domingo, 17 de maio de 2020

Ineficácia da hidroxicloroquina?


Conforme reportagem publicada no Gl da Rede Globo, o uso do remédio conhecido por cloroquina, em pacientes diagnosticados com o novo coronavírus, encontra-se ainda sob estudos em muitos países, mas as pesquisas não foram suficientemente capazes de se assegurar sobre resultados conclusivos quanto à sua eficácia no combate à Covid-19.
As fontes informaram que a aplicação doahidroxicloroquina, que é um derivado da cloroquina e guarda as mesmas propriedades, mas tem a toxicidade atenuada, para a mesma finalidade, também não deram os resultados de eficiência em pacientes leves a moderados, conforme mostraram estudos aplicados com o remédio.
Diante dos resultados desses estudos, por enquanto o Conselho Federal de Medicina brasileiro não recomenda aos seus associados o uso da hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19, ficando o médico com a faculdade da posologia dessa droga.
Uma das principais revistas científicas, a Jama, do Journal of the American Medical Association publicou, no dia 11 último, resultado de pesquisas sobre a efetividade da hidroxicloroquina no tratamento do Covid-19, cujo estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Albany, no estado de Nova York, não encontrou relação entre o uso do medicamento e a redução da mortalidade pela doença, com base em análises feitas em 1.438 pacientes infectados com coronavírus, em 25 hospitais de Nova York.
Segundo a aludida pesquisa, a taxa de mortalidade dos pacientes tratados com hidroxicloroquina foi semelhante à dos doentes que não tomaram o medicamento, assim como à das pessoas que receberam hidroxicloroquina combinada com o antibiótico azitromicina.
Os autores do estudo asseguram que os pacientes que tomaram a combinação de medicamentos tiveram duas vezes mais chances de sofrer parada cardíaca durante o período de análise, ou seja, em confirmação com um dos efeitos colaterais conhecidos da hidroxicloroquina.
De acordo com a reportagem, outra pesquisa idêntica à citada acima, cujo resultado foi publicado recentemente pela revista britânica The New England Journal of Medicine, já havia chegado à conclusão análoga àquela publicada pela revista Jama.
Por seu turno, estudo realizado no Presbyterian Hospital, em Nova York, e revisado por outros cientistas, também não encontrou evidências de que a hidroxicloroquina tenha reduzido o risco de entubação ou de morte pela Covid-19, em pacientes com teste positivo para o vírus, que estavam em quadros moderados a graves.
Conforme os pesquisadores, entre 1.376 pacientes acompanhados, com e sem o tratamento com a droga, apresentaram o mesmo risco de piora do quadro clínico, necessidade de entubação e de morte.
No citado estudo, os pacientes receberam a hidroxicloroquina associada ao antibiótico azitromicina, cujos resultados, embora considerados promissores, dividiram a comunidade científica, em relação à possível eficácia do medicamento.
Depois de receber críticas sobre a necessidade de análises mais aprofundadas e os efeitos colaterais do remédio, como a arritmia cardíaca, o pesquisar francês ampliou seus estudos com maior quantidade de pacientes, tendo recebido as mesmas críticas em relação à suposta falta de rigor científico, embora ele garantisse que o segundo estudo confirma a eficácia da hidroxicloroquina, associada ao antibiótico azitromicina, porque 81% dos doentes deixaram o hospital, em cinco dias, em média.
Ressalte-se que o hidroxicloroquina ganhou projeção mundial, inclusive no Brasil, como possível milagre para a cura do coronavírus, depois da notícia sobre estudo realizado na França, por infectologista da Universidade de Medicina de Marselha, cujos resultados levaram líderes mundiais, como os presidentes brasileiro e dos Estados Unidos da América, a defenderem o uso desse medicamento contra a Covid-19.
A Organização Mundial da Saúde informou apenas que o uso da cloroquina, combinada ao azitromicina, é uma das quatro combinações medicamentosas em fase de testes em 74 países, cujos resultados estão sendo monitorados por ela.
No Brasil, até hoje, o Ministério da Saúde autoriza somente o uso do hidroxicloroquina em pacientes em estado crítico e naqueles em estágio moderado já internados em hospitais, desde que médico e paciente concordem com o uso dele.
Como se vê, em termos de estudos científicos, há resultados de pesquisas da maior credibilidade mundial, atestando que não existe possibilidade de se garantir sobre a eficácia da hidroxicloroquina, tendo por base experiência com pacientes que receberam o tratamento com o medicamento e sem ele, cujos resultados foram indiferentes.
À vista do tanto que se apregoa, fala, prega e discute, no Brasil, sobre o emprego do hidroxicloroquina, há muitas pessoas que defendem cegamente o seu emprego no combate ao Covid-19, o que é bastante natural e até faz sentido, mas não se pode olvidar que é preciso que também se divulgue as notícias que dão conta das pesquisas realizadas com relação à sua eficácia, porquanto algumas são claras e objetivas, mostrando que essa droga não tem a mesma efetividade propalada por seus defensores no Brasil.
Isso é muito importante que seja levando ao conhecimento da população, para mostrar que, se autorizada, pelo governo, a sua aplicação em larga escala e em qualquer situação, não significa que a questão foi solucionada, em definitivo, porque os estudos sobre a matéria ainda se encontram inconclusos, justamente porque ainda há dúvida sobre a sua total eficácia.  
A propósito, levanto questão de ordem, para suscitar a possibilidade no sentido de que as diferenças entre as pesquisas estrangeiras e os bons e auspiciosos resultadas obtidos por médicos brasileiros estejam exatamente nos protocolos médicos empregados, lá e aqui, onde o tupiniquim esteja muito ajustado aos termos capazes de combater o vírus com muito mais efetividade.  
Não obstante, percebe-se que, na prática, muitos médicos brasileiros estão obtendo sucesso com o uso desse medicamento, conseguindo curar, com muito sucesso, seus pacientes acometidos pelo Covid-19, que tem se mostrado excelente alternativa diante da falta de outro remédio.
No caso especificamente brasileiro, independentemente dos resultados que vierem das pesquisas em curso, mundo afora, é preciso que sejam usados os recursos médicos que melhor se adaptaram como fórmula eficaz já comprovada, na certeza de que a efetividade medicamentosa depende extremamente do estado de imunidade do paciente, o que vale dizer que o mesmo remédio, aplicado para a mesma enfermidade, pode não surtir os mesmos resultados para todas as pessoas.
Enfim, não há a menor dúvida de que o ideal teria sido o governo brasileiro ter melhor se empenhado nos estudos do assunto referente ao coronavírus, diante das peculiaridades e características próprias da população brasileira, para a aplicação da medicação mais adequada ao seu combate, nas circunstâncias, mas, na falta de melhor preparo, é preciso empregar os instrumentos disponíveis e a hidroxicloroquina passa a ser o remédio genuinamente brasileiro contra esse poderoso vírus.  
Brasília, em 16 de maio de 2020

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