Em
mensagem que circula nas redes sociais, há a seguinte pergunta: “Quem será o
próximo ministro da Saúde? Tanto faz, enquanto Bolsonaro estiver presidente.”.
Foi
aí quando eu escrevi que gostaria muito de queimar minha língua, mas pessoa
competente e responsável certamente não será, diante da certeza de ter que
engolir as ordens, muitas vezes absurdas, de quem deveria ter mais respeito em
relação ao tratamento dispensado aos ministros, que são sim seus assessores
diretos, mas não seus moleques de recado, sujeitos à exoneração sem o mínimo de
respeito ao seu trabalho e ao princípio da civilidade, como aconteceu com as
duas últimas.
No
caso do ministro da Justiça, o cidadão com a competência e a autoridade, com
reconhecimento internacional, do ex-juiz da Operação Lava-Jato foi descartado
exclusivamente porque não aceitou que o presidente intervisse politicamente em
órgão de Estado, para que a sua família passasse a ser mais protegida do que já
é ou sabe-se lá outras intenções inconfessáveis, conforme mostram as conversas
nada republicanas constantes do vídeo de reunião ministerial.
Ontem,
foi a vez do ministro da Saúde, que foi despedido porque não se sentiu à
vontade para concordar com o emprego do hidroxicloroquina no combate ao
Covid-19, a despeito de terem vários protocolos recomendando a eficácia dele em
casos já comprovados.
Isso
até pode ser verdadeiro, mas muitos médicos, no caso dos ex-ministros da Saúde,
procuraram demonstrar zelo pelo seu nome, em não concordarem com a implantação
do protocolo cogitado pelo presidente, em razão exatamente de as instituições e
entidades de controle e fiscalização sobre os casos referentes à saúde pública,
incluindo, nessas questões, os medicamentos, ainda não terem se pronunciado
favoravelmente à aceitação do remédio para tal finalidade, diante das dúvidas,
em nível técnico-científico, ainda existentes, que são plausíveis ou não, mas
essa é a realidade fática.
Não
obstante, isso parece não ser problema para o presidente brasileiro, que acha
que tem poder suficiente para determinar o que o Ministério da Saúde tem que
fazer e cumprir para satisfazer a sua imperiosa vontade, repita-se, correta ou
não, ao meio de incertezas, à vista de opiniões dissonantes, que há realmente constatação
de sucesso do uso da cloroquina, mas há estudos que afirmam a ineficácia dele.
Não
obstante, o presidente pode até ter suas razões, diante de algumas evidências,
embora haja quem esteja também atestando que o remédio não tem eficácia contra
o Covid-19, com base em estudos recém-publicados em revistas especializadas, resultando
que, na dúvida, como agir com as necessárias certeza, segurança e confiabilidade?
Nesse
sentido, ocorre que, normalmente, os países civilizados e evoluídos costumam
seguir as orientações emanadas pelas referidas instituições que cuidam dos
interesses da saúde pública, a exemplo do que aconteceu com o isolamento
social, que foram seguidas rigorosamente, pelo Brasil, com base nas orientações
e experiências originadas da Organização Mundial da Saúde, a despeito de o
presidente brasileiro nunca ter concordado com elas, conforme demonstram as suas
atitudes de explícita rebeldia, em péssimo exemplo de incivilidade.
Como
presidente do país, ele precisa ser modelo de fiel cumpridor das regras
aplicáveis aos brasileiros, mostrando que, embora não concorde com elas, a
liturgia de príncipe da República exige que ele se comporte com a elegância
compatível com a relevância do cargo que ocupa.
Os
brasileiros, no âmbito das suas responsabilidades cívica e patriótica, precisam
se conscientizar de que as questões de interesse nacional devem ser conduzidas
sob a égide dos princípios da racionalidade, da competência, da tolerância e da
sabedoria, considerando que o emprego de métodos diferentes dessa forma moderna
de gestão pública terá o colhimento de resultados nem sempre satisfatórios para
o pleno atendimento dos interesses da sociedade.
Brasília,
em 16 de maio de 2020
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