domingo, 2 de janeiro de 2011

Botafogo

Ilmº Sr.
Joel Santana
Técnico do Botafogo Futebol e Regatas

Ao ensejo do início de seu trabalho à frente do elenco do querido Botafogo, com vistas à conquista de muitos títulos no decorrer do ano que se inicia, senti a necessidade de me dirigir a Vossa Senhoria para transmitir a minha modesta opinião a respeito de alguns fundamentos relacionados com o futebol, que estão merecendo melhor reflexão sobre a possível necessidade de atenção, conforme os casos a seguir abordados, na tentativa da obtenção de mais organização, eficiência e, principalmente,  resultados positivos:

I – Disciplina em campo:

Há time disciplinado e time indisciplinado e por que razão isso ocorre?  Pode ser em decorrência do tratamento dispensado em cada caso, tudo dependendo da vontade dos dirigentes, incluindo dos treinadores, em aceitarem ou não o comportamento em campo dos atletas, como se tudo fosse natural no futebol, mesmo que isso contrarie os interesses do clube e infrinja as normas desportivas.

Alguns jogadores cometeram seguidas e sérias atitudes antidesportivas e normalmente não há punição disciplinar a altura, como forma de ensinamento pedagógico e corretivo, com vistas a servir como exemplo para evitá-las no futuro, contribuindo também como benefício para os atletas e para a instituição, uma vez que os jogadores têm a obrigação de defendê-la, honrá-la e zelar pelos seus interesses.

Daí a premente necessidade de os atletas serem devidamente orientados, de forma exaustiva, no sentido de evitarem indisciplinas em campo, como violências contra adversários e transgressões de qualquer ordem, sob pena de serem penalizados com sanções na redução do seu salário ou no seu afastamento do time, conforme o caso.

O certo é que time indisciplinado gera prejuízo para todos os envolvidos, tanto para o jogador, que sempre fica marcado por seu ato hostil e contrário à boa prática desportiva, como para o clube, que poderá ficar desfalcado de uma peça importante, em pleno certame.

Portanto, o técnico, além da diretoria do clube, tem a importante missão e a grande responsabilidade na precisa orientação dos atletas sobre a necessidade da permanente busca da tão almejada disciplina em campo, porque por certo todos serão beneficiados e poderão atingir melhores resultados nas competições.

II – Arbitragem:

Evidentemente que é da índole do brasileiro reclamar de tudo e de todos, não aceitando passivamente as decisões tomadas por quem de direito, principalmente se ela vier do árbitro de futebol.

No caso específico do futebol, raríssimos são os juízes que voltam atrás na sua decisão e não adianta reclamação, porque isso somente serve para contribuir para dificultar o relacionamento entre o árbitro e o reclamante, que ainda poderá ser admoestado com cartão (amarelo ou vermelho), vindo a prejudicar grave e diretamente o seu time, inclusive podendo sobrecarregar os companheiros, caso seja eliminado do jogo.

É da competência do técnico a orientação aos atletas, de forma sistemática, na preleção antes de cada jogo, no sentido de aceitarem pacificamente as decisões da arbitragem, por mais absurdas que elas possam ser, porque essa concordância ajuda a evitar conseqüências desgastantes e estressantes além do que já acontecem no jogo em si.

Sabidamente, essa “disputa” travada entre jogador e arbitragem só resulta em prejuízo para o clube do reclamante, podendo ainda envolver, em muitos casos, os torcedores, prejudicando desnecessariamente o espetáculo.

O jogador precisa ser conscientizado pelo técnico e pela diretoria do clube de que não lhe cabe questionar o erro eventualmente  praticado pelo juiz de futebol, uma vez que a sua obrigação se restringe à prática desportiva, que, em princípio, deve ser dedicada com exclusivo empenho da profissão do futebol, para a qual é devidamente pago pelo clube, que espera que a sua atitude em campo seja apenas e tão-somente jogando bola da melhor qualidade possível e impossível, sem se envolver em questões relacionadas com a aplicação das regras futebolísticas, que é da competência exclusiva da arbitragem.

Como se vê, há realmente necessidade de preparação dos atletas para lidarem com naturalidade com as decisões da arbitragem, aceitando-as sem qualquer contestação, sob pena de virem a prejudicar a si próprios e o time, por resultarem punição que pode refletir no elenco, pelo possível descontrole nas suas ações em campo, podendo, com isso, beneficiar o time adversário, em razão da fragilidade emocional demonstrada.

Em 2009, o time do Botafogo não foi exemplo de disciplina em campo, quando o seu elenco mereceu vários cartões amarelos e vermelhos e que a arbitragem esteve no palco das reclamações, fundadas ou não, mas o que importa é que urge incutir na consciência dos atletas a mentalidade de desportividade e de disputa saudável do jogo, mostrando-lhes que o sentimento de competitividade por bons resultados não necessita de agressividade e rivalidade. Ao contrário, esse comportamento descontrolado pode apenas facilitar decisivamente para o insucesso de qualquer jornada.
                                                
III – Comemoração do gol:

Não há dúvida de que o gol, por ser o objetivo maior do espetáculo, deva ser devidamente comemorando pelo seu autor e por todo o elenco e também pelos torcedores, evidentemente. Contudo, o bom senso recomenda que não haja cenas exageradas nesse momento, mas que isso ocorra de forma discreta, a exemplo do que normalmente faz o Lúcio Flávio, que simplesmente se ajoelha em campo e agradece aos céus pelo feito, sendo cercado pelos demais atletas em efusiva comemoração, apenas em evidente demonstração de alegria e de união entre eles, como recomendam as boas e salutares regras desportivas.

Na verdade, além de serem deselegantes as comemorações exageradas, chegando ao ponto de humilhar os torcedores e o time adversários, elas têm o condão de propiciar ao adversário a necessidade de superação para também fazer gol e devolver com a mesma moeda as provocações anteriormente recebidas. Portanto, a extravagância na comemoração ajuda a criar estímulo para o adversário, funcionado, assim, em desfavor de quem a patrocina e incentiva.

O técnico competente e experiente tem o dever de orientar seus pupilos no sentido de comemorar o gol de forma comedida, dentro do campo e respeitando com elegância os brios do elenco e dos torcedores adversários, evitando correrias desnecessárias e, de certa forma, desgastantes fisicamente, que poderão prejudicar, em muitos casos, o rendimento do atleta, no decorrer do jogo, sem descartar, ainda, da possibilidade de o jogador ser punido com cartão amarelo, ante a sua atitude antidesportiva, tudo isso podendo prejudicar o seu time, em razão da extrapolação de regras básicas de respeito ao seu semelhante.

IV – Futebol coletivo:

Um grande time pode ser composto por ótimos jogadores, mas os resultados positivos, as vitórias, somente serão viabilizados com muito treinamento e entrosamento entre os seus componentes e isso, necessariamente, não pode prescindir do jogo coletivo, devendo ser relegado qualquer espécie de individualismo, que somente serve como inútil tentativa de resolver o jogo sozinho, porque isso não é benéfico para o time.

Ao treinador compete instruir os jogadores no sentido de praticarem futebol solidário, em conjunto entre o elenco, não permitindo que o individualismo exagerado, recriminado por todos, possa ser praticado por quem quer que seja, mesmo que ele se torne a estrela da companhia, não importa, sob pena de prejudicar todo o trabalho da equipe.


V – Impedimento:

Ultimamente, esse fundamento do futebol vem ocorrendo com extrema frequência e chega a ser visivelmente prejudicial aos interesses do time, porque, na sua grande maioria, ele é fruto da absoluta falta de atenção do atacante, que, de forma desleixada e desatenciosa, fica permanentemente sozinho atrás dos zagueiros, em total desligamento do jogo.

Esse tipo de falha pode ser facilmente saneada, basta que o técnico não se canse de alertar o atleta, tanto nos treinos como nos jogos propriamente sobre a sua correta posição em campo, sempre se policiando no sentido de se colocar em condição de receber a bola em condições normais para o prosseguimento da jogada.

Não há dúvida que o impedimento ocorre por falta de exaustivos treinamentos e isso, certamente, e, em muitos casos, pode ter a participação do técnico, ao se conformar com a situação, como se isso simplesmente fizesse parte do jogo e nada faz para evitar uma prática bastante perniciosa e deveras prejudicial aos resultados dos jogos, uma vez que pode se dar o luxo de ser desperdiçada, de forma bisonha e ridícula, uma grande jogada, um excelente lançamento, em razão da situação desatenciosa do atacante.

Na realidade, em todo caso de impedimento, o atacante age, em última análise, como verdadeiro defensor adversário, operando de forma paradoxalmente em benefício do opositor, ao paralisar a jogada bem construída pelo seu time e nada acontece com ele, que sequer é alertado para corrigir o seu posicionamento em campo.

Portanto, concito-o a por em práticas treinamentos apropriados e permanentes para se evitarem impedimentos bobos, devendo ser alertados os atacantes, principalmente antes dos jogos, sobre o seu posicionamento em campo, ante a possibilidade resultarem em sucesso todas as bolas que forem lançadas para ele.

VI – Bolas lançadas por laterais:

Na atualidade, raros são os alas que sabem fazer, com perfeição, cruzamento de bolas na área. É comum vê-los, após lindas jogadas, darem chutões que só faltam ultrapassar a bola sobre as arquibancadas e noutros casos a bola é lançada na outra margem do campo, bastante distante do local desejado. São, na verdade, jogadas ridículas e contrárias à boa prática do futebol moderno, sendo, sem dúvida, prejudiciais ao jogo, por desperdiçarem conclusão com razoável chance de sucesso de gol, propiciando ainda enorme frustração para os atacantes, que estão na área ávidos por uma bola “redondinha” ao seu alcance, prontos para finalizar a jogada.

Inobstante, há uma fórmula eficiente para corrigir falha dessa natureza, apenas obrigando o atleta treinar de forma exaustiva, além dos treinos regulares, lançamentos de bola na área, até a obtenção da indispensável perfeição e isso não deve ser nada desgastante, porque triste mesmo é o jogador profissional não conseguir executar corretamente a sua obrigação básica.

VII – Atacante pode errar gol feito?

A função primordial do atacante é fazer gol e, para tanto, o atleta deve ser devidamente treinado, preparado e orientado para exercer o seu mister com toda eficiência, de modo a que ele deva estar permanentemente aprimorado para o momento fatal da conclusão. A orientação deve visar essencialmente mantê-lo bastante equilibrado, para que, no momento do arremate, a bola seja jogada calmamente no fundo da rede, evitando pressa e precipitação, conforme diversos casos ocorridos em jogos do Botafogo, nos certames realizados no ano passado, ocasionando, em razão dos gols desperdiçados, a perda de importantes partidas, consideradas fáceis.

É da competência do técnico manter o atacante, além de bem treinado, sempre lembrado sobre a necessidade da tranqüilidade por ocasião da finalização da jogada, porque a pressa e a afobação na hora da conclusão podem contribuir para uma final infeliz, precipitada e desastrosa, desperdiçando uma excelente oportunidade de gol e de consagração do atleta, bem como de felicidade dos torcedores

Aliás, não sei porque os atacantes insistem em chutar a bola, no caso de Reinaldo no último jogo do Botafogo, no goleiro, quando este já está totalmente caído no gramada. O treinador tem a obrigação de alertar insistentemente, naquelas condições, o atacante que, estando o goleiro caído, basta tão somente um leve toque em baixo da bola para encobri-lo. Diga isso várias vezes aos jogadores, que eles aprendem.
                                                        
Ante as ponderações acima expostas, pode-se concluir que a nossa vontade é de que Vossa Senhoria seja bem sucedido nessa jornada que se inicia e que o Glorioso seja um time disciplina, organizado, forte e bem treinado em todos os fundamentos futebolísticos, para que os próprios jogadores se sintam orgulhosos e valorizados pelo que fazem em prol do clube, haja vista que o trabalho deles certamente será notado e divulgado pela imprensa esportiva, merecendo o reconhecimento e o carinho por todos que amam o futebol, resultando em bons frutos para o time e, especialmente, para cada atleta, que será avaliado pelo talento, pela competência e pelo profissionalismo demonstrados por eles em campo.

Não obstante as evidenciadas qualidades superiores da competência e do profissionalismo que dispõe Vossa Senhoria, achei conveniente discorrer sobre aspectos tão carentes de atenção e insistentes cobranças dos jogadores, mesma que elas possam parecer repetitivas, não importa, para que, se for o caso, sirvam de debates para o aperfeiçoamento dos atletas envolvidos, na tentativa de formulação de caminhos que levem mais facilmente a resultados satisfatórios.

Finalmente, formulo a Vossa Senhoria votos de feliz e promissor trabalho e bastante sucesso para todos os componentes do sempre Glorioso.

Atenciosamente,

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 01 de fevereiro de 2010

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