sexta-feira, 15 de julho de 2016

A regra do jogo


Com base em projeções bem otimistas, os corruptos e corruptores conseguiram desviar recursos, no escândalo do petrolão, em torno de R$ 19 bilhões dos cofres da Petrobras, que foi, por muito tempo, verdadeiro paraíso para pessoas desonestas, tendo a participação de empreiteiros, servidores públicos e políticos inescrupulosos, já identificados como parceiros da quadrilha que fazia a partilha do dinheiro roubado.
Um lobista delator do abominável caso tentou explicar ao juiz responsável pela Operação Lava-Jato a essência do petrolão, tendo comparado, na visão dele, a corrupção na Petrobras à ilustração da figura do fruto proibido, em que os contratos eram como maçãs que os empreiteiros ansiavam saborear em sua plenitude, mas o que os impedia eram os partidos e os políticos da base do governo.
Ele disse que "É aquela história, olhar a maçã e dizer: 'Como vou pegar essa maçã? Tem uma regra do jogo que eu preciso atender. Do contrário, não vou comer a maçã' " e a "regra do jogo", o caminho mais curto para alcançar a árvore e apoderar-se dos frutos, como as investigações da Operação Lava-Jato já revelaram, era pagar propina.
Durante o mandato do ex-presidente e ao longo do primeiro mandato da presidente afastada, o PT se valeu do pomar para governar, tendo distribuído as maçãs como método, atalho que o partido encontrou para garantir a fidelidade dos amigos e seduzir eventuais adversários, os quais foram transformados em cúmplices de ato criminoso contra a sociedade.
Na atualidade, os convivas do fausto banquete estão sendo visitados pela Polícia Federal, como resultado das investigações, que já ajudaram à realização de prisões, buscas, apreensões em residências e escritórios de políticos e empresários suspeitos de corrupção no escândalo da Petrobras.
Entre os alvos inevitáveis se encontram parlamentares, ex-parlamentares, ex-ministros, empresários, inclusive ex-presidente da República, a exemplo do episódio mais emblemático visto até agora, como a ação que devolveu o noticiário político-policial da antológica visita à Casa da Dinda, a residência do ex-presidente alagoano afastado do poder, nos anos 90. Naquela casa, os policiais fizeram a maior devassa, com a apreensão de documentos, computadores e três luxuosos carros da frota particular do atual senador, sendo um Lamborghini Aventador top de linha (R$ 3,5 milhões), uma Ferrari vermelha (R$ 1,5 milhão) e um Porsche (R$ 700 mil), modelos somente exibidos por magnatas, em clara demonstração em tempos de esnobismo e bonança.
Segundo delações prestadas à Justiça, o presidente petista entregou ao senador alagoano duas diretorias da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras - a diretoria da Rede de Postos de Serviço e a de Operações e Logística – e, no comando desse feudo, segundo os investigadores, o senador construiu seu balcão particular de negócios dentro da maior estatal brasileira, o que lhe renderia milhões em dividendos, à vista das revelações dos fatos vindos à tona.
De acordo com depoimentos colhidos na Operação Lava-Jato, o esquema obedecia à simples lógica de que as empresas que assinassem contratos com a BR, antes teriam que acertar "a parte do senador", que se beneficiou de dezenas de contratos, muitos dos quais já foram identificados pela Polícia Federal, sendo um deles no valor de R$ 300 milhões, cujo empresário do ramo de combustíveis teria pago ao senador o valor de R$ 3 milhões em propina, para selar a compra de rede de postos em São Paulo, conforme revelação feita pelo doleiro, em acordo de delação premiada, que garante ter feito o suborno ao senador, por meio de "comissões" em dinheiro, depósitos diretos na conta do parlamentar e transferências para uma empresa de fachada que pertence ao parlamentar.
O gigantesco estrago causado ao patrimônio da Petrobras, perpetrado certamente com a cumplicidade do inexistente sistema de controle interno da estatal, contribuiu para a elevada participação na roubalheira em causa de inescrupulosos homens públicos, empresários, executivos e outros assemelhados delinquentes, que tinham a certeza da impunidade, à vista dos cuidados e do zelo do pomar de maçãs, que prosperava a ponto de muitos se deliciarem e se empanturrarem com essa tão deliciosa fruta. 
Diante da pouca-vergonha e da falta de pudor ínsitos nos envolvidos no escândalo do desvio de dinheiro da Petrobras, os brasileiros nutrem esperanças no sentido de que as investigações sejam concluídas o quanto antes e os julgamentos dos casos se realizem com as maiores brevidade e celeridade possíveis, na tentativa de exemplar condenação dos culpados pelos crimes perpetrados contra o patrimônio público e de que os resultados possam servir de lição pedagógica, com vistas à precaução contra a reincidência de casos futuros semelhantes. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de julho de 2016

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