segunda-feira, 18 de maio de 2020

A sagrada luz da minha infância

Recentemente, conterrâneo de Uiraúna, Paraíba, escreveu crônica mostrando a importância da luz gerada pela lamparina, que consistia em pequeno recipiente, normalmente de frande e formato triangular, que era abastecido com querosene, como combustível, cuja tocha de luz se mantinha acesa por meio de pavio sob a forma de cordão de algodão mergulhado no líquido, por meio do qual ele sobe por capilaridade, tendo capacidade para alumiar pequenas dimensões.
A lamparina tem origem na pré-história e segue tendo utilidade ainda na atualidade, embora em lugares bastantes remotos ou para certas aplicações em trabalhos científicos e didáticos, a exemplo de ensino de ciências ou em determinados usos em laboratórios, conforme a variação do trabalho de aquecimento do experimento.
A lamparina também é conhecida por candeia, candeeiro e lâmpada de azeite, conforme o costume ou a tradição dos lugares. 
Na leitura do referido texto, veio à mente, quanto ao uso e à serventia da lamparina, mutatis mutandis, o retrato fiel dos tempos da minha infância, no saudoso casarão do Sítio Canadá, onde ela constituía companheira inseparável, ao anoitecer.
A velha e útil lamparina era a amiga e companheira da casa, para onde se deslocasse ou ficasse, à noite, porque ali ela estava com seu ar prestimoso da magia da iluminação.
Ai da pessoa que fosse à cidade e deixasse de comprar o gás ou querosene, que era produto valioso em qualquer lar da zona rural e até mesmo da cidade, porque certamente tinha como castigo voltar lá, no dia seguinte, para completar a feira, com a compra desse importante líquido, na vida de quem morasse na roça.
A lamparina era sinônimo de luz e vida, porque ninguém conseguia viver sem a velha e importante lamparina, que, embora produzisse fumaça muito escura, certamente incômoda e tóxica, cuja marca ficava nas paredes e nos tetos, de forma indelével, nunca, nem por isso, ela podia ser descartada, diante da sua insubstituibilidade, em razão da falta de outro meio igualmente eficiente e prático de iluminação popular.
Eu me lembro que existiam as lamparinas maiores e as menores e as minhas preferidas eram exatamente as pequenas, para deslocamentos rápidos, mas todas prestavam importante companhia aos integrantes da casa, que tinham a sua preferida, embora todas fossem imprescindíveis como companheiras que prestavam excelentes serviços.
Confesso que, embora as lamparinas tivessem a sua magistral importância, lamento afirmar que não sinto a menor saudade delas, que apenas serviam como instrumento facilitador da vida humana, à falta de algo mais apropriado e eficiente no dia a dia do homem da roça, que foi finamente beneficiado com a modernidade, passando a ter a luz elétrica nos mais remotos lugares, para os seus definitivos conforto e comodidade.
           Brasília, em 18 de maio de 2020

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