domingo, 24 de maio de 2020

Em defesa do Banco do Brasil


Na mais comentada reunião da história republicana, houve momento extremamente delicado, quando o ministro da Economia defendeu, aos palavrões, demonstrando irritação fora da curva, a privatização logo do Banco do Brasil.
O ministro disse que, embora o banco seja comandado por um liberal, o governo “não consegue fazer nada lá. Tem que vender essa p... logo”.  
O famoso economista entende que o Banco do Brasil “não é tatu nem cobra, porque ele não é privado, nem público. Se for apertar o Rubem (presidente do BB), coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: ‘Bota o juro baixo’, ele: ‘Não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam’. Aí se falar assim: “bota o juro alto”, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”.
No ano passado, o ministro fez ataque às atividades dos bancos públicos, ao afirmar que “a função de um banco público era passar seu excesso de receita para taxas de juros menores e não dar lucro como uma instituição privada. “Se é pra dar lucro, privatiza logo. Pra que eu vou ter um banco com 21 mil agências no Brasil todo para dar lucro máximo? Se for pra isso, privatiza, vende, funde com o Banco do Brasil”, em referência à Caixa Econômica Federal.
Todos sabemos que o Banco do Brasil é instituição respeitadíssima brasileira e mundial, que tem a participação do seu capital composto com 50% do governo federal, ou seja, dos brasileiros e o restante de acionistas que acreditam na sua performance operacional.
A sua missão institucional, segundo sua filosofia corporativa, é "Ser um banco de mercado, competitivo e rentável, atuando com espírito público em cada uma de suas ações junto à sociedade". 
O Banco do Brasil foi a primeira instituição criada no país, cuja fundação data de 1808, tendo sido também o primeiro banco da história de Portugal e do Império português.
Em 1829, o Banco do Brasil faliu depois que a Família Real confiscou os fundos e voltou para Portugal, vindo a ser refundado, em 1951, por obra e graça do nacionalista Barão de Mauá, tendo por objetivo exercer atividades bancárias, quando começou a formação do que é considerado importante patrimônio nacional, no momento.
De acordo com o Banco do Brasil, a empresa possui mais de 15 mil pontos de atendimento distribuídos pelo país afora, contando com agências e postos, com mais de 40 mil terminais, que funcionam permanentemente, além de estar presente em mais de 20 países fora do Brasil.
Ressalte-se, como fato maravilhoso, que o Banco do Brasil possui mais de 5.500 agências distribuídas em todo território nacional, estando presente na maioria dos municípios brasileiros, com a estrutura operacional de mais de 110 mil funcionários e mais de 4 mil estagiários, que são contratados temporariamente, ente adolescentes trabalhadores, normalmente estudantes carentes.
É preciso que se diga que esse sentimento pessoal do ministro da economia foge rudimentarmente do princípio clássico de privatização, que tem prioritariamente como fundamento o descarte de entidades e instituições que sejam consideradas, por critérios técnicos, desnecessárias, antieconômicas, deficitárias, improdutivas, que só dão prejuízos aos cofres públicos e oneram pesada e substancialmente os contribuintes.
Há sim urgência na privatização das instituições públicas que são sinônimos de ineficiência e antieconomicidade, que normalmente são criadas para servir de cabide de emprego, como costumam fazer os governos populistas e socialistas, a exemplo dos últimos que passaram pela Presidência da República, a partir do início deste século, quando a administração contava com somente 39 empresas públicas, mas, em pouco mais de quinze anos, esse número ascendeu, pasmem,  a mais de 140 estatais, que certamente não deve haver uma única que atendesse aos requisitos de eficiência, competência e necessidade de satisfação do interesse público.
Na verdade, o que se viu foi verdadeira esculhambação com o minguado dinheiro dos contribuintes, que foi jogado pelo ralo da incompetência, com a criação de empresas com a exclusiva finalidade de satisfazer interesses das espúrias alianças firmadas com partidos políticos, sob a justificativa de governabilidade de coalizão, que tinha por princípio o loteamento de ministérios e empresas estatais entre os aproveitadores, em troca do apoio ao governo no Congresso Nacional, fato que foi conhecido como o seboso sistema do “toma lá, dá cá”, que aliás, acaba de ser adotado, sem o menor escrúpulo, pelo governo atual, que não se envergonhou de passar óleo de peroba na cara, para formalizar acordo para o Centrão o apoiar, naquele órgão, em blindagem contra possível processo de impeachment do presidente.
Enfim, é preciso que o ministro da economia aprenda e se conscientize de que o governo tem o dever gerencial de privatizar, com urgência e de maneira prioritária, as empresas que foram criadas com a exclusiva finalidade de contribuir ao aparelhamento do Estado e agradar aos apoiadores de governantes, as quais não passam de peso morto para os orçamentos públicos, que precisam ser aliviados o mias rapidamente possível, eis que a administração pública tem obrigação primacial de se modernizar e se aperfeiçoar nas suas estrutura e conjuntura orgânicas, principalmente em termos de gestão dos recursos públicos, que devem ser vinculados rigorosamente às políticas de Estado, em direta e inafastável satisfação do interesse público.  
A instituição mais do que secular do Banco do Brasil, sempre servindo aos interesses nacionais, com a eficiência do seu desempenho, nunca poderá ser privatizada, a despeito de possíveis dificuldades operacionais, que apenas merecem ser ajustados às regras do mercado, mas sem essa de descarte da instituição que sempre foi modelo de funcionalidade operacional, aos padrões de aperfeiçoamento na sua área de atuação, que somente aconselha, sobretudo, a sua permanência sob o comando e o controle do Estado, por meio do qual ainda é possível a facilitação de muitas operações políticas que se tornarão impossíveis com a privatização dele.
Ademais, a privatização do Banco do Brasil terá como efeito, mais do que imediato, o fechamento de agências e postos de atendimento em milhares de municípios, principalmente aqueles menores, que logo serão classificados como improdutivos e deficitários, além da dispensa de enorme quantidade de funcionários que perderiam seus empregos.
A medida aventada acima é pura realidade tupiniquim, porque isso já aconteceu com os grandes bancos brasileiros, que fecharam muitas agências  em cidades do interior, sem a menor atratividade para o banco, por ocasião da compra de outros bancos.
Vejam-se que ideia mais absurda, se concluir pela privatização certamente da instituição mais respeitada e eficiente controlada pelo governo, que somente contribui com lucro e tem sido demonstração de eficiência em toda a sua história, fatos que ajudam a compreender a sua importância como instituição pública.
Essa mentalidade absurda e absolutamente desfocada da realidade precisa, mais que urgentemente, ser demovida do pensamento do ministro da economia, que não pode pensar em suicídio somente porque tem dificuldade em interferir no banco, para impor a sua vontade, que até pode ser importante, mas mais relevante do que ela e o interesse público, que diz que o Banco do Brasil é patrimônio nacional imprivatizável, mas mesmo assim, se a for, que seja a última instituição, diante da sua importância estratégica para o atendimento do interesse público.      
Diante dessa riquíssima e impressionante história do Banco do Brasil, que não poderia ser mais nacionalista do que ele é, por vir, de longa data, contribuindo para o permanente desenvolvimento do Brasil e isso é motivo mais do que suficiente para nem se pensar na sua privatização, porque só isso já caracteriza gravíssimo crime de lesa-pátria, quanto mais em se pretender desfazer logo de instituição que é exemplo, modelo de competência, eficiência e desenvolvimento, que pode ter enfrentado crises, mas o seu impoluta desempenho mostra que a defesa do seu patrimônio jamais poderá sair das mãos dos brasileiros que amam verdadeiramente a sua pátria.
Brasília, em 24 de maio de 2020

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