terça-feira, 16 de setembro de 2014

Autêntico político brasileiro?

O principal e mais festejado político tupiniquim da atualidade demonstrou, por seus atos, que não é lá muito de cumprir palavra, à vista de ter se manifestado, por diversas vezes, que, após o término do seu mandato, se recolheria à vida privada e ficaria afastado das atividades políticas, como uma espécie de reclusão obsequiosa. À vista das aparições dele na campanha da sua pupila, é possível concluir-se que, mais uma vez, ele mentiu, por não ter cumprido sua promessa. Trata-se, entre tantas façanhas, de mera manobra astuciosa protagonizada por ele, que não consegue ter firmeza nas suas afirmações, o que, aliás, apenas se confirma a sua condição de autêntico político brasileiro, que, mesmo não mantendo sua palavra, ainda consegue ser endeusado e idolatrado por seus fãs e adoradores como verdadeiro líder nacional. A sua permanente atividade política representa, em princípio, indiscutível mau exemplo para o país e para a classe política, pela forma cediça como adere facilmente às conveniências políticas e aos interesses pessoal e partidário, em nome do poder supremo. E isso ficou patenteado por ocasião das enxurradas de denúncias de corrupção no governo da sua criatura, quando ele não teve dúvida em apoiar brava e enfaticamente os envolvidos nas irregularidades, tendo a fraqueza moral de pressionar o governo para não "aceitar as pressões da mídia", mostrando como modelo os casos de corrupção no seu governo, no qual nunca foram apuradas as denúncias de corrupção, apesar das fundadas e abundantes provas de malversação de recursos públicos, em clara demonstração de completo desprezo aos princípios da moralidade e da dignidade que devem imperar em defesa do interesse público. Essa forma desmoralizante não causa nenhuma estranheza, porque é típica dele considerar-se o próprio poder, podendo estar sempre acima dos conceitos éticos e morais, que são expressões pouco comuns no seu vocabulário, porque a sua vontade sempre prevalece sobre as ideias das pessoas, por mais geniais que elas sejam. Outra prova da sua incoerência ficou evidenciada quando ele, à primeira hora, disse que teria sido traído e que o país merece desculpas, mas, tempos mais tarde, declarou que o mensalão jamais existiu e os envolvidos não eram amigos dele. Não há dúvida de que a involução do momento político contribui para a construção dos heróis sem caráter, que se aproveitam da fragilidade e do subdesenvolvimento de substancial parcela da sociedade para impor, com amplo proveito das estratégias maquiavélicas, as técnicas de dominação política, não somente da classe política, mas da população menos instruída e mais carente. É induvidoso que ele tenha sido contaminado pela doença crônica do poder e somente se afastou dele, em termos oficiais, por imposição constitucional, mas já anunciou que pretende retornar ao Palácio do Planalto, que o considera seu, na próxima eleição e, para tanto, ele será capaz de atropelar quem se atrever a atravessar à sua frente. Não é novidade que, no atual governo, as decisões relevantes somente são adotadas depois da sua orientação, que sempre prevalece sobre quaisquer outras opiniões, evidentemente em atendimento às suas conveniências e aos seus interesses políticos, que são muito mais importantes do que as causas nacionais. Com a finalidade de conquistar o poder e fazer dele o seu patrimônio político, ele se alinhou às castas políticas com conceituação duvidosa, exatamente os caciques que antes eram considerados por ele como pilantras, desonestos, corruptos e outros adjetivos desprezíveis, não importando, para esse intento, a opinião pública sobre a sua guinada de trezentos e sessenta graus para liderar a nata dos políticos cujas condutas ele repugnava e recriminava, à vista da má qualidade das políticas praticadas por eles. Não obstante, por mera conveniência política, ele mantinha estreita relação com a desprezível classe política, sob a forma de coalizão de governabilidade, sustentada por meio do indecente e indigno sistema do “toma lá, dá cá”, ficando instituído, com isso, o vergonhoso fisiologismo ideológico, mediante o qual o governo entrega ministérios e empresas estatais aos aliados políticos em troca de apoio à sua base de sustentação, cujos órgãos públicos passaram sob a direção de políticos, muitos dos quais, desqualificados e despreparados, pouco importando que a ineficiência dos serviços públicos estivesse a serviço da perenidade do poder, porque os fins justificam os meios, apesar de haver nisso patente afronta aos consagrados princípios da ética, moralidade, legalidade e dignidade na aplicação dos recursos dos bestas dos contribuintes, que não se enrubescem de vergonha por chancelar as práticas visivelmente sujas e condenáveis, por serem ilegítimas. Em reforço ao lamentável histórico de homem público, é notório seu desprezo aos valores democrático e republicano, à vista da sua arraigada simpatia pelos ditadores, com os quais mantém relações de estreita amizade, dando tratamento a eles de irmãos. Em demonstração do seu carinho para com os governos tiranos, ele sempre se houve pródigo em ajudá-los financeiramente, sob a forma de fundo perdido, ou seja, sem necessidade de pagamento do dinheiro dos bestas dos brasileiros repassado a outros países. É de causar perplexidade o fato de que, em dois mandatos, ele nunca fez declaração contra as violações dos direitos humanos, em especial nos regimes ditatoriais, e dos princípios democráticos, mas foi capaz de atacar, com veemência e dureza, os Estados Unidos da América, que são considerados exemplo de democracia. Ele não consegue desfaçar sua ojeriza à oposição e às críticas da imprensa, justamente por terem opiniões contrárias à sua cartilha, aos seus princípios anacrônicos e à sua ideologia política de dominação pessoal, que jamais podem ser contrariados nem contestados. A sua habilidade é notória na cooptação de antigos opositores, fazendo uso, para tanto, de recursos do erário, por meio da entrega de cargos públicos a eles, como forma de fortalecer e garantir a estabilidade do seu “majestoso” e intocável projeto de poder. Não há dúvida de que a sua supremacia se consolida com o respaldo e a contribuição da oposição frágil, omissa e, às vezes, leniente com seus desarranjos político-administrativos, como no caso do mensalão, quando ele poderia ter sido afastado da Presidência da República. Além disso, ele ainda conta com a esmagadora simpatia dos beneficiários do programa Bolsa Família, arquitetado estrategicamente com viés eleitoreiro, bem apropriado às condições de governo socialista e populista, que não tem o menor pudor em priorizar políticas públicas visando à garantia de benefício pessoal e partidário. Está muito evidente que suas atitudes são indiscutivelmente direcionadas à realização da vocação pessoal de poder e de dominação absolutos, como forma de plena satisfação de seu egoísmo politico de se tornar lenda da história política não apenas brasileira, mas também mundial, à vista de já ter se comparado aos grandes estadistas, inclusive ao célebre presidente norte-americano Abraham Lincoln, em demonstração de desprezo aos salutares princípios democrático e republicano, que se fundamentam basicamente no respeito à igualdade de oportunidades e de valorização dos conceitos da ética, moralidade, legalidade, honestidade, probidade e dignidade na administração pública. Infelizmente, a própria sociedade, que cometeu o grave pecado de contribuir, de maneira generosa, para a degeneração e a precariedade dos princípios político-administrativos do país, elegendo-o para o cargo máximo da República, vem pagando muito caro pela falta de sistema político-eleitoral moderno e avançado, pela desorganização e inchamento da máquina pública, pela péssima prestação dos serviços públicos, pelo ridículo crescimento econômico, pela falta de investimento em obras de impacto, pela desmoralização dos princípios ético e moral na administração pública, pela prejudicial aproximação com governos ditatoriais, inclusive os ajudando financeiramente, e por tantas mazelas que são fruto do pensamento político imaginado para o país por uma pessoa, segundo a sua vontade e a sua ideologia populista, com viés socialista, eminentemente com a finalidade de dominação e de poder absolutos, que tem por núcleo a perenidade na administração do país. Em princípio, esse certamente não é o perfil nem o modelo ideal do político de país sério e desenvolvido político e democraticamente, mas, à toda evidência, ele se encaixa com perfeição na mentalidade e na consciência da maioria esmagadora do povo tupiniquim, que ainda enxerga virtudes nos homens públicos com os atributos dos tradicionais caudilhistas e populistas, por se amoldam como luvas às suas conveniências e aos seus anseios de cidadania, pouco se preocupando se essa maneira retrógrada e ultrapassada de se fazer política convém aos interesses da minoria da população e da nação, que, por certo, tem aspirações e pensamentos afinados com a realidade de progresso, em sintonia com práticas e atividades político-administrativas sedimentadas nos pilares da racionalidade, civilidade, eficiência, competência e inteligência, em estrita consonância com os conceitos de modernidade e de avanços da humanidade. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de setembro de 2014

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