domingo, 6 de maio de 2018

A cegueira na veneração


O fanatismo, a idolatria, o culto, a peregrinação, a louvação, as invocações ao seu nome, as crenças absolutas nas suas palavras são fortes indicativos de que o maior político brasileiro já tenha sido conduzido por seus seguidores ao altar consagrado aos deuses, tendo conseguido com isso a graça da imunidade celestial de não puder ser atingido por suspeita, acusação ou denúncia referente à prática de irregularidade, deslize, malfeito ou crime, estando totalmente acima do bem e do mal, porque a sua áurea tem o condão de blindá-lo e imunizá-lo contra as acusações e denúncias sobre possíveis malfeitos.
Para quem foi colocado no pedestal da divindade, não faz o menor sentido para seus idólatras as denúncias cuja autoria é atribuída a ele, porque seus seguidores estão condicionados ao entendimento de que naquela condição é impossível que ele possa incorrer em erros graves e muito menos se envolver com organização criminosa, a ponto de ser acusado de ter se beneficiado de propina oriunda de desvio de recursos públicos, como os provenientes ilegalmente da Petrobras.
Trata-se de fiéis que, por obra e graça da divindade suprema, tornam-se cegos na veneração de somente reconhecer no seu ídolo a imagem de ser inocente, diante do sentimento da impossibilidade da prática de deslize, por menor que seja, ante a sua imaculabilidade adquirido em razão de ser alguém protetor perpétuo dos pobres e desassistidos, não importando que os programas de assistência social, na forma de bolsas, sejam mantidos com recursos arrecadados dos contribuintes, cuja política pública integra atividade própria do Estado, o que vale dizer que a distribuição de renda faz parte da obrigação constitucional que nenhum governo pode deixar de assistir às famílias carentes de recursos, sendo vedado que essa forma de assistencialismo se transforme em projeto de cunho eleitoreiro.
Diante dos avanços tecnológico e científico, a falta de credibilidade sobre a verdade contribui para a involução social, diante da resistência para se enxergar a realidade à sua volta, além de se alimentar conscientemente os esdrúxulos princípios da mentira e da inverdade, absolutamente repudiáveis.
O todo-poderoso não faz por menos e aproveita o momento para se vangloriar do título divinal de intocável e esse sentimento ele deixou muito claro quando o expôs em diferenciação das pessoas normais, ao se autodefinir, no último discurso feito horas da antecipação da sua ida para o calabouço, em Curitiba, apregoando para seus fiéis que “eu não sou mais um ser humano, sou uma ideia”, ou seja, nesse momento ele declara já ter se incorporado em uma divindade, um ser que está acima dos pobres mortais.
Não faz muito tempo, ele simplesmente disse que “as pessoas deveriam ler mais a bíblia para não usar tanto meu nome em vão”, dando a entender que ele já encarnava a áurea divinal, para ser venerado, em nome da santificação incorporada por ele, evidentemente admitida por seus seguidores e idólatras, que tudo fazem para que ele pense exatamente dessa forma.
No auge das investigações, quando surgiu seu nome entre os suspeitos dos envolvidos nas falcatruas engendradas em conluio com Odebrecht junto à Petrobras, ele simplesmente cuidou de dizer essa memorável e divinal pérola, verbis: “não existe uma viva alma mais honesta do que eu”, expondo a verdadeira mística do “Salvador da Pátria” em pessoa, sendo o suficiente para dá o tom inicial que faltava para a intensificação do delírio sobre o real sentido do endeusamento que vem se intensificando em cada ato público, entre seus adoradores.
Como consequência natural dessa ascensão de ser mortal ao Olimpo dos deuses é normal que seus apóstolos procurem cultuar, em sagração, a marca indelével de seu ídolo, com o acréscimo ao seu nome da menção do principal nome do venerado político, passando a se chama fulano “Lula” de tal, como forma de cravar o amor eterno ao seu deus, em mensagem de pura fé e adoração.
Isso não passa da evidência de que o Partido dos Trabalhadores se apequena diante da idolatria ao seu cacique-mor, que se transformou em figura idolatrada, com capacidade para pôr de escanteio os programas, as bandeiras, o cerne da ideologia que era essência da agremiação para ter no seu seio a figura política que foi elevada à mística, à seita de maior importância para a militância, que não consegue reverenciar senão a pessoa divinal de seu líder-maior.
Toda essa magia da santidade incrustada no seu nome vem de seu indiscutível e indisfarçável populismo político-ideológico, como forma pessoal de governar com priorização às políticas públicas direcionadas aos segmentos sociais, que realmente tiveram valorização no seu governo e isso precisa merecer o devido destaque, em que pese sua gestão ter sido paupérrima em investimentos em obras públicas de impacto, capazes de promover setores econômicos, conquanto ainda teve a iniciativa de ter dado o pontapé às obras de transposição das águas do Rio São Francisco, tão faraônicas que quanto mais se investe menos se tem esperança da sua conclusão, da sua efetividade e ainda sobre os reais benefícios senão à parcela limitadíssima de nordestinos, que vão continuar na amargura do sofrimento causado pelas inclementes e impiedosas secas, em que pese os montantes faraônicos de recursos já investidos.
Ademais, o endeusamento contrasta com as denúncias de irregularidades possivelmente atribuídas à sua liderança como governante, conquanto as falcatruas perpetradas na Petrobras, segundo os procuradores públicos da Operação Lava-Jato, teriam sido comandadas pelo principal líder político, que já foi condenado à prisão, em razão da acusação de ter recebido, indevidamente, propinas na forma de um apartamento, embora ele a negue veementemente.
Não obstante, ele não conseguiu provar a sua inocência com relação aos fatos cuja materialidade a Justiça garante que existe, com robusteza, nos autos próprios e tanto isso pode ser verdadeiro que ele não atentou que ninguém pode ser julgado e condenado sem prova e simplesmente permanecer quietinho aceitando o veredicto, quando se sabe que a primeira, imediata e urgente medida e procurar contestar a sentença e tentar anular o processo, justamente por falta de provas, mas isso não foi feito e o principal interessado se encontra preso, confirmando, quer queira ou não, o acerto das decisões proferidas pelos magistrados, que conseguiram enxergar, com lucidez, a culpa do político mais santo do Brasil.
É preciso que os fanatizados politicamente percebam que existe enorme distanciamento entre o homem público populista, que governa com o pensamento direcionado para o interesse da pobreza, embora em muitos casos tal iniciativa não passa de formação de conduta voltada para fins muito mais pessoais e eleitoreiros do que propriamente com vistas à execução de políticas públicas, eis que os programas governamentais são custeados exclusivamente com recursos públicos.
O governante responsável e consciente deve ter o real entendimento político de que a sua gestão precisa ser eficiente, em todos os sentidos, porque ela apenas se insere no exato cumprimento do seu dever de exercer com responsabilidade e competência o cargo para o qual foi eleito, da melhor maneira possível, e que seus resultados não podem corresponder senão ao atendimento do bem comum e do interesse público, sem qualquer forma de recompensa por parte da população, que apenas foi representada por quem priorizou determinada política pública em benefício social.
Por sua vez, a população precisa se conscientizar de que o homem público tem o dever constitucional de prestar contas à sociedade sobre seus atos na vida pública, principalmente quando ele é acusado ou denunciado acerca de possíveis práticas delituosas, quando então tem a obrigação de provar, pessoalmente e por meio de elementos probantes, a sua inocência, a sua inculpabilidade com relação aos fatos apontados, e jamais tentar transferir para o povo a atribuição ou a responsabilidade da sua defesa, como vem sendo feito pelo principal político do país, que não se cansa de dizer que é inocente e injustiçado, quando se sabe que a Justiça do país tem os remédios jurídicos para não se permitir que alguém seja impunemente prejudicado nos seus direitos cívicos, em razão de condenação sem provas, por meios ilícitos.
Não passa de brutal balela alguém reclamar de injustiça, de ter sido condenado sem provas, quando a Justiça tem o antídoto para isso, salvo se a condenação tem por base elementos de provas como tal que a própria Justiça reconhece como suficientemente capaz de se confirmar a materialidade da autoria dos crimes denunciados, caso em que a invocação de divindade somente complica o deslinde da demanda, porque os julgamentos são realizados com base em provas juridicamente válidas e não em meras afirmações de inocência ou inculpabilidade.
Por seu turno, o político e seus seguidores precisam entender que o papel da imprensa é o de cumprir o seu inarredável dever de informar os fatos, em estrita consonância com os importantes princípios de liberdade de expressão, em país como o Brasil, onde felizmente prevalecem os consagrados sentimentos próprios do Estado Democrático de Direito, extremamente prestigiados nos países civilizados, sérios e evoluídos, em termos políticos e democráticos.
Embora seja alvo de ásperas críticas por parte de quem tenha se envolvido em denúncias de irregularidades, a força-tarefa da Operação Lava-Jato se encontra no alto da sua respeitabilidade, no âmbito das pessoas honradas, em razão de ter cumprido com competência e pleno êxito o seu dever institucional de apurar e investigar casos nebulosos envolvendo político da maior importância do país, cujos resultados contribuíram para a condenação à prisão de quem não conseguiu contestar os fatos por ela apontados e comprovados, deixando muito evidente a força dos elementos probatórios, base sólida das sentenças condenatórias nas primeira e segunda instâncias. 
Há que se convir que os atos de solidariedade protagonizados por seguidores fanatizados não passam de atitudes absolutamente ineptas e inconsequentes, na tentativa de mera pressão pela liberdade do político, tendo em conta que a Justiça julga com base nos elementos e nas provas, consistindo em contestações sobre os fatos investigados e juntados aos autos, ressalvada a declaração dele de que o apoio da militância serve de alimento para ajudar na tranquilidade mantida por ele, no cárcere.
Essa história de se incutir na cabeça dos idólatras de que houve julgamento sem provas, em processo forjado de injustiças, com o propósito de se impedir a candidatura do principal político do país ao seu cargo máximo, não tem o menor cabimento senão por absoluta conveniência pessoal e ideológica, conquanto é sabido que inexiste julgamento sem provas, pelo menos sob à luz da racionalidade e do bom senso.
É preciso ficar muito claro que, mesmo em país mais involuído, nenhum julgamento será proclamado sem a devida observância às provas dos autos, porque, ao contrário disso, haverá necessariamente consequência sancionatória para o juiz, em face da prática do crime de prevaricação, cuja punição vai variar diante da intensidade e da gravidade da sua falha, que pode corresponder desde a advertência até o afastamento dele de suas funções, como forma de se mostrar que o magistrado não fica impune depois de ter contribuído para prejudicar a reputação da dignidade da cidadania.
Convém que o principal político brasileiro da atualidade tenha a humildade de deixar de lado, por algum tempo, a sua imaginação de divindade, como tal compreendida por seus idólatras, conforme mostram os atos de sublime devoção, para compreender sobre a real necessidade da prestação de contas sobre seus ato na vida pública, de modo que sejam aceitas as denúncias em tramitação na Justiça, de modo que cada fato acusado seja devidamente contestado com argumentos e provas capazes de infirmá-lo, em harmonia com o mandamento constitucional e legal, que assegura a ampla defesa e o contraditório, nos estritos termos compreendidos nos princípios de civilidade e seriedade, na melhor compreensão de que a Justiça, no âmbito da sua incumbência institucional, jamais compactuaria com forma senão da justiça e da dignidade dos conceitos consagrados do julgamento com imparcialidade e juridicidade, como se procede nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos jurídicos, administrativos e democráticos, compreensão essa que a sociedade precisa avalizar, como forma de se contribuir para o aprimoramento das relações sociais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 6 de maio de 2018

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