quarta-feira, 20 de maio de 2020

Estudo científico brasileiro


A imprensa publicou reportagem, na data de ontem, no sentido de que a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia informaram que 27 especialistas analisaram medicamentos e terapias aplicados em pacientes infectados com Covid-19, tendo por base a cloroquina e a hidroxicloroquina, e chegaram à conclusão de que diversos procedimentos postos em prática "carecem de apropriada avaliação de efetividade e de segurança".
Nos termos do documento elaborado pelas mencionadas instituições representativas de profissionais da medicina, as aludias drogas, que são receitadas usualmente para o tratamento da malária, “não devem ser usadas como tratamento  de rotina contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2)”.
As referidas entidades disseram que, após a revisão de três estudos, os especialistas afirmam que "as evidências disponíveis não sugerem benefício clinicamente significativo".
Elas informaram ainda que os medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina representam “risco moderado de problemas cardiovasculares nos pacientes, como arritmia.”.
Consta desse documento que o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina só pode ser considerado para “casos graves, de pessoas hospitalizadas, em ‘decisão compartilhada entre o médico e paciente.’. Os profissionais de saúde devem evitar ministrar, ao mesmo tempo, medicamentos que também alterem os batimentos cardíacos.”.
Trata-se de decisão da maior importância para o tratamento da Covid-19, à vista de traduzir o consenso de três entidades científicas brasileiras que recomendam, de forma categórica, que não  utilizem a hidroxicloroquina, a cloroquina e de suas associações com azitromicina, na rotina do referido tratamento.
Conforme a reportagem, os estudos que levaram a essa importante decisão foram  liderados pela Associação Hospitalar Moinhos de Vento (Porto Alegre), pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz e pelo Hospital Sírio-Libanês (São Paulo), que estão entre os principais hospitais brasileiros, em atuação no tratamento da Covid-19.
Na opinião desses especialistas, “O nível de evidências para uso da cloroquina e sua derivada é fraco.”.
O aludido grupo foi composto por infectologistas, especialistas em medicina intensiva, pneumologistas, farmacêuticos, epidemiologistas e especialistas em saúde pública, que promoveram revisões em estudos disponíveis sobre as terapias diversas contra a Covid-19.
De acordo com as entidades científicas, os pesquisadores se basearam em dois ensaios clínicos randomizados, que consistem em estudo com as evidências mais robustas sobre a eficácia ou não do medicamento, e abertos em pacientes com doença leve a moderada e estudo de coorte, considerando os dados disponíveis nos supracitados hospitais.
As entidades científicas atestam, com total segurança, que "as evidências disponíveis não sugerem benefício clinicamente significativo do tratamento com hidroxicloroquina ou com cloroquina", tendo reafirmado que esse mesmo entendimento vale para o uso da combinação desses remédios com a azitromicina.
Os especialistas esclarecem que as avaliações foram realizadas em pacientes hospitalizados, não tendo experiência com base para uso ou não da droga em pacientes ambulatoriais, o que significa dizer que a utilização dos estudos só tem aplicação para pacientes graves ou críticos, hospitalizados e com monitoramento da sua situação clínica.
Em que pesem as evidências científicas, obviamente com base em estudos em processos de acompanhamento clínico de doentes do Covid-9, não recomendarem o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina nesses casos, o presidente brasileiro decidiu que hoje vai haver a mudança do protocolo médico, autorizando o uso dessas drogas para todos os casos.
A compreensão que se tem sobre a recomendação científica em apreço é a de que os remédios de que se tratam não são totalmente eficazes, não descartando possíveis casos em que eles foram eficientes, em planos comparativamente a placebos, que são aplicados em procedimento inerte, que podem até apresentar efeitos terapêuticos devidos aos sentimentos psicológicos da crença do doente de que ele precisa ser tratado e curado, tendo por base a medicação ministrada para ele.
Ou seja, assim como o placebo pode resultar em efeito positivo, também pode acontecer com os remédios que estão sendo administrados aos pacientes da Covid-19, na esperança, por parte do doente, de que aquelas drogas são capazes de produzir a sua cura, graças não propriamente aos efeitos terapêuticos deles decorrentes, mas sim psicológicos, conforme demonstram as experiências científicas, largamente difundidas.
É evidente que o presidente brasileiro não tem alternativa, nas circunstâncias, a par do desaconselhamento da medida por entidades científicas, ou seja, inexiste amparo científico.
Na verdade, há toda evidência de que os interesses políticos prevalecem nessa questão, ficando muito patente que a decisão presidencial se harmoniza perfeitamente com a sua linha tresloucada de contrariar as políticas de combate ao coronavírus, que tem sido disseminada permanentemente.
Convém se compreender que as políticas públicas precisam se harmonizar com os princípios da racionalidade e do bom senso, levando-se em conta estudos, experiências e demais normas compatíveis com as regras e condutas de boas gestões públicas.
Não se quer dizer com isso, fazendo juízo de valor antecipado sobre a atitude do presidente, principalmente porque ele parte do pressuposto de que o seu projeto só vai beneficiar a população, sem se levar em conta a voz da ciência, que, em princípio lógico, precisaria prevalecer nesse caso de suma importância para a saúde  e o interesse públicos.
É preciso se atentar para o fato de que a questão não poderia ter sido decidida apenas na vontade política do presidente, na opinião de alguns médicos e de seguidores dele, quando há importantes opiniões divergentes, a exemplo das adotadas pelas aludidas entidades científicas, que tiveram o cuidado de estudar, avaliar e revisar, a fundo, a questão relacionada com o coronavírus, para se concluir que não vale a pena a administração dos remédios em questão.
O que se pretende suscitar, com toda essa divagação, com vistas ao melhor encaminhamento acerca do combate à momentosa pandemia do coronavírus, é que o tratamento conduzido pelo governo pudesse  envolver nele a sociedade em geral, em que, de maneira democrática, os especialistas, as entidades representativas de classes profissionais, os estudiosos, como forma de benéfica contribuição com seus conhecimentos e suas experiências, na positiva participação na busca da melhor solução para tão difícil crise da saúde pública brasileira.
Enfim, diante dessa realidade, em que entidades científicas, especialistas da área vital da saúde pública, se pronunciam pela inutilidade do tratamento da gravíssima doença do Covid-19 com o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, e o governo, com base apenas na experiência política do presidente da República, sem nenhum aconselhamento técnico-científico oficial, porque é inexistente, e com o apoio de boa parte da população, decide implantar o novo protocolo médico para o tratamento daquela doença.
Queira Deus que as nossas preces sejam ouvidas, no sentido de que, com a aprovação do novo protocolo médico, os medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina passem, com as graças divinas, a fazer efeitos efetivos e milagrosos contra o Covid-19, em contrariedade aos resultados científicos firmados por respeitáveis entidades especializadas em saúde pública.
Brasília, em 20 de maio de 2020

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