O
presidente da República disse, ao ficar sabendo que alguns veículos de
comunicação deixaram de fazer a cobertura de notícias diretamente do Palácio do
Alvorada. por questões de falta de segurança, que eles estão se vitimizando.
Conforme
foi noticiado pela mídia, a Folha de S.Paulo, o UOL e os veículos do
Grupo Globo deixaram a cobertura naquele local, após uma série de incidentes
envolvendo os apoiadores do presidente, que ficam próximos do espaço destinado à
imprensa, proferindo ameaças e agressões verbais, que se tornaram constantes e
insuportáveis, a ponto de prejudicar o relacionamento entre ambos.
A
Folha de S.Paulo decidiu suspender, temporariamente, a cobertura
jornalística, até que o governo federal ofereça segurança aos profissionais de
imprensa, sendo que medida idêntica também foi tomada pelo Grupo Globo, que abrange
os jornalistas de suas emissoras de televisão, os jornais O Globo e Valor
Econômico e o portal G1.
Ao
terminar a entrevista, o presidente do país, em tom de provocação aos
jornalistas, perguntou se não havia nenhum repórter dos veículos que tinham
decidido não participar dessa cobertura, fazendo a pergunta: "A Folha
não está mais aqui, não? O Globo não está? Estadão também não", com o
que se seguiram risos de seus militantes.
O
jornal O Estado de S. Paulo também não compareceu nesta terça-feira.
Em
seguida, ao ouvir explicação de um jornalista sobre a decisão de alguns
veículos de não estarem ali por questão de segurança, o presidente houve por
bem atacar esses grupos de mídia, afirmando que "Estão se vitimizando.
Quando eu levei a facada, eles não falaram nada. Não vi a Folha falando quem
matou o Bolsonaro". (A expressão “... falando quem matou Bolsonaro”
foi copiada da reportagem do G1, exatamente nestes termos, não se precisando
que o presidente teria dito exatamente isso, mas, se foi dito assim, o texto
não corresponde à realidade, porque o presidente se encontra vivo).
Logo
em seguida, como forma de desmascaramento e ao contrário do informado pelo
chefe do Executivo, a Folha de S.Paulo informou que se manifestou sobre
a agressão ao então candidato à Presidência, em forma de editorial, de maneira
imediata, condenando o ato de violência acontecido na campanha eleitoral.
No
editorial intitulado "Repúdio Geral", o jornal afirmou, em 7
de setembro de 2018, que o "atentado contra Bolsonaro não tem acolhida
num país que está comprometido com a democracia".
Em
seguida, o presidente argumentou que nunca promoveu nenhum ato contra a mídia e
que defende uma imprensa livre, tendo ressaltado que "Nunca persegui
ninguém, mas o ditador sou eu", ou seja, nesse caso, ele aproveitou o
ensejo para se vitimizar.
Em
razão das agressões à parte da imprensa, o Gabinete de Segurança Institucional
informou que "Continuaremos aperfeiçoando esse dispositivo, para que o
local permaneça em condições de atender às expectativas de trabalho e de livre
manifestação dos públicos distintos que, diariamente, comparecem ao Palácio do
Alvorada.”.
Na
nota, aquele gabinete afirmou que avalia "ininterruptamente as
condições de segurança dos locais onde o presidente esteja ou possa vir a estar.
Em decorrência desta avaliação, implementa as medidas necessárias e suficientes
para garantir a segurança adequada.".
Com
as vênias de estilo, essa decisão adotada por meios de comunicação, de se
retirarem de local costumeiro de o presidente se relacionar com a imprensa, é
da maior gravidade e diz muito com a sensatez e a sensibilidade da compreensão
humana, diante das condições hostis estabelecidas no local, que é, pasmem, a
entrada da casa do presidente do país, o que, por isso, demonstra total
indiferença por parte dele, quando ele prefere, de maneira insensível à gravidade
do fato, apenas caracterizar como sendo ato de vitimização o afastamento de
meios de comunicação do local, dando a entender que é problema dos citados
órgãos e não da segurança no local.
O
presidente deixa de atentar para o fato grave, como mostrado pela mídia, de que
os jornalistas e repórteres foram realmente agredidos verbalmente, de forma violenta,
sem houvesse oficial nenhuma segurança para defendê-los, o que seria natural,
repita-se, à vista de se tratar de local especial, onde não é permitido segurança
particular.
À
toda evidência, trata-se de situação que não condiz com os princípios de
cidadania e civilidade, pelo menos na visão própria dos países com o mínimo de
seriedade e evolução, em termos de sentimento humanitária, independentemente do
relacionamento entre o presidente da República e as empresas ofendidas, porque
é preciso distinguir a obrigatoriedade da segurança de trabalho, que é o caso,
com as querelas existentes entre ambos, porque o bom senso e a racionalidade
dizem que esses assuntos precisam ser resolvidos na esfera apropriada, como, se
for caso, na via judicial ou em outro que possa contribuir para a sua solução
civilizada, como tem sido feito, de forma normal e inteligentemente, nas nações
desenvolvidas, que procuram resolver as questões o mais rapidamente possível,
ao contrário do país tupiniquim, cuja autoridade máxima fica alimentando
disputas a ad eternum, como se o caos possa oferecer benefício para
alguém.
Mesmo
que as empresas tivessem aproveitando o incidente da agressividade para se
vitimizarem, não compete ao presidente fazer ilação nesse sentido e ainda com
tamanho despropósito, em razão da relevância do cargo de estadista que ele exerce,
que exige que, no mínimo, ele compreendesse a gravidade da situação e
determinasse, de imediato, a adoção de medidas necessárias ao saneamento do
problema, em oferecimento de garantia ao trabalho da imprensa, com total tranquilidade,
segurança e conforto, com o que ele demonstraria sentimentos nobres de sensibilidade
e inteligência.
Assim
procedendo, o presidente evidenciaria espírito de tolerância e valorização do trabalho
da imprensa, podendo até mencionar que, apesar das rusgas entre ele e as aludidas
empresas, os fatos pertinentes não se confundem com a falta de condições de trabalho,
que é imprescindível para a sociedade.
Ao
se indagar se as referidas empresas de comunicação estavam presentes, provocando
risos de todos, há evidência de sentimento de explícito sadismo, diante dos semblantes
de incontidos prazer e satisfação em relação a algo que não é normal que aconteça,
cuja circunstância exigiria que as empresas ausentes pudessem estar também ali,
cumprindo regularmente o seu papel de trabalhar em benefício da sociedade, na
forma de noticiar os fatos mais importantes também do país.
Trata-se
de procedimento deplorável, diante da demonstração de alegria pela ausência de profissionais
da imprensa, por força de situação nitidamente triste que, ao contrário, em
governo sensato, cumpriria lamentar o ocorrido e adotar as medidas necessárias
ao saneamento da questão e não ficar se vangloriando do infausto.
Ou
seja, ao contrário de se valorizar ou se promover, no sentido de aparentar
homem público com gesto de sensibilidade e nobreza, que poderia se materializar
se houvesse aceitação e compreensão às queixas das empresas de comunicação,
garantido pessoalmente a segurança para elas, o presidente preferiu acusá-las
de promover a própria vitimização.
À
toda evidência, isso só demonstra brutais indiferença e insensatez para situação
da maior gravidade, além de ficar patente que ele achou foi bom que isso
tivesse acontecido da forma animalesca e incivilizada nada admissível para os
padrões de respeito, tolerância e compreensão que precisam prevalecer nas relações
sociais e que o governo com o mínimo de sensatez jamais poderia ser complacente
com ato dessa natureza.
Certamente
que a maneira deselegante e desatenciosa do presidente da República, quando houve
por bem entender que a questão em causa se trata de processo de vitimização, por
parte das empresas de comunicação que alegaram falta de segurança, para
deixarem de fazer a cobertura jornalística, na entrada do Palácio da Alvorada,
só demonstra insensibilidade diante de situação extremamente delicada que, ao contrário,
a sua solução contribuiria para elevar o moral do homem público, que tem
consciência sobre a distinção dela de outros casos, porque realmente eles são diferentes.
Brasília,
em 29 de maio de 2020
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