segunda-feira, 25 de maio de 2020

A dignificação pelo exemplo


Apoiadores do presidente da República, acompanhando péssimos hábitos, hostilizaram jornalistas nesta segunda-feira, em frente ao Palácio da Alvorada, conforme relato da mídia.
Momentos antes dessas lamentáveis agressões verbais, o próprio presidente, ao passar perto dos repórteres, criticou a imprensa, dizendo que, "No dia que vocês tiverem compromisso com a verdade, eu falo com vocês de novo", cuja fala teve o apoio de alguns simpatizantes dele, que o acompanharam, dizendo: "Isso aí".
Na realidade, os xingamentos a jornalistas que esperam a saída do presidente, na porta do Palácio da Alvorada, diariamente, já se tornaram comuns, mas, desta vez, a agressividade foi maior, segundo noticia a imprensa, conforme a seguir.
Uma cidadã se dirigiu aos jornalistas, aos berros, dizendo: "Ó o lixo, ó o lixo, ó o lixo". "Escória! Lixos! Ratos! Ratazanas! Bolsonaro até 2050! Imprensa podre! Comunistas", enquanto outras pessoas gritavam: "mídia lixo. Sem vergonha. Vocês não mostram a realidade!", "Eu não sei como vocês conseguem dormir à noite. Vocês não representam a população brasileira! Mídia comunista, comprada! Cambada de safados!".
Outra mulher, aos gritos, bradava: “A Globo é um lixo", enquanto um homem, acompanhante dela, chamava de lixo os jornalistas em geral, nestes termos: "Vocês da mídia não representam o Brasil, não representam a nossa bandeira. A nossa bandeira tem a ordem e o progresso, cambada de comunistas".
Já uma senhora, vestida de camisa verde e amarela, onde se lia "fechados com Bolsonaro" se aproximou dos jornalistas gritando palavras agressivas à imprensa.
Diante da sala de imprensa, um homem disse que ele "teria vergonha de ser parente" dos profissionais de imprensa.
Há registro de que, no estacionamento, um grupo sensibilizado, civilizado e contrário às agressões, se aproximou dos repórteres para pedir desculpas e dizer que não concordava com o comportamento dos outros apoiadores do presidente.
Esse clima de hostilidade gratuita contra a imprensa é muito ruim e inaceitável, porque só contribui para acirrar os ânimos e certamente não vai chegar a lugar nenhum, senão piorar ainda mais a insatisfação do povo contra a imprensa, que até pode ter seus defeitos, mas o papel do profissional, qualquer que seja ele, é cumprir a sua missão institucional, porque ele é pago para isso. e é o que deve acontecer com os funcionários dos meios de comunicação, que exercem importantíssima função de levar as notícias para a sociedade.
Há até quem diga que a imprensa, diante da sua suprema importância para a sociedade, é o quarto poder, justamente porque ela é a autoridade que acompanha fatos noticiosos, nos bastidores, a todo momento, investiga, apura, vasculha notícia a fundo, tudo para manter o povo informado e esclarecido sobre os fatos da vida.
Agora, se há alguma empresa de comunicação que, por motivos ligados aos seus interesses, que não vão ao caso da imprensa em geral, isso não pode servir de argumento para a generalização, a ponto de condenação indiscriminada, porque isso é  indevido e injusto, considerando que muitos profissionais das comunicações se esforçam para ser fiel no cumprimento do dever de informar com o devido zelo, prestando as informações noticiosas exatamente nos termos como elas aconteceram, em estrita harmonia com os fatos acontecidos.
O que não pode é a população seguidora do presidente tomar as dores dele e até seguir seu péssimo e inadmissível hábito de, vez por outra, agredir verbalmente profissionais da imprensa, com palavras deseducadas, até mesmo  em revides completamente desrespeitosos e absolutamente em desarmonia com a liturgia do relevante cargo de mandatário da nação, que tem rigorosa obrigação de ser modelo de educação, ponderação, respeito, compreensão, sensatez, sensibilidade e, sobretudo, civilidade, como forma pedagógica de mostrar o melhor caminho de dignificação do ser humano.
Certamente que, nos países civilizados e evoluídos, em termos de amadurecimento político e democrático, os governantes não ficam, a todo instante, engrossando as falas na comunicação com a imprensa, porque eles sabem que qualquer forma de desrespeito e agressão à autoridade pública, o agressor será obrigado a responder por seus atos na via adequada e nos termos da lei,
Nos países sérios, os princípios e as condutas modernas hauridos pelo homem são aconselháveis indistintamente para as pessoas, que precisam  usar a inteligência para se conscientizarem de que, ao contrário daquilo, seus conhecimentos de cidadania são necessários para ajudar na crescente evolução da civilidade e da compreensão entre os cidadãos, que é forma evidente do desenvolvimento da sociedade, que ganha excelente oportunidade para compreender o real sentido dos avanços da ciência e da tecnologia, que têm por propósito exatamente a aproximação das pessoas, também em forma de tolerância, respeito e amor.
Nos países minimamente evoluídos, o mandatário mantém recíproca relação de respeito e cordialidade, em perfeita harmonia protocolar onde todos reconhecem a importância de seus trabalhos, em clima de amizade e cooperação e camaradagem.
O bom senso e a racionalidade recomendam que o homem público não se engrandece, exatamente por não ser de bom tom, pelo fato de ele criticar o trabalho da imprensa, sabendo-se que alguma informação discrepante do noticiado ou desfocada da realidade, pode ser corrigida pelos canais próprios da comunicação, mas, se assim não for possível, o caminho normal é o judicial, onde as querelas procuram ser dirimidas e solucionadas, mas jamais por meio de críticas, como foram erroneamente eleitas por governantes tupiniquins, em evidente demonstração de mediocridade.   
Há o consenso no sentido de que é aconselhável que o presidente da República precise, com urgência, se acomodar, obsequiosamente, no aconchego das gigantescas e espinhosas missões para quais ele foi eleito, de exercer com competência e eficiência as tarefas próprias do cargo, em harmonia com os ditames constitucionais e legais, cuidando, das ingentes questões referentes às políticas nacionais, em especial, à  pandemia do coronavírus e à economia.
Como sendo o principal homem público brasileiro, também conviria que o presidente da República se conscientizasse de que a sua postura de estadista tem importância estratégica para a harmonização e a consolidação do sentimento da sociedade, com vistas ao entendimento da pacificação, da compreensão, da tolerância, do respeito e principalmente do amor à pátria, procurando, no caso especial enfocado, a valorização dos meios de comunicação de reconhecido trabalho decente e correto, sem embargo de responsabilização, na via adequada, daqueles que se desviarem e denegrirem a imagem da dignidade e do ofício de bem informar com qualidade e zelo.       
Brasília, em 25 de maio de 2020

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