quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Crime de lesa-pátria?


O ex-presidente da República petista prestou depoimento, voluntariamente, ao Ministério Público Federal, no Distrito Federal, em inquérito que apura suposto tráfico de influência internacional.
O alvo das investigações são viagens internacionais feitas pelo petista, que teriam sido bancadas pela construtora Odebrecht, em visita a países como Cuba, República Dominicana, Gana e Angola, sob o patrocínio da maior construtora brasileira, evidentemente com a finalidade de negociar financiamentos para esses países, cujas obras ficariam sob a administração dessa empresa.
          A revista Época, em furo de reportagem publicada em maio último, revelou documentos dando conta de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) autorizou financiamentos de, pelo menos, US$ 1,6 bilhão com destino final à Odebrecht, após o petista, já na qualidade de ex-presidente do país, se encontrar - sempre patrocinado pela citada empreiteira - com os presidentes de Gana e da República Dominicana.
Em conformidade com o instituto que tem o nome dele, no depoimento, o ex-presidente respondeu às perguntas e argumentou que os presidentes e ex-presidentes do mundo inteiro defendem as empresas de seus países no exterior.
A assessoria do ex-presidente ressaltou, dando ênfase, que o petista “jamais ter interferido” em qualquer contrato celebrado entre o BNDES e empresas privadas, ou seja, entre construtoras.
Não há a menor dúvida de que os ex-presidentes sérios e patrióticos fazem lobby normalmente, mas com o salutar propósito de conseguir empréstimos para seus países, o que seria natural se o petista tivesse agido para trazer dinheiro para o Brasil e jamais para o Brasil conceder financiamentos para obras lá fora, quando elas são carentes aqui no país e importantíssimas para os brasileiros, que foram simplesmente lesados diante do fato de ser obrigados ao pagamento de pesados tributos para ser mandados para países comandados por ditadores eternamente venerados pelo petismo, a exemplo do governo de Cuba.
É indiscutível que essa história de se fazer lobby para mandar dinheiro para o exterior, com a finalidade de financiar obras fora do Brasil, somente se harmoniza com o crime de lesa-pátria, justamente pelo fato de se estar contribuindo para a construção de obras no estrangeiro, com recursos dos brasileiros, que seriam de suma importância para eles.
É bem provável que, nos países sérios e evoluídos, os ex-presidentes até possam defender os interesses de empresas de seus países, certamente com o importante diferencial do que ocorre no país tupiniquim, porque, por questão de ética e moralidade, eles, ao contrário, não devem aceitar patrocínios das empresas envolvidas, justamente para se evitar qualquer espécie de questionamento que não fica nada bem para o homem público, como no caso da suspeição da prática do tráfico de influência internacional, obviamente para possível beneficiamento da situação, a exemplo do recebimento de doações e de pagamento por palestras altamente discutíveis, como a contratação de dez palestras pela bagatela de R$ 4 milhões, à vista da realidade brasileira, conforme recente revelação feita pela revista Época, sobre a atuação do petista nesse clamoroso affaire.
Por mais que o petista tente justificar o injustificável, somente os tolos e ingênuos devem acreditar que ele tenha atuado, nesse caso, com licitude acima de qualquer suspeita, porquanto a falta de legitimidade para a participação do petista em lobby para beneficiar empresas brasileiras é tão patente que, após as denúncias, simplesmente ele se afastou desse rentável empreendimento, mesmo o achando absolutamente lícito, e também nunca mais houve notícia sobre qualquer palestra patrocinada pela empresa que costumava pagar astronômicos cachês e fazer benevolentes doações ao instituto do petista.
É evidente que a simples defesa de empresas brasileiras por ex-presidente é ponto importante e sem a menor possibilidade de questionamento caso não se tratasse apenas da mesma empresa, excluídas, de forma estranha e inexplicável, nessa forma de defesa do ex-presidente, várias empresas brasileiras que atuam no mesmo ramo, que, por óbvio, não se beneficiaram tanto dos financiamentos do banco oficial, o BNDES, para a construção de obras nos países visitados pelo petista.
Espera-se que o Ministério Público Federal não seja tão inocente e tolo de aceitar justificativas absolutamente sem plausibilidade e fora dos padrões da ética, moral e retidão que são esperados dos homens públicos, conquanto seus atos devam ser maleáveis às suspeitas passíveis de esclarecimentos com base em fatos reais e facilmente comprováveis, diferentemente da situação em comento, quando as justificativas aduzidas, por si sós, são absolutamente inaceitáveis, por não se coadunarem com os princípios da dignidade e da honorabilidade ínsitos nos homens públicos. Acorda, Brasil!           
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de outubro de 2015

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