segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A prova do saber?

            Uma garota de Cajazeiras, Paraíba, de 17 anos, foi primeiro lugar no vestibular do importante curso de medicina da Universidade de São Paulo (USP), cujo resultado é motivo de encômios por se tratar de aluna oriunda de escola pública, frequentadora do curso técnico de informática do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), campus dessa cidade.

O auspicioso sucesso nos estudos encorajou a adolescente a declarar que isso é prova do quanto a Paraíba e o Nordeste são capazes no campo da Educação, tendo pontificado, in verbis: “Sabemos que as pessoas acreditam que no Nordeste não temos educação e instrução, mas isso mostra o contrário. Tenho orgulho de mostrar que a Paraíba é capaz de formar seus cidadãos.”.

A mãe da adolescente disse que a filha sempre foi muito estudiosa e que “Maria Clara, desde muito pequena, é muito estudiosa, dedicada e disciplinada. A gente torcia e até esperava que ela fosse conseguir realizar o sonho de entrar para medicina. Mas, dessa forma que ocorreu, sendo primeiro lugar na USP, superou todas as expectativas, todos os sonhos.

A jovem cajazeirense disse que era muito disciplinada nos estudos, tendo iniciado a sua preparação concomitante ao surgimento da pandemia do coronavírus, logo no período de isolamento, quando passava a maior parte do tempo no quarto, estudando, quando, mesmo no período mais difícil das aulas on-line, ela disse que continuou se dedicando aos livros, com foco no Enem, cuja rotina de estudos intensos no colégio, pela manhã, ela se dedicava com afinco, em casa.

A adolescente disse que, ipsis litteris: “Começava (a estudar) por volta das 8h da manhã, fazia uma pausa para o almoço, às 11h mais ou menos, e voltava a estudar pela tarde, às 13h, e ia até umas 17h. Aí eu fazia mais uma pausa e, geralmente, voltava a estudar mais duas ou três horas de noite — diz ela, que em março do ano passado já tinha passado por todo o conteúdo do ensino médio.”.

A dedicada vestibulanda disse que os meses seguintes foram de revisão: “Em 2022, meu principal foco era revisar. Então eu fiz muitas questões e muitos simulados e provas antigas do Enem. Acho que foi o principal ponto da minha preparação.”.

A garota disse que, na sua trajetória, ter recebido fundamental apoio da família, que “foi importante para a superação de muitos obstáculos que nos separam dos nossos sonhos, desde problemas financeiros até a pressão e a insegurança que todos os vestibulandos sentem. Mas com dedicação e com o apoio das pessoas ao seu redor é possível superá-los.”.

À toda evidência, como nordestino que compreendo as terríveis dificuldades enfrentadas pelo povo do sertão, sinto o dever de me solidarizar com o sucesso dessa menina, em especial pelo coroamento de seu empenho, na construção de um sonho absolutamente possível de se alcançar, como exatamente foi conseguido por ela, que teve a iniciativa de se programar e se isolar, de maneira sistemática e produtiva visando ao seu objetivo de passar no importante e concorrido vestibular do curso de medicina de grande universidade brasileira, que é a principal especialização profissional ansiada por todos os patrícios.

Sem dúvida alguma, a jovem cajazeirense tem todo direito de exaltar as suas qualidades de vencedora nos estudos, como resultado apenas dos seus descomunais esforços de quem já tinha objetivos claros e definidos a alcançar e somente por meio dos estudos metódicos e planejados, associados e importantes fatores, como bem definidos por ela, na sua sinceridade de que foi extremamente aguerrida nos estudos, que ainda contou com a ajuda, em forma de apoio da família dela, em tudo se convergindo para o atingimento do estrondoso sucesso dela.

Essa aí é a verdadeira chave da vitória dessa menina de ouro, que precisa sim ser reconhecida por seus méritos, como eleita por sua dedicação e por seu exclusivo esforço, por ela ter sido capaz de estudar afinco e superar os obstáculos próprios, o que é bem diferente de quem não estuda e nem se esforça e ainda espera que apareça o sucesso, ou seja, trata-se de situação clássica de quem tem objetivos definidos na vida e faz tudo rigorosamente com essa finalidade, conforme ela mesma assim se definiu como pessoa ajustada para os estudos.

Isso não serve de prova no sentido de que ser paraibano, sertanejo ou nordestino tem capacidade para a realização, porque não foi ela ser apenas cajazeirense que conseguiu a glória, mas sim porque ela se esforçou ao máximo para ser vitoriosa, cujo feito poderia ter sido alcançado por qualquer pessoa que se esforçasse igualmente nos estudos, não importando o lugar onde ela tenha nascido ou estudado, se em escola pública ou particular, porque o fator determinando no sucesso dela foi, indiscutivelmente, a dedicação ferrenha aos estudos, em detrimento de outras atividades.

Diante disso, é preciso se acabar, de vez, com a eterna tristeza e mesquinhez dessa história de se imaginar sobre a inferioridade do nordestino, em relação ao resto do país, como nesse caso, em que se aproveita situação absolutamente normal, fruto do descomunal esforço, visivelmente isolado e pessoal, para tentar enaltecer a generalização de algo que não tem nada vinculante com a realidade.

Prova dessa assertiva é mostrada na expressão da inteligente vestibulanda, que disse, certamente em tom de puro desabafo, que “Sabemos que as pessoas acreditam que no Nordeste não temos educação e instrução, mas isso mostra o contrário. Tenho orgulho de mostrar que a Paraíba é capaz de formar seus cidadãos.”.

Na concepção razoável e sensata, o sucesso dessa menina não tem nada a ver com o que ela afirma, no sentido de que o Nordeste tem educação e instrução, tendo ele concluído, não de tudo corretamente, que “Tenho orgulho de mostrar que a Paraíba é capaz de formar seus cidadãos.”.

Isso que ela disse não pode ser considerado como absolutamente verdade, porque estaria ela se apoderando do caso isolado acontecido com ela, que estudou, se esforçou e conseguiu passar em difícil e importante vestibular, sendo notório que se trata de caso pessoal, ímpar, de quem fez por merecer, por dedicação própria e não por conta do Estado, quando os demais paraibanos, que não se esforçaram, jamais vão conseguir o mesmo brilho no sucesso alcançado por dela.

À toda evidência, o caso dessa medida conduz, de forma inevitável, à conclusão de que o exemplo dela é sim motivo para ser enaltecido e seguido pelas pessoas que pretendem ser vitoriosas na vida, independentemente onde more ou estude, por se tratar de façanha extraordinária e da maior importância para a educação da Paraíba, mas somente e especificamente no sentido de se mostrar que o sucesso nos estudos não depende do sistema educacional do Estado, que precisa melhorar em muito, como de resto de todo o Brasil, mas sim dos denotados esforço e dedicação pessoal de jovem de fibra.

          Brasília, em 20 de fevereiro de 2023

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