O
presidente do Tribunal de Contas da União disse que ia investigar a
transferência de bens da presidente da Petrobras para seus dois filhos. Esse
fato despertou o interesse da corte de contas depois que houve o vazamento de
informação acerca da cessão dos imóveis enquanto havia o julgamento sobre a
indisponibilidade dos bens da executiva, que é alvo de processo pertinente à
responsabilidade na compra da refinaria de Pasadena, no Texas, considerada
prejudicial aos cofres da estatal pelo mencionado tribunal. A Petrobras afirmou
que a transferência dos bens em apreço estava sendo preparada desde o ano
passado, cuja transação não tem relação com o referido processo. Em defesa da
executiva, as autoridades governistas disseram que não existe irregularidade
nesse fato. O vice-presidente da República afirmou que “Sob o foco jurídico, é a coisa mais natural que acontece. A ideia é
essa: houve uma doação com usufruto. Todo mundo faz doação com usufruto
enquanto viver. (Só) depois, é que
essa doação se concretiza. Pelo que
li nos jornais, a doação foi feita bem antes, pelos idos de março. Portanto
antes da primeira decisão do TCU. Não houve ilegalidade nenhuma. É a coisa mais
comum fazer doações. Agora, sobre qual é a razão para ela doar, essa é uma
questão subjetiva”. Por sua vez, a presidente do país também reiterou
enfática defesa da presidente da Petrobras, afirmando que "A presidente Graça Foster respondeu
perfeitamente sobre a questão dos seus bens numa nota oficial. Eu repudio
completamente a tentativa de fazer com que a Graça Foster se torne uma pessoa
que não pode exercer a presidência da Petrobras. Sabe por quê? Porque, se
fizerem isso, é pelos méritos dela...
Eu lamento profundamente a tentativa, a cada eleição, de primeiro se fazer uma
CPI da Petrobras; de segundo, criar esse tipo de problema". A
presidente questionou o motivo de problemas na gestão anterior da Petrobras,
durante o governo tucano, não terem sido alvo de investigações, insinuando com
isso que, se houve erro no governo da oposição, por qual razão não pode haver
falha na sua gestão, como se desacerto no governo anterior tivesse o condão de
respaldar ad eternum as
irregularidades futuras, que também não precisariam ser investigadas? Essa mentalidade
limitada e estreita precisa, com urgência, ser mudada, desenvolvida e despertada
para a realidade e a modernidade dos novos tempos, em que os governantes não
podem, a seu talante, abdicar da sua incumbência constitucional e legal de
administrar com competência, lisura e dignidade o patrimônio público. Eles
também precisam perceber que é da sua incumbência o controle e o eficiente
funcionamento da administração pública, tendo o dever de instituir e manter sistemas
de controle e fiscalização capazes de evitar desvios de recursos públicos, sob
pena de incorrer em crime de responsabilidade, por deixar de reconhecer e de
assumir integralmente os deveres institucionais da sua gestão, que são
inconfundíveis e intransferíveis. Com absoluta
certeza, os governistas, na condição de oposicionistas, nesse caso, fariam
verdadeiro escarcéu, porque eles iriam arranjar terríveis argumentos para
incriminar e condenar os procedimentos, que poderiam ser promovidos a qualquer
tempo, menos no momento em que se discute a indisponibilidade de bens de
executiva com possível envolvimento em transação fraudulenta. No entanto, no
caso vertente, ninguém do governo estranha que haja doação de imóveis quando a
direção da Petrobras se encontra no olho do furação, em razão da possível
trapalhada envolvendo a compra da refinaria sucateada de Pasadena, a preços exorbitantes
e fora de mercado, que teria motivado gigantesco prejuízo aos cofres da estatal
e aos brasileiros. As veementes defesas da dirigente da empresa, pelas
autoridades máximas do país, além de causarem enorme perplexidade, pela
demonstração da indevida e injustificável interferência na autonomia do
Tribunal de Contas da União, como se ele não tivesse discernimento nem
competência para fazer juízo sobre as irregularidades com recursos públicos, tiveram
indisfarçável intenção de blindar a executiva de qualquer culpa ou
responsabilidade. Não obstante, as pressões do Executivo resultaram em decisão
favorável à presidente da estatal. Convém que não somente a competência
constitucional e legal do Tribunal de Contas da União seja fielmente respeitada
pelas autoridades da República, mas também das demais instituições públicas do
país, como forma de aperfeiçoamento e aprimoramento dos princípios democrático
e republicano, em consonância com a modernidade inspirada nos países
desenvolvidos, social, político, econômico e democraticamente. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de setembro de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário