Enquanto o governo federal faz o maior marketing com a
implementação do programa Mais Médicos, com a contratação de profissional da
saúde, para atuar no interior do país, a principal cidade do Estado do Maranhão,
de um milhão de habitantes, depende de sorte ou milagre para evitar tragédia na
saúde pública, porquanto, de acordo com os médicos e o Conselho Municipal de
Saúde, no caso de acidente com muitas pessoas feridas, o sistema de saúde
somente dispõe de duas ambulâncias do Samu em condições de uso.
Na verdade, lá existem 17 ambulâncias, mas 15 se
encontravam quebradas, sem a mínima condição de uso, evidenciando completo
abandono das autoridades responsáveis pela saúde pública do Estado.
As oficinas conveniadas com a prefeitura alegam que
deixaram de consertar os veículos por falta de pagamento dos serviços prestados
anteriormente.
O presidente da associação dos servidores do Samu
disse que a situação e triste e causa revolta e repugnância, sobretudo porque não
faltam recursos para a manutenção dos veículos, à vista da confirmação de que o
Ministério da Saúde repassa, todo mês, dinheiro para essa finalidade, mas
ninguém sabe o seu destino.
A par de anunciar auditoria para apurar os
problemas em São Luís, o Ministério da Saúde confirmou o repasse de R$ 325 mil
por mês para o pagamento da metade das despesas com o serviço do Samu. A
prefeitura tem o dever de participar com a outra metade dos recursos. Na sede
do Samu, são guardados, por prevenção e para evitar sumiço, os equipamentos que
deveriam estar dentro das ambulâncias.
Os socorristas, diante da falta de condições de
trabalho, estão registrando, em boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia,
o repetido motivo de falta de condições de atendimento à população necessitada
de socorro, com vistas a evitar possível acusação de negligência médica,
deixando explícito o descaso das autoridades públicas quanto à sua
responsabilidade pela omissão de socorro médico.
Um socorrista afirmou que "A questão ética nos proíbe de recusar
fornecer atendimento a quem está necessitando de atendimento em caráter de
urgência, mas nós não temos como prestar esse atendimento se não tem como se
deslocar daqui. Não tem ambulância, como você vai fazer o atendimento?".
Como
golpe de misericórdia à péssima situação de atendimento médico, foi cortado o
abastecimento do combustível às ambulâncias, piorando o completo caos.
Uma enfermeira declarou que "Hoje nós estamos atendendo só ocorrências de
trauma, porque não temos combustível suficiente para rodar".
Como não poderia ser diferente, a Secretaria
Municipal de Saúde da cidade garantiu que o serviço de reparo nas ambulâncias é
frequente, tendo afirmado que, na ocasião, seis ambulâncias estariam em
condições de atendimento, fato que contraria as testemunhas dos médicos e
profissionais da saúde, que reafirmaram a existência de apenas duas ambulâncias
em funcionamento, numa cidade de um milhão de habitantes.
A situação de verdadeiro abandono na saúde pública
da principal cidade do Estado do Maranhão é o retrato irretocável da
precariedade e do caos que impera no resto do país, em que o anacronismo do
funcionamento do Sistema Único de Saúde, completamente distanciado da realidade
dos mecanismos de eficiência e de qualidade, dar-se o luxo de repassar recursos
para as prefeituras, para a manutenção desse sistema, porém sem esboçar as
mínimas condições de acompanhamento e certificação quanto ao seu efetivo
emprego nos fins colimados, o que evidencia total desperdício de recursos
públicos, pela incompetência do governo que gasta apenas de forma sistêmica e
automática, sem exercer qualquer espécie de controle quanto ao real custo-benefício
que se espera da administração pública responsável pelo bom e regular emprego
das verbas públicas.
A sociedade tem o dever de censurar e recriminar os
casos de deficiências e omissões existentes no atendimento à saúde pública do
país, como esse aqui relatado, e exigir que as autoridades públicas se conscientizem
sobre a necessidade da efetiva atenção à importante política da incumbência
constitucional do Estado, delegada ao Sistema Único de Saúde, inclusive quanto
à imperiosa conveniência de fiscalizar o efetivo emprego dos recursos
pertinentes e responsabilizar aqueles que derem causa à falta de atendimento de
socorro à população carente. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de outubro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário