Com
base em projeções bem otimistas, os corruptos e corruptores conseguiram desviar
recursos, no escândalo do petrolão, em torno de R$ 19 bilhões dos cofres da Petrobras,
que foi, por muito tempo, verdadeiro paraíso para pessoas desonestas, tendo a
participação de empreiteiros, servidores públicos e políticos inescrupulosos,
já identificados como parceiros da quadrilha que fazia a partilha do dinheiro
roubado.
Um
lobista delator do abominável caso tentou explicar ao juiz responsável pela
Operação Lava-Jato a essência do petrolão, tendo comparado, na visão dele, a
corrupção na Petrobras à ilustração da figura do fruto proibido, em que os
contratos eram como maçãs que os empreiteiros ansiavam saborear em sua
plenitude, mas o que os impedia eram os partidos e os políticos da base do
governo.
Ele
disse que "É aquela história, olhar
a maçã e dizer: 'Como vou pegar essa maçã? Tem uma regra do jogo que eu preciso
atender. Do contrário, não vou comer a maçã' " e a "regra do jogo", o caminho mais
curto para alcançar a árvore e apoderar-se dos frutos, como as investigações da
Operação Lava-Jato já revelaram, era pagar propina.
Durante
o mandato do ex-presidente e ao longo do primeiro mandato da presidente afastada,
o PT se valeu do pomar para governar, tendo distribuído as maçãs como método,
atalho que o partido encontrou para garantir a fidelidade dos amigos e seduzir
eventuais adversários, os quais foram transformados em cúmplices de ato criminoso
contra a sociedade.
Na
atualidade, os convivas do fausto banquete estão sendo visitados pela Polícia
Federal, como resultado das investigações, que já ajudaram à realização de
prisões, buscas, apreensões em residências e escritórios de políticos e
empresários suspeitos de corrupção no escândalo da Petrobras.
Entre
os alvos inevitáveis se encontram parlamentares, ex-parlamentares, ex-ministros,
empresários, inclusive ex-presidente da República, a exemplo do episódio mais
emblemático visto até agora, como a ação que devolveu o noticiário
político-policial da antológica visita à Casa da Dinda, a residência do
ex-presidente alagoano afastado do poder, nos anos 90. Naquela casa, os
policiais fizeram a maior devassa, com a apreensão de documentos, computadores
e três luxuosos carros da frota particular do atual senador, sendo um
Lamborghini Aventador top de linha (R$ 3,5 milhões), uma Ferrari vermelha (R$ 1,5
milhão) e um Porsche (R$ 700 mil), modelos somente exibidos por magnatas, em
clara demonstração em tempos de esnobismo e bonança.
Segundo
delações prestadas à Justiça, o presidente petista entregou ao senador alagoano
duas diretorias da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras - a diretoria
da Rede de Postos de Serviço e a de Operações e Logística – e, no comando desse
feudo, segundo os investigadores, o senador construiu seu balcão particular de
negócios dentro da maior estatal brasileira, o que lhe renderia milhões em
dividendos, à vista das revelações dos fatos vindos à tona.
De
acordo com depoimentos colhidos na Operação Lava-Jato, o esquema obedecia à
simples lógica de que as empresas que assinassem contratos com a BR, antes teriam
que acertar "a parte do senador",
que se beneficiou de dezenas de contratos, muitos dos quais já foram identificados
pela Polícia Federal, sendo um deles no valor de R$ 300 milhões, cujo empresário
do ramo de combustíveis teria pago ao senador o valor de R$ 3 milhões em
propina, para selar a compra de rede de postos em São Paulo, conforme revelação
feita pelo doleiro, em acordo de delação premiada, que garante ter feito o
suborno ao senador, por meio de "comissões" em dinheiro, depósitos
diretos na conta do parlamentar e transferências para uma empresa de fachada
que pertence ao parlamentar.
O
gigantesco estrago causado ao patrimônio da Petrobras, perpetrado certamente
com a cumplicidade do inexistente sistema de controle interno da estatal,
contribuiu para a elevada participação na roubalheira em causa de
inescrupulosos homens públicos, empresários, executivos e outros assemelhados
delinquentes, que tinham a certeza da impunidade, à vista dos cuidados e do
zelo do pomar de maçãs, que prosperava a ponto de muitos se deliciarem e se
empanturrarem com essa tão deliciosa fruta.
Diante
da pouca-vergonha e da falta de pudor ínsitos nos envolvidos no escândalo do
desvio de dinheiro da Petrobras, os brasileiros nutrem esperanças no sentido de
que as investigações sejam concluídas o quanto antes e os julgamentos dos casos
se realizem com as maiores brevidade e celeridade possíveis, na tentativa de
exemplar condenação dos culpados pelos crimes perpetrados contra o patrimônio público
e de que os resultados possam servir de lição pedagógica, com vistas à
precaução contra a reincidência de casos futuros semelhantes. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de julho de 2016
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