Com a efetiva entrada da ex-senadora na corrida à
Presidência da República, os petistas e tucanos deixaram de subestimar a
participação dela na campanha eleitoral, depois que se despertaram, à vista das
pesquisas de intensões de voto, para o fato de que o jogo foi virado favoravelmente
para o lado dela, que já se tornou a favorita do pleito. Diante disso, os
ataques de seus adversários se intensificaram e aparecem cada vez mais fortes,
justamente para evitar que ela dispare perigosamente na dianteira e possa
ganhar a eleição ainda no primeiro turno. Uma das acusações contra a pessebista
diz respeito à notícia publicada pela Folha
de S. Paulo de que ela teria ganho a quantia de R$ 1,6 milhão, no período
de três anos, proferindo palestras. Nesse ínterim, consultada a respeito dessa
questão, a candidata não quis revelar a identidade de seus clientes. Não
há a menor dúvida de que proferir palestras não constitui nenhum demérito, por
se tratar de atividades lícitas como meio normal de renda do trabalho intelectual
e honesto. A ex-senadora já havia deixado o Senado Federal e disputado a
Presidência da República em fase anterior às palestras, não havendo ilegalidade
no seu trabalho, por isso ele não se confunde com consultoria sobre a relação e
a experiência decorrentes das atividades públicas por ela desempenhadas. Apenas
causa possível incômodo a forma obtusa de não ser possível a revelação da
identidade dos clientes da ex-senadora. Especialistas sobre o assunto alegam
que, apesar de a lei assegurar a confidencialidade, ela deveria revelar
normalmente os nomes dos clientes que a contrataram, por respeito ao princípio
da transparência, que estaria em consonância com a sua postura da prática de
nova política, em contraposição às velhas e recrimináveis políticas tão
maléficas à civilidade, embora elas ainda façam parte das antiquadas práticas em
plena atividade na República. Se as palestras
proferidas pela candidata pessebista foram realmente legítimas, em conformidade
com os princípios da ética, moralidade e dignidade, não há o que se questionar,
em termos de possível falta de lisura, porquanto não houve violação ao conceito
ética profissional, como não haveria também se a transparência das atividades
pertinentes se tornasse ostensiva, justamente com o intuito de mostrar que a “bagatela”
do valor de R$ 1,6 milhão não é motivo para se omitir a verdade nem de se
envergonhar e muito menos de ser maculada a honra de ninguém, que teria prestado
seus serviços técnico-profissionais em harmonia com a lisura e a capacidade
reconhecidas pelas empresas contratantes. Ressalvada a possível situação de
cláusula contratual fazendo restrição sobre o fornecimento das informações
pertinentes ao objeto das palestras. Não obstante, a relevância do cargo de
presidente da República em disputa obriga que os candidatos sejam absolutamente
transparentes, tendo em vista que as pessoas públicas não têm o direito de
omitir informações para os seus representantes constitucionais, quanto mais em
se tratando da forma pela qual os candidatos possam ter amealhado, em tão pouco
tempo, a quantia, repita-se, de R$ 1,6 milhão, à vista da realidade do
trabalhador brasileiro, que se sacrifica no batente do dia a dia para, no final
do mês, receber o mísero salário mínimo de aproximadamente R$ 725,00, quantia
considerada insuficiente para o sustento de uma família. Com absolutamente
certeza, informações semelhantes às suprimidas pela candidata pessebista jamais
seriam negadas nos países evoluídos, social, cultural, político, econômico e
democraticamente, porquanto os princípios ínsitos de civilidade e de
razoabilidade demandam o entendimento natural de que os homens públicos não
podem usufruir o privilégio de se considerar diferentes dos demais cidadãos e
muito menos de gozar o direito do sigilo sobre seus atos, tendo em vista que
eles, investidos em cargos públicos eletivos, passam a ter sua vida fustigada, vigiada
e devassada diuturnamente, como forma de ser fiel aos princípios republicano e
democrático, quanto à estrita observância aos salutares conceitos de dignidade
e honorabilidade. Os brasileiros precisam, com urgência, se evoluir no sentido
de acompanhar o aperfeiçoamento e a modernidade dos novos tempos, exigindo que
os homens públicos observem também, com rigor, o salutar princípio da
transparência, em harmonia com a evolução da humanidade e em prestígio da
civilidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de setembro de 2014
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