domingo, 25 de outubro de 2015

Abusiva insensibilidade


É inacreditável que, em pleno século XXI, a prefeita do município de uma cidadezinha do interior da Paraíba tenha tido a insensibilidade de impedir a perfuração de poço artesiano, que se destinava ao abastecimento de comunidade carente de água, devido a terrível crise da seca que assola o Sertão paraibano.
A atitude insana e despropositada da prefeita causou estarrecimento pelo fato de que ela fez uso da força policial para proibir a perfuração do aludido poço, que tem a iniciativa missionária de comunidade evangélica, liderada e apoiada por políticos, entre eles o ex-prefeito do município, que pretendem promover a perfuração de três poços destinados às comunidades carentes do precioso líquido.
O ex-prefeito ressaltou que, quando as máquinas começaram o trabalho de perfuração do poço, o secretário da prefeitura tentou proibir a sua execução, que não foi atendido, mas logo em seguida a prefeita determinou que a Polícia Militar prendesse os operadores das máquinas.
Diante dessa situação, populares se revoltaram contra a atitude da prefeita, sendo formada enorme confusão no local.
A insensibilidade da prefeita foi tamanha que ela chegou a pedir reforço ao destacamento da Polícia Militar da cidade vizinha, para impedir a continuidade da perfuração em causa.
O ex-prefeito, em tom de desabafo, disse que “É lamentável que a prefeita durante todo esse tempo não tenha adotado nenhuma providência para amenizar os efeitos da seca, e por perseguição política ainda venha tentar impedir quem queira fazer alguma coisa”.
A situação na cidade, que já era difícil, se complicou ainda mais, porque a população da comunidade, em protestos contra a prefeita, realizou manifestações na região, com a interdição de vias públicas e a queima de pneus, sob o lema centralizado no pedido de água.
A princípio, como não foi declinado o motivo para impedir a perfuração em causa, tudo indica que se trata de rixa própria do arraigado atraso político, onde os homens públicos, sem o menor pudor, despreparados politicamente e em total alheamento aos sentimentos que permeiam os interesses públicos, não medem as consequências de seus impensados atos, que terminam prejudicando gravemente a realização do bem comum.
Em especial nas pequenas localidades, a realização do bem comum tem suma relevância e deve ser sempre perseguida pela convergência de esforços de todos, não importando seus objetivos políticos, principalmente quando eles tenham por propósito o sacrifício da população, como no episódio em comento, em que a situação periclitante causada pela falta do precioso líquido não justifica, salvo motivo de ordem técnica ou jurídica, que parece não ser o caso, determinar impedimento para a adoção de medidas necessárias à obtenção de água.
No caso em tela, competiria à Justiça examinar a questão e decidir certamente favorável à causa da população, que não pode ficar sem a principal substância da vida, por causa de briga política.
Não há a menor dúvida de que a prefeita se houve com extrema intolerância e fez indiscutível uso da sua autoridade municipal, de forma abusiva e exagerada, notadamente por contrariar o interesse da comunidade, que precisa, com urgência, de água, certamente não abastecida pela prefeitura comandada por ela.
Na pior das hipóteses, compete à população repudiar tal procedimento e decidir, no momento apropriado, ou seja, na próxima eleição municipal, pela eliminação da vida pública dessa pessoa completamente insensível às suas causas, por ficar claro que ela, de pública, não teve o menor interesse em demonstrar que age como tal, uma vez que a sua irrefletida atitude de proibir a obtenção de água para a comunidade não condiz, em absoluto, com os princípios da civilidade e razoabilidade ínsitos nos homens públicos, merecendo o desprezo não somente da comunidade local, mas das pessoas que comungam com os sentimentos humanitários.
Os brasileiros precisam se conscientizar de que as atividades político-administrativas não podem, em pleno século XXI, se confundir com interesses politiqueiros e paroquianos, porque o que deve prevalecer na administração pública é o exclusivo atendimento ao bem comum e o atendimento das necessidades públicas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de outubro de 2015

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