terça-feira, 26 de maio de 2020

Batida em retirada...


Alegando a falta de segurança para trabalhar, os grupos Globo e Folha de S. Paulo decidirem deixar o plantão no Palácio da Alvorada, em Brasília.
Conforme notícia publicada no G1, alguns apoiadores do presidente da República ficam lado a lado com os jornalistas e têm perturbado o trabalha dos profissionais de imprensa, por meio de insultos e agressões verbais, de forma mais intensa e desrespeitosa, de modo a constranger o trabalho deles.
Diante disso, o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo comunicou, hoje, a referida decisão, por meio de carta, ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
Consta do documento o seguinte comunicado: “Trazemos ao conhecimento desse Gabinete uma questão que envolve a segurança da cobertura jornalística no Palácio da Alvorada. É público que o Senhor Presidente da República na saída, e muitas vezes no retorno ao Palácio, desce do carro e dá entrevistas bem como cumprimenta simpatizantes (…) Entretanto são muitos os insultos e os apupos que os nossos profissionais vêm sofrendo dia a dia por parte dos militantes que ali se encontram, sem qualquer segurança para o trabalho jornalístico.”. 
A nota diz ainda que “Assim informamos por meio desta que a partir de hoje nossos repórteres, que têm como incumbência cobrir o Palácio da Alvorada, não mais comparecerão àquele local na parte externa destinada à imprensa”.
Já a Folha de S. Paulo disse que o destrato também vem do presidente do país, conforme artigo publicado ontem, onde se afirma que ele criticava a imprensa  presencialmente, a exemplo do seu recado deixado nestes termos: “No dia em que vocês tiverem compromisso com a verdade, falo com vocês de novo”. 
Na narração, a Folha ainda comunicou que apoiadores do presidente trocam ataques sempre que possível com jornalistas, entre eles xingamentos como “Escória”, “Lixo” e “Ratazanas”.
O jornal ainda revelou que pretende apenas retomar a cobertura local após garantias de segurança serem instauradas aos seus profissionais pelo Palácio do Planalto.
É evidente que as duas empresas de comunicação que decidiram se afastar da frente do Palácio da Alvorada, por motivo mais do que justificado, demonstra falta de segurança não propiciada pelo governo, haja vista que se trata de área pública sob os cuidados da sua segurança pessoal e nem poderia ser diferente diante da proximidade da entrada da residência dele, não importando que haja desavença de opinião entre ele e parte da imprensa.
É preciso deixar muito claro que os citados órgãos de comunicação estão devidos e legalmente autorizados à prestação das notícias e informações que são de interesse da sociedade e o local dos atritos tem sido o point da imprensa para captar informações diretas da principal fonte do país, por meio do presidente, que normalmente se dispõe, de forma democrática, a trocar informações com os repórteres que ali ficam à espera desse contado especial.
Ressalte-se que as queixas e as querelas possivelmente existentes entre o presidente do país, que, aliás, são inegáveis, não podem interferir no trabalho normal da imprensa, enquanto houver permissão para o seu funcionamento, porquanto os fatos motivadores das desavenças devem ser discutidos e tratados na jurisdição adequada, que é forma de procedimento civilizado de se cuidar dos interesses das partes prejudicadas ou ofendidas.
É óbvio que somente duas empresas de comunicação enfrentam esse grave problema de insegurança para a realização de seu trabalho, no aludido local, mas, acredita-se que, por questão de solidariedade entre os profissionais, seria interessante que todos saíssem de lá, para que houvesse interesse na segurança da imprensa e na conscientização de pessoas, que precisam valorizar a importância dela, com a  liberdade próprias das nações democráticas, de modo que o seu trabalho seja respeitado e reconhecido como indispensável ao aperfeiçoamento da democracia.
Um pouco de inteligência e perspicácia, seria facilmente possível se compreender que o desconforto pelo qual foram obrigadas a suportar as aludidas empresas de comunicação tem péssima repercussão no estrangeiro, onde o conceito da imprensa merece as melhores avaliações, em termos da sua importância para o desenvolvimento da humanidade.   
Por mais que se entenda que a imprensa tem muito poder de influência, essa situação é lamentável e inaceitável, por se evidenciar que a omissão do governo pode contribuindo para a trituração de princípio essencial da democracia, qual seja o de informar e noticiar os fatos da vida.
Para o bom entendedor, que valoriza o trabalho da imprensa, isso que está acontecendo na porta da casa do presidente da República demonstra cristalina forma de retrocesso social, onde parte da imprensa é agredida na sua liberdade de trabalho, que até parece que tal atitude conta com o apoio e a concordância de quem usa meios igualmente inusuais, em determinadas situações, quando deveria ser o contrário, diante da importância do cargo que ocupa, que tem o dever cívico, patriótico e democrático de ser tolerante, compreensível e compassivo também para com a imprensa, diante da importância social exercida por ela.
Na verdade, não é difícil se compreender que esse é exatamente o caminho inverso e indesejável ao desenvolvimento da humanidade, que tanto se sacrificou para que a imprensa tenha alcançado nível de progresso com capacidade de trabalhar incansavelmente em benefício do homem moderno.
Custa creditar que a imprensa não tenha segurança para trabalhar logo na entrada da casa do povo, porque a residência do presidente da República somente lhe pertence no seu mandato, mas ela continua sendo mantida pelo povo, de forma permanente.
A verdade é que, não havendo realmente segurança para a imprensa, logo na frente da residência oficial do presidente da República, conforme mostraram os fatos recentes, não tem como os meios de comunicação, principalmente aqueles que são classificadas como antagônicos ao pensamento do mandatário da nação, desempenharem o seu relevante trabalho de informação à sociedade, naquele local, fato que constitui imperdoável nódoa atribuível ao governo, que permitiu, pela omissão da sua segurança, que houvesse injustificável perturbação da ordem pública, praticamente dentro da sua casa.
            Brasília, em 26 de maio de 2020

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