Embora a delação do ex-diretor da
Petrobras ainda se encontre em pleno curso, cujo conteúdo não pode se tornar
ostensivo, para não prejudicar a sua essencialidade e os fins colimados, há
centenas de políticos que preferem ser tragados pelo pior furação que ter seus
nomes no olho das denúncias, como beneficiários das substanciais propinas do
petróleo, tendo que se submeter à humilhação das críticas da mídia e de seus
adversários. O governo é o principal envolvido nesse affaire, por ter sob a sua
responsabilidade a administração da maior e mais importante empresa brasileira,
que tem a competência de nomear seus diretores, a exemplo do delator em causa,
cujas revelações podem levar de roldão o restante da pouca credibilidade da
presidente do país, que foi complacente com a compra da refinaria de Pasadena,
objeto de expressivo prejuízo aos cofres da empresa, justamente em virtude de
má avaliação sobre suas possibilidades operacionais e econômicas. O certo é que
o governo espera, encolhido nas “cordas” do ringue, pelos detalhes sobre as
revelações já vindas à lume, para tentar se explicar, mas não há dúvida de que
o estrago eleitoral já pode ser contabilizado, caso a sociedade se conscientize
que o país não tem condições de suportar seguidos casos de corrupção com
recursos públicos, a menos que se convença de que os prejuízos decorrentes
sejam compatíveis com as benesses provenientes da distribuição de renda,
promovida pelos programas assistencialistas, cuja finalidade é exatamente essa
de apoiar incondicionalmente o governo. O imbróglio certamente contribuirá para
pôr lenha na fogueira dos debates entre os principais candidatos, caso os
adversários da petista se disponham a passar a limpo também suas sujeiras,
cujas contendas teriam o condão de mostrar as fragilidades e as qualidades dos candidatos,
quanto aos quesitos moralidade, coragem para enfrentar a realidade e
principalmente seriedade e competência para administrar o país tão carente de
estadista disposto a mostrar a verdadeira dignidade do homem público, que tanto
fez falta aos administradores do patrimônio dos brasileiros. Não há dúvida de
que o tema corrupção não agrada muito à campanha à reeleição, principalmente
por parte do PT, que é o partido que mais teve oportunidade para se deparar com
irregularidades no seu governo e o que menos teve coragem e competência para
investigar a fundo os casos de corrupção, como no episódio do mensalão, que
sequer foi reconhecido por seus cardeais, embora o Supremo Tribunal Federal
tivesse declarado que foi o mais grave escândalo perpetrado contra os cofres
públicos. Convém que a delação em comento não somente revele e detalhe o modus faciende dos “famosos e ilustres”
políticos corruptos, mas também indique as empresas por meio das quais o dinheiro
das propinas teve passagem pelos contratos superfaturados, tendo em conta que
as grandes empresas, compreendendo construtoras e fornecedores, são os
principais financiadores das campanhas milionárias dos políticos inescrupulosos
e indecorosos, que se esbanjam desavergonhadamente com recursos públicos. O
momento exige que os corruptores também sejam revelados, inclusive os valores
repassados por cada um, como forma de coibir essa indignidade com o precioso
dinheiro do contribuinte. Os casos de corrupção em série vindos à tona nesse
governo demonstram, de forma cristalina, que o país tem índole extremamente
subdesenvolvimentista, pelo fato de que o povo resiste à percepção sobre a
leniência dos homens públicos com os malfeitos, as corrupções e as
irregularidades, fatos que contribuem para a desmoralização dos princípios da
dignidade, da honestidade e do decoro. Num país com o mínimo de desenvolvimento
político e democrático, o povo seria capaz de entender que a quebra de
confiança e credibilidade do governante pressupõe a incapacidade para o gerenciamento
do país com exclusiva prioridade de promover as políticas e as ações
necessárias às causas nacionais, inclusive o combate, com rigor, dos casos de desvio
de verbas públicas, obviamente com embargo à defesa de seus interesses, tendo
por finalidade a conquista ou a continuidade no poder. No caso do Brasil atual,
há forte evidência de que, ao governante, basta priorizar programas
assistencialistas, como a denominada distribuição de renda, para que a sua
permanência no poder seja assegurada, independentemente da sua capacidade para
combater os escândalos na sua gestão. É evidente que não é justo se fazer juízo
de valor antes de se conhecer, nos seus detalhes, os fatos denunciados pela
mídia, mas não se pode alegar, como no caso da Petrobras, que as denúncias
resultantes da delação premiada não atingem o governo, conforme disse a
candidata petista, como tentativa, talvez, de afastar os holofotes da mídia da
sua campanha, quando não se pode negar que a estatal integra o governo, como a
principal e mais importante empresa pública, cuja gestão é da competência do
Estado, cujos recursos desviados são oriundos dela, o que, nem por ingenuidade
e muito menos por inexperiência político-administrativa, se poderia alegar que
o governo não foi atingido, porque isso tem o condão de imaginar que o povo é
ignorante, imbecil e incompetente, que não sabe discernir o certo do errado, em
se tratando da sua responsabilidade. Urge que a sociedade se desperte e fique
atenta sobre os prejuízos decorrentes da sua injustificável irresponsabilidade
de aceitar pacificamente o desmando, o desgoverno e a completa deficiência quanto
aos cuidados e ao zelo da res publica,
sob pena de o país continuar patinando ad
eternum nas trilhas do subdesenvolvimento social, econômico, político e
democrático, por falta do cumprimento dos princípios da competência, eficiência
e responsabilidade pelos homens públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de setembro de 2014
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