segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O salvo-conduto da vergonha


Já contando como certa a abertura do processo de impeachment da presidente da República, o governo se antecipa com a montagem de equipe de advogados e juristas para cuidar da defesa dela, principalmente junto ao Supremo Tribunal Federal, caso seja aceito, na Câmara dos Deputados, pedido nesse sentido.
Nos bastidores da política, parece certo que o presidente da Câmara teria arquitetado "manobra" pró-impeachment da petista, principalmente em razão do seu processo de acuamento após o robustecimento da denúncia do Ministério Público da Suíça, com a evidência de contas secretas abertas por ele, que teriam sido abastecidas com dinheiro desviado via propinoduto da Petrobras, cuja trama consiste na efetivação do jogo combinado com a oposição para atingir em cheio a petista.
O script começa com a rejeição pelo presidente da Câmara do pedido de impeachment protocolado por dois famosos juristas, propondo a deposição da presidente, com o que deixa estrada pavimentada para recurso ao plenário da Câmara, por deputado, que poderá ser aprovado por maioria simples, pela composição de 50% mais um dos deputados, com qualquer número de presentes à sessão. Ainda há a possibilidade de serem anexadas ao citado pedido informações pertinentes às famigeradas pedaladas fiscais, que também foram repetidas no presente exercício, reforçando a prática de irregularidades no segundo mandato da petista.
O coordenador jurídico da campanha da petista à reeleição foi designado para liderar a defesa dela, em caso de possível ação de impeachment, tendo como principal pretensão a contestação sobre o quórum para a abertura do processo pela Câmara, porquanto a Lei Maior exige dois terços dos parlamentares.
Enquanto isso, especula-se que haja tratativa com o presidente da Câmara, com vistas ao fechamento de acordo entre o governo e ele, embora com poucas esperanças, no sentido de ser segurada a bancada do PT para não pedir a cassação do mandato do peemedebista no Conselho de Ética da Câmara, em troca da salvação da presidente, ou seja, negociatas de alto nível.
Há notícia ainda de que, o ministro da Comunicação Social, com o respaldo do Palácio do Planalto, teria oferecido blindagem ao peemedebista no Conselho de Ética da Câmara, cuja proposta teria sido posteriormente reforçada pelo ministro da Casa Civil, no sentido de evitar a cassação dele, por quebra de decoro parlamentar, por ele ter negado a existência de contas na Suíça, em troca de medida que leve ao salvo-conduto da petista.
Por fim, o Palácio do Planalto ainda imagina contar com carta na manga de poder se beneficiar da grande aliança, por notórias conveniências politicas, com o presidente do Senado Federal, com o diagnóstico segundo o qual o maior sustentáculo da presidente passaria para a Câmara Alta, onde repousa o poder de ser barrado o impeachment da petista.
O certo é que o governo tem sido nada discreto para negociar com o presidente da Câmara a permanência de ambos no poder, pondo em arrisco, de forma descarada, as suas dignidades, porque os dois são acusados de praticar graves crimes contra a administração pública, mas, mesmo assim, não se convencem disso nem se preocupam com as repercussões nefastas em razão das negociatas para se livrarem das justas e merecidas sanções, que seriam, no mínimo, perdas dos respectivos cargos, ressarcimento dos danos causados ao país e proibição de exercer, em definitivo, cargos públicos eletivos.
Caso se tratasse de país sério, os fatos em evidência poderiam motivar a precipitação do pior dos mundos, em face da consolidação da falta de seriedade na administração pública para tratar de situação que afeta com gravidade os princípios da ética, da moralidade, do decoro, da honestidade e da dignidade, que, mais uma vez no governo petista, estão ameaçados de serem literalmente despachados para o espaço sideral, sem o mínimo pudor por parte de envolvidos em suspeitas de irregularidades no exercício de importantes cargos públicos.
 Em razão da premente necessidade da salvação da guilhotina de ocupantes de dois dos principais cargos da República, ganham relevo as negociatas e barganhas, tudo para se manterem impávidos e incólumes os protagonistas, sem nenhuma mácula por seus atos perniciosos, apenas a sorrir dos bestas dos brasileiros, com as caras embrenhadas, se muito, de óleo de peroba, a desfilarem a tremenda falta de caráter, por terem se submetidos cada qual a nenhum constrangimento de continuar administrando os interesses na nação e do povo, sendo que este continuaria na sua triste e incansável sina de eleger seus representantes entre os homens públicos da pior estirpe para o exercício de cargos públicos eletivos da maior relevância, como estão evidenciando os fatos da desgastada e ultrapassada República.
Pelas vias diretas, percebe-se com clareza que a classe política dominante ou mais especificamente os líderes que ocupam os principais cargos da República estão comprometidos com a prática de atos irregulares, inobservância de normas sobre limites de gastos públicos, corrupção, improbidade administrativa, falta de decoro etc., mas eles tentam, por todos os meios, salvar suas peles e se manterem no poder, embora em precárias condições de decência e moralidade, em notória e visível degeneração dos princípios democrático e republicano, que contribuem para a consolidação do que de pior vem acontecendo com a administração do país.
A presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados são desacreditados, fragilizados e desmoralizados no exercício de seus cargos e cada qual tenta, em visível desespero, permanecer neles, agarrando-se nos mais degradantes instrumentos da velha e ultrapassada politicagem, utilizando-se, entre outros métodos ridículos, de negociatas e barganhas para não serem tragados precocemente pela voracidade de seus múltiplos algozes.
Compete aos brasileiros, atentos ao seu dever cívico, repudiarem as tentativas escusas e inescrupulosas dos homens públicos de fugir da responsabilidade de assumir suas malévolas e prejudiciais atitudes contrárias ao bom e regular exercício de cargos públicos eletivos e responder, com as devidas dignidade e honorabilidade e na forma da lei, pelo julgamento sobre eles, em clara demonstração de respeito à nobreza da representatividade delegada pelo povo nas urnas, com embargo das condenáveis e espúrias negociatas que são arquitetadas entre muros palacianos da desgastada República. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de outubro de 2015 

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