domingo, 2 de janeiro de 2011

Para inglês ver

Nos albores do século XIX, a corte portuguesa instalada no Brasil, de repente, foi tomada pelo alvoroço da notícia de que uma junta fiscalizadora inglesa estaria na iminência de desembarcar no Rio de Janeiro, com a finalidade de verificar a aplicação de recursos emprestados pela Inglaterra, para a iluminação pública da Cidade Maravilhosa. Ao ser avisado do fato, o bonachão d. João VI, na calmaria de quem saboreia um galeto assado e ante a informação de que ainda não havia sido aplicado um centavo sequer, determinou a imediata colocação de alguns postes de luz nas imediações do palácio imperial, que seriam suficientes para inglês ver. Essa engenhosa saída se transformou na salvação milagrosa para as descomunais questões não satisfatoriamente solucionadas. Fato desse jaez tem acontecido com frequência, a exemplo dos Jogos Pan-americanos, onde nunca antes tanta força de segurança fora mobilizada, e depois... Agora, na proximidade da Copa do Mundo de Futebol, já começaram as incursões militares para a mídia noticiar ao mundo que o Rio de Janeiro é uma cidade segura de verdade. Essas manobras podem se intensificar até as Olimpíadas, que, sem dúvida, é o tempo necessário para inglês ver. Depois desses importantes eventos, certamente a sociedade carioca voltará a padecer com as costumeiras violência e insensibilidade dos governantes, e a sua vida será lançada novamente à sua própria sorte e ao Deus-nos-acuda, infelizmente. Com os postes de iluminação, tudo pode, inclusive ludibriar o trabalho sério dos ingleses, enquanto com a vida humana, exige-se seriedade, amor e respeito.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
                           
Brasília, em 08 de dezembro de 2010

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