quarta-feira, 16 de maio de 2018

Em defesa de interesse pessoal


O maior político brasileiro, que se encontra preso, cumprindo condenação de doze anos e um mês de cadeia, pela confirmação da prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, recentemente completou um mês na solitária, tendo aproveitado a data para anunciar que é “candidatíssimo” à disputa à corrida rumo ao Palácio do Planalto.   
O líder petista está encarcerado na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, Paraná, desde o último dia 7 de abril, após ordem de prisão emitida pelo juiz responsável pela Operação Lava-Jato, à vista de terem se esgotados os recursos na segunda instância.
Na ocasião, antes de se entregar, o político protagonizou espéculo ridículo e circense, ao se refugiar, para se proteger, quando soube da ordem judicial da sua prisão, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), onde ficou cercado por militantes de esquerda, que fizeram tudo possível para tentar impedir a prisão que havia sido decretada e precisava ser executada, na forma da lei.   
Dias atrás, ele recebeu a visita de um teólogo amigo, ligado ao PT, sob a alegação de “assistência espiritual”, tendo aproveitado o ensejo para enviar mensagem aos militantes que estão acampados nas proximidades daquela superintendência, cujo teor foi lido pelo religioso, nestes termos: “Ele até mandou recado dizendo que é candidatíssimo. Ele só vai renunciar à candidatura no dia em que o Moro trouxer uma única prova de que ele é dono do triplex”.  
          O ex-presidente foi condenado sob a acusação de ocultar a propriedade de um triplex no Guarujá (SP), supostamente recebido por ele como propina para favorecer a empreiteira OAS, em contratos com a Petrobras, embora o político tenha negado, de forma veemente, que seja dono do imóvel, que também foi reformado sob a orientação da ex-esposa dele, conforme mostram os registros a esse respeito de documentos e testemunhas.
Acontece que, nos termos da Lei da Ficha Limpa, o político se encontra inelegível, justamente por ter sido condenado à prisão por órgão colegiado da Justiça, cuja insistência na sua candidatura representa o cúmulo do desrespeito e da afronta ao arcabouço jurídico do país, pelo fato de ele se colocar acima de tudo e todos, como ele fosse o suprassumo e o todo-poderoso que se acha com poder supremo de não aceitar a decisão judicial, tomada que foi com base nas provas constantes dos autos, validadas por magistrados das primeira e segunda instâncias, sendo que o órgão colegiado se manifestou por unanimidade, ou seja, reconhecendo a plausibilidade da materialidade sobre a autoria dos crimes imputados a ele.  
Como o político sabe perfeitamente que o imóvel não foi registrado no nome dele, porque crime perfeito nem precisaria de ocultação de patrimônio, quando se trata de caso em que o principal acusado não tem a dignidade de assumir seus erros, tudo sendo implementado, por óbvio, à sorrelfa, para não ficarem as marcas dos rastros do crime, o que vale dizer que ele vai mofar na solitária, à espera do registro inexistente, mas ele até pode se apoderar de outras e fartas provas constantes dos autos, por meio das quais os magistrados das primeira e segunda instâncias se basearam para a elaboração de suas sentenças, às quais seus advogados já tiveram acesso e estão disponíveis não somente para ele, mas também para a sociedade ávida para o conhecimento da verdade sobre os fatos que constituem a materialidade dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.    
Causa estranheza que, em que pese o horror da sentença condenatória à prisão, justamente pela prática de atos contrários aos princípios da ética, moralidade, legalidade, idoneidade, entre outros que precisam ser rigorosamente observados nas atividades públicas, ou seja, ele foi reprovado, com a condenação, quanto à licitude e à honorabilidade ínsitas dos homens públicos, mas mesmo assim ele continua liderando as pesquisas de intenção de voto para as próximas eleições e ainda mais com ampla vantagem sobre o segundo colocado, dando ensejo a que o seu partido insista na sua candidatura, mesmo havendo nítido impedimento legal, nos termos da Lei da Ficha Limpa, que somente permite que brasileiros honrados e dignos possam exercer cargo público eletivo, como acontece normalmente nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos e democráticos.
Não sopesando a desgraça e a tragédia que isso representa para a dignidade do país e do seu povo, um homem público sem a mínima condição ética e moral é empurrado, sem o mínimo escrúpulo civilizatório, de goela abaixo na tentativa de representar politicamente uma nação, fato este que certamente será motivo de verdadeiro assombro para o mundo civilizado, sério e evoluído, diante do absurdo que isso representa para seus parâmetros de modernidade e pureza dos princípios políticos e democráticos.
Como somente isso não bastasse, o político é também réu em mais seis processos, com grandes possibilidades de ser condenado por outras sentenças, em razão da prática dos mesmos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, além dos de tráfego de influência, obstrução de Justiça e organização criminosa, tudo extremamente incompatível com as relevantes funções do principal cargo da República, que exige que o seu titular comprove absoluta imaculabilidade como homem público.
Os brasileiros precisam se conscientizar de que a candidatura de político condenado à prisão, como tal por ter sido considerado corrupto pelo Poder Judiciário, à luz da legislação de regência, por força da consistência da materialidade da autoria dos fatos denunciados, não pode, sob o prisma dos princípios do bom sendo e da razoabilidade, contribuir com algo positivo e construtivo para a satisfação do interesse público nem muito menos para o progresso de coisa alguma que diga respeito à grandeza e ao desenvolvimento da nação, em termos socioeconômicos, porquanto são visíveis e cristalinas as intenções e manobras realizadas com o exclusivo objetivo de se alcançar a vitória consagradora de político completamente desmoralizado por seus deprimentes atos de dilapidação do patrimônio da Petrobras, conforme os resultados das amplas investigações nesse sentido, como forma de se resgatar, não por via da Justiça, como deve, mas por meio do voto, a sua imagem completamente enlameada pela podridão da corrupção, cujo procedimento, à toda evidência, contraria os comezinhos princípios republicano e democrático. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de maio de 2018

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