terça-feira, 6 de outubro de 2015

Negociatas e indignidades


Pelo menos alguns deputados da bancada do PMDB, totalizando 22 de 66 da Câmara dos Deputados, decidiram assinar manifesto contra a negociação de cargos com o governo federal e afirmar que a votação do grupo em plenário “não dependerá desse tipo de barganha por cargos”.
Eles disserem textualmente que “Discordamos de qualquer negociação de cargos no governo, a qualquer título. Não é com esse tipo de atitude que a profunda crise geral deve ser enfrentada, e sim com posturas que recuperem a credibilidade perdida”.
A negociação do governo com as lideranças do PMDB da Câmara possibilitou que fosse efetivada a reforma ministerial, que ficou conhecida como a entrega de cargos públicos em troca de apoio desse partido à defesa dos interesses da presidente do país no Congresso Nacional, que consiste basicamente na aprovação de projetos que possibilitem a retomada da governabilidade, bem assim a blindagem da petista, com relação aos pedidos de abertura de processo de impeachment.
Essa lastimável versão foi confirmada pelo líder do governo no Senado Federal, que disse, in verbis: “O objetivo da reforma ministerial é fidelizar os parlamentares da base aliada tanto na Câmara quanto no Senado, com vistas à votação de medidas econômicas enviadas pelo Executivo ao Legislativo para reequilibrar as contas públicas”.
          Nas negociatas envolvendo o loteamento de ministérios e empresas estatais, por enquanto não foi possível se identificar claramente quem mais perde a dignidade, se a presidente da República ou os congressistas envolvidos, mas certamente os princípios da ética, da moral e do decoro foram absolutamente maculados, bem assim a dignidade que se impõe na liturgia dos cargos da mais alta relevância da República.
Não há dúvida de que os políticos envolvidos nas negociatas perdem a credibilidade e o respeito por parte da sociedade, responsável pela delegação conferida a eles nas urnas, que igualmente foram turvadas com a desmoralização demonstrada na indecorosa e ilícita entrega de ministérios em troca de apoio político, denominado fidelização no Parlamento, em clara evidência da perda da dignidade dos homens públicos, que deixaram de lado o espírito ético em prol do interesse pessoal e da conveniência oportunista de se beneficiarem das regalias e do tráfico de influência propiciados pelo poder, tudo envolvendo recursos públicos e contribuindo para a degeneração da administração pública.
Trata-se, indiscutivelmente, de explícita irresponsabilidade quanto às finalidades primaciais da administração pública, que certamente continuará a prestar serviços de públicos com baixa qualidade, precariedade e ineficiência, em razão de os titulares dos ministérios serem pessoas escolhidas a dedo, no seio do chamado baixo clero do Parlamento, ou nomeadas por conveniência pessoal da presidente do país, com o objetivo específico de defender os interesses dela no Congresso, em especial na votação de medidas econômicas enviadas pelo Executivo ao Legislativo, para reequilibrar as contas públicas e consolidar a base do governo, com vistas a se evitar a abertura do processo de impeachment da petista.
Não há a menor dúvida de que se trata de indecente arranjo político para garantir o que foi convencionado governabilidade, fazendo uso ilícito da máquina pública e de recursos públicos para solucionar questões de interesse pessoal da presidente da República, em clara demonstração de desprezo aos princípios da dignidade, legalidade e moralidade, que comprometem a seriedade da administração do país e a credibilidade da atuação de parlamentares e da presidente petista.
É justamente em razão de medida de indignidade como as negociatas da fidelização política que a presidente brasileira vem sendo avaliada pelo povo com os piores índices, deixando muito clara a extrema reprovação do desempenho administrativo dela, cujos percentuais são absolutamente compatíveis com o fracasso de suas políticas de governo, como agora, na escolha de seus novos ministros, que foi feita pelo pior critério do censurável “toma lá, dá cá”, em indisfarçável degeneração dos princípios da administração pública.
Compete aos brasileiros fazerem coro aos dignos parlamentares do PMDB, que tiveram a sensibilidade, a autonomia e a nobreza de repudiar a prática nada condizente com os conceitos da ética, moralidade, legalidade e dignidade que devem imperar na administração pública, como forma de comprovar a seriedade e a responsabilidade dos homens públicos, em benefício do interesse da sociedade e do país. Acorda, Brasil!   
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 06 de outubro de 2015

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