quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Perversão da máquina pública


Em desesperado esforço para evitar a abertura do processo de impeachment, a presidente da República determinou aos ministros da articulação política que entreguem, o quanto antes, os cargos no segundo e terceiro escalões aos partidos aliados, não importando que isso sacrifique ainda mais o PT, que já cedeu espaço na Esplanada dos Ministérios para o PMDB.
          O governo deixa claro que tem pressa para efetivar os compromissos assumidos durante a negociação da reforma ministerial. Um interlocutor da presidente disse que "O PT vai ter de entender o momento grave e a necessidade de governar em parceria, repartindo espaço com os demais partidos da base aliada".
Os partidos da aliança governista estavam impacientes e ávidos para ocupar os cargos negociados na reforma ministerial e, para tanto, eles chegaram a suspender, sob a forma de pressão, sessões no Congresso Nacional, que votariam matérias do interesse do governo.
O governo, captando a intenção e a pressão dos aliados, correu para cumprir as promessas alinhavadas no balcão de troca de ministérios e empresas estatais por apoio político, além de procurar afastar os entraves que estavam dificultando as ocupações dos cargos prometidos pelo governo.
Não há dúvida de que fica difícil se concluir quem, nesse caso de loteamento de cargos públicos, envolvendo a máquina pública e, por via de consequência, os recursos públicos, entre partidos aliados, em indecente troca de apoio aos objetivos e projetos do governo, mais perde a dignidade, honra e moral, se o governo, que deixa de zelar pela legalidade, integridade e eficiência da administração pública, ou os congressistas, que vendem suas consciências, que fazem parte da delegação dada pelo sublime sufrágio universal, que passam a serviço da presidente do país, sob a forma de capachos e subserviência à vontade do governo, para defender os interesses da presidente da República, no Congresso Nacional, inclusive para blindar a presidente contra a abertura do processo de impeachment.
Essa forma espúria de representação política, nos países sérios e desenvolvidos social, político, econômico e democraticamente, chama-se simplesmente de indignidade e imoralidade, por haver evidente demonstração de confronto com os mais comezinhos princípios que devem nortear a administração pública.
Também nos países com um pouco de dignidade, caso sequer fosse imaginada medida nesse sentido, ante a caracterização da visível falta de caráter dos políticos, a negociação pertinente representaria excrescência e seria simplesmente execrada pela sociedade, pelas entidades civis organizadas, pela oposição e pelos órgãos de controle e fiscalização sobre a aplicação de recursos públicos, não permitindo que indignidade como essa sequer fosse idealizada, por contradizer a decência na administração pública.
É lamentável que o Brasil, em pleno século XXI, ainda esteja praticando atos inexistentes há ano-luz nos países evoluídos e decentes, exatamente por não condizerem com a evolução dos princípios humanitários, que já passaram há muito tempo por salutar processo de aperfeiçoamento e depuração, com o afastamento de mentalidades retrógradas, infelizmente ainda reinantes no país tupiniquim.
Os brasileiros precisam se conscientizar, com o máximo de urgência, de que o governo que os representa não tem o direito de submeter a máquina pública à perversidade de ser objeto da indignidade da barganha e do balcão de troca, para servir ao atendimento dos interesses e das conveniências pessoais da presidente da República e de políticos igualmente insensíveis ao princípio da eficiência na administração pública, todos agindo às claras de forma inescrupulosa e ilegítima, passíveis de repúdio e de responsabilização, na forma da lei, porque seus atos não satisfazem senão aos interesses espúrios pessoais e partidários, em flagrante prejuízo às causas nacionais e desprezo aos princípios democrático e republicano. Acorda, Brasil!                                                           
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 28 de outubro de 2015

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