguido destruir as estruturas do Estado, contribuído para sepultar as esperanças dos brasileiros e ajudado à construção da terrível recessão econômica, que propiciou o estrondoso aumento do desemprego, da desindustrialização, da alta da inflação e dos juros, da retração do consumo, da redução do salário, da precariedade dos serviços públicos, da diminuição da arrecadação, da inexistência de investimentos em obras indispensáveis ao desenvolvimento socioeconômico, entre outras precariedades que contribuíram para os rebaixamento, por agências de classificação, do grau de investimento do Brasil, fazendo com que houvesse debandada dos investidores estrangeiros.
Ou seja, falta dignidade ao ex-presidente para o reconhecimento dos graves erros da gestão petista e a assunção da culpa por tudo de ruim que foi realizado pelo governo, inclusive assumindo também a inércia, a omissão, por não ter realizado reforma de coisa nenhuma, embora o marasmo da administração pública tem como causa a falta de reformulação das conjunturas e estruturas do Estado, que se encontra na UTI, em termos de evolução administrativa, graças à manutenção do seu funcionamento nos moldes do modelo obsoleto, ultrapassado e retrógrado, onde prevaleceu como sistema administrativo o vergonhoso fisiologismo, em que os órgãos e as entidades públicos foram loteados entre aliados, como forma da obtenção de apoio no Congresso Nacional, fazendo com que a prestação dos serviços públicos perdessem qualidade, exatamente porque as principais políticas públicas foram executadas por dirigentes sem as capacidades e os preparos que se exigem na administração do país.
É absolutamente incompreensível a forma irresponsável como as lideranças petistas não assumem o mar de lama da corrupção, que soberanamente esteve sempre presente nos governos petistas, a começar pelo mensalão, surgido nos idos de 2005, e petrolão, com surgimento mais recente, mas deixando patente que foi o governo que conviveu permanentemente com o pesadelo da corrupção laureando negativamente seu histórico político, sempre com o envolvimento da cúpula do PT, que jamais assumiu os fatos irregulares, a exemplo do recebimento de dinheiro de propina, sempre considerado legal pelo partido, à vista da sua contabilização nos seus registros e da prestação de contas à Justiça Eleitoral, na forma da lei.
O certo é que, diante dos acontecimentos nefastos, no âmbito da administração do país, que são reconhecidos às claras por caciques do partido, embora sem os enumerar, os erros do PT são muitos e todos com enorme gravidade para os interesses dos brasileiros, os quais, à luz do bom senso e da racionalidade, sequer recomendariam a existência dele como partido, que somente deveria ser reconhecido como tal se comprovasse reputação e conduta ilibadas, o que não é o caso, porque a sua gestão tem como rastro o legado de muita incompetência e ineficiência, conforme demonstram os fatos, que falam por si sós, tudo contribuindo para a degeneração dos princípios da moralidade, dignidade, economicidade e legalidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 14 de julho de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário