quarta-feira, 13 de julho de 2016

Pífio e melancólico legado


Bem antes da Copa do Mundo de 2014, na tentativa de justificar a realização do empreendimento no Brasil, o governo federal não se cansava de anunciar grande herança para os brasileiros, com a promessa da realização de expressivas obras de mobilidade urbana nas principais cidades.
Não obstante, para a frustração dos ávidos brasileiros, o que foi prometido pelo governo ficou apenas nisso, porque muito pouco se tornou realidade, notadamente porque a maioria dos projetos permanece, dois anos depois do término do torneio, dormitando no papel e constituindo melancólico legado de “mentiraço” próprio da gestão petista, devido ao descumprimento das promessas feitas às autoridades da Fifa e à ingênua população, que acreditaram nesse engodo.
Segundo levantamentos feitos pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) e pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), apenas 18% dos 125 projetos de mobilidade urbana relacionados à Copa do Mundo estão em operação, enquanto, na atualidade, existem 22 empreendimentos com obras iniciadas, mas a maioria se encontra parada, tendo como justificativas para as causas da ineficiência administrativa da execução das obras desde erros de projeto até falta de recursos.
Como a construção de metrôs se tornou cara e demorada, a alternativa tupiniquim surgiu por meio de vários projetos de mobilidade urbana, representados por BRT (Ônibus de Trânsito Rápido) e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que também não foram finalizados, embora muitos tenham sido iniciados.
O exemplo clássico de desperdício de dinheiro público é notado nas obras do VLT de Cuiabá (MT), que estão paradas desde dezembro de 2014, em razão de divergências entre o Estado e o consórcio construtor, que pede o valor “módico” de R$ 1,3 bilhão para concluir o projeto, que já consumiu, até o momento, pasmem, a expressiva quantia de R$ 1,06 bilhão. Auditoria do governo estadual garante que há necessidade de menos da metade daquele valor, da ordem de R$ 602 milhões. Por falta de entendimento, a questão se encontra, agora, na pendência da Justiça, sem previsão da retomada das obras, que seriam para a Copa do Mundo.
Enquanto isso, o BRT de Belém (PA) precisou ser readequado pela administração, diante da constatação de erros no projeto elaborado pela gestão anterior, uma vez que o desenho original não previa área para ultrapassagem dos ônibus. Os erros obrigaram o cancelamento das licitações e a elaboração de novos contratos, fatos que contribuíram para atrasar a liberação de recursos e a retomada das obras.
A falta de recursos foi a principal causa da substituição de projeto de BRT por meros corredores de ônibus. Um especialista em mobilidade urbana concluiu que “Estão levando muito tempo para uma obra simples e que, depois de pronta, não atende às necessidades da população”, ou seja, a improvisação está causando desperdício de recursos, justamente pela realização de obras que não atendem às carências da população.
Diante dos fatos, fica muito evidente que a falta de recursos para os projetos é sintoma também de mau planejamento e ausência de estudos técnicos adequados, em clara demonstração da falta de preparo dos administradores públicos, que não têm competência para o desempenho de cargos públicos relevantes.
O principal exemplo da desqualificação administrativa fica patenteada na estimativa da disponibilização, por parte do governo federal, do valor de R$ 150 bilhões para a mobilidade urbana, sem que houvesse qualquer previsão sobre a participação de recursos dos estados e municípios, sabidamente pela incapacidade deles para investir nas obras pertinentes. Atentando-se ainda para o fato de que não havia previsão de recursos para as desapropriações necessárias à realização de empreendimentos que nem começaram, uma vez que as verbas deveriam sair dos esvaziados cofres municipais.
Segundo o balanço do PAC, dos cinco projetos de monotrilho, considerados mais complexos e também mais caros, por enquanto, apenas um está em operação, que é a Linha 15 de São Paulo, que liga duas estações num trecho de 3 km. Já a Linha 17, que ligaria o Aeroporto de Congonhas ao Morumbi, estava com as obras paradas e os outros empreendimentos continuam parados.
Em 2010, na euforia da conquista do Brasil de poder realizar importantes espetáculos de nível mundial, o então presidente da República petista havia prometido que “a Copa será uma grande oportunidade para acelerar o crescimento em infraestrutura necessário para o Mundial e fundamental para o desenvolvimento do nosso Brasil”.
Na gestão seguinte, a afilhada do ex-presidente repetia, com a mesma empáfia e jactância, as mesmas falácias do mentor dos inúteis e dispendiosos empreendimentos megalomaníacos, idealizados sem os imprescindíveis estudos técnicos de viabilidade e de impactos, em especial econômico-financeiros, cujos resultados estão muito bem visíveis de fracasso e danos para os brasileiros, os quais refletem com muita propriedade as gestões petistas de muita incompetência e de pouca efetividade, tendo por base discurso nacionalista respaldado na ineficiência, no descrédito e na desmoralização.
Se o Brasil fosse um país sério, os mentores e executores de projetos megalomaníacos que causaram enorme prejuízo aos brasileiros seriam, no mínimo, responsabilizados por seus atos insensatos e desastrados, por se tratar de medida imprescindível à reparação dos danos sociais, em decorrência do mau uso de recursos públicos.
Medida nesse sentido tem o condão de servir como importante lição pedagógica para se evitar a reincidência de casos deletérios futuros, conquanto os novos administradores públicos teriam o cuidado de priorizar os gastos públicos, com a exclusiva preocupação de realizar investimentos somente em projetos e atividades voltados para a satisfação das necessidades públicas e jamais com empreendimentos como Copa do Mundo e Olimpíada, que não dizem respeito ao atendimento do interesse público, uma vez que a população carente continuará cada vez mais necessitada de serviços públicos de qualidade, haja vista que os recursos públicos foram desviados para obras supérfluas, inúteis e absolutamente dispensáveis.
Ainda há tempo de os órgãos de controle e fiscalização promoverem apuração de responsabilidade pela má aplicação do dinheiro dos contribuintes, justamente pela contratação de serviços e a realização de obras que não satisfazem o interesse público, ou seja, ante o desvio de verba para outra finalidade diferente das causas estritamente públicas.
Os brasileiros precisam se conscientizar, com a máxima urgência, sobre o firme propósito de se exigir a mudança de atitude e mentalidade dos maus administradores dos recursos públicos, que ainda imaginam que são os verdadeiros donos do patrimônio dos brasileiros e podem patrocinar megaeventos com recursos que somente devem ser aplicados em programas prioritários ao atendimento das necessidades públicas e do bem comum, como fazem as nações sérias, civilizadas e desenvolvidas cultural, social, política, econômica e democraticamente. Acorda, Brasil!  
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 13 de julho de 2016

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