terça-feira, 27 de outubro de 2015

A reafirmação da insensatez


O sínodo de bispos sobre a família votou, de forma majoritária, documento final com 94 parágrafos, propondo, entre outras questões, "a integração" na Igreja Católica dos divorciados que voltarem a se casar, a depender da análise de "caso a caso", pela autoridade eclesiástica da comunidade.
A atual doutrina da igreja não permite que os divorciados possam receber a comunhão, salvo, pasmem, se eles se abstiverem de relações sexuais com seu novo parceiro, haja vista que seu primeiro casamento ainda é válido sob a visão da igreja, o que caracteriza convivência em pecado do adultério.
A anulação do primeiro casamento pela igreja é a única maneira que os católicos dispõem para se casar novamente, cuja decisão eclesiástica conduz à confirmação de que o primeiro casamento nunca existiu, fato que parece aberração, sob a motivação da falta de determinados pré-requisitos, como a maturidade psicológica ou livre arbítrio.
Estranha-se que os bispos do mundo debruçaram-se ao longo de três semanas sobre o documento, para tratar do texto que foi considerado como postura "mais misericordiosa" e "menos julgadora", em se tratando de casais que vivem juntos sem o matrimônio, além de homossexuais e católicos divorciados que voltaram a se casar no registro civil.
Comenta-se que os bispos mais conservadores resistiram em abrir concessão aos católicos que voltarem a se casar poderem receber a comunhão, que é proibida pela igreja, embora o documento aprovado abra portas para exceções que serão analisadas individualmente e decididas pelo papa.
O documento final do sínodo reafirmou os ensinamentos da igreja no sentido de que os homossexuais não devem sofrer discriminação na sociedade, mas também reafirmou a orientação no sentido de que "não há qualquer fundamento" para o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que "não pode nem mesmo remotamente" ser comparado a uniões heterossexuais.
A assembleia decidiu buscar o consenso e evitar linguagem controversa, a fim de evitar impasse sobre os temas mais sensíveis, deixando que o papa delibere sobre os detalhes.
Como o sínodo é órgão consultivo, sem poder para promover alteração na doutrina da igreja, compete ao papa arbitrar sobre as alterações possíveis, o qual teria feito apelo para que a igreja se tornasse mais misericordiosa e inclusiva.
O que se pretende é que a Igreja Católica deva continuar defendendo os valores tradicionais que inspiram a construção do amor, levando em consideração o contexto social em evolução, de modo que os princípios do cristianismo também continuem sendo especialmente preservados e aprimorados, como forma de maior agregação das comunidades que acreditam nos ensinamentos de Jesus Cristo.
Em pleno século XXI, depois de a humanidade passar por maravilhosos avanços e descobertas, em termos científicos e tecnológicos, obviamente em benefício das relações humanas, a Igreja Católica ainda ficar presa às relações sociais, ao comportamento humano e as sensibilidades pessoais, sem a menor plausibilidade ou justificativa que demonstre possível prejuízo ou abalo às estruturas da madre igreja, pelo menos com relação ao progresso da instituição, demonstra o quanto os senhores cardeais precisam, com urgência, passar por rigoroso processo de civilidade, como forma de se permitir que eles saiam do casulo do anacronismo e percebam que o mundo evoluiu bastante e eles estão ainda ano-luz de distância da realidade dos fatos, cuja preciosidade da modernidade, eles também precisam saber, tem o beneplácito de Deus, o verdadeiro pai de todos nós, inclusive deles, que se julgam donos de razão completamente anacrônica, dissociada da realidade divina, que permite a realização do progresso, das descobertas e dos avanços da humanidade.
É evidente que esse preciosismo de se manter a Igreja Católica resistente aos avanços da humanidade pode até ter razões que os próprios seguidores do catolicismo desconhecem, no sentido de que não somente com relação à aceitação dos divorciados, mas como mudança de forma ampla, abrangente e revolucionária dos princípios dogmáticos, que absolutamente não fazem mais sentido na atualidade, quando os tabus não mais têm o condão da escandalização dos tempos primórdios da instituição, nos idos em que tudo era censurado e sancionado como pecado, sendo passivamente aceito pela sociedade de então.
Seria de suma importância que os retrógrados e ultraconservadores cardeais e bispos tivessem a sensibilidade e a dignidade de esclarecer aos leigos os reais motivos pelos quais a Igreja Católica não tem o direito de passar por completa reforma de seus obsoletos e inúteis dogmas e preceitos, por eles serem, à toda vidência, profundamente contrários aos sentimentos de modernidade e de evolução das relações humanas, porque, em essência, ela existe em razão das comunidades, que demonstram insatisfação pelas intransigência e resistência à modernidade, fato que vem causando expressivo afastamento de pessoas do seu convívio, diante da existência de concepções absolutamente em dissonância com os princípios de modernidade e do progresso, que são realidade que não pode ser ignorada por ninguém, muito menos por instituição indispensável ao ser humano.
Se a essência da Igreja Católica é o amor, não faz sentido que o verdadeiro cristão seja discriminado por aqueles que são responsáveis pela condução do rebanho de Jesus Cristo, que não estabeleceu limites para que o amor fosse usado da forma que cada ser humano entenda que seja exatamente o amor que faz parte da cartilha do Mestre dos mestres, porque o amor do divorciado, casado, solteiro, homossexual etc. não diferencia do amor disseminado por quem melhor definiu a sua verdadeira finalidade, extensão e profundidade, sendo absolutamente irreal a concepção que a Igreja Católica faz quanto aos sentimentos das pessoas que amam independentemente da aceitação ou não sobre as suas condições humanas.
Em que pesem a falta de compreensão e a insensibilidade para a real e efetiva modernidade da Igreja Católica, à luz da evolução da humanidade, que é certamente permitida pela magnânima engenhosidade divina, importa saber que, na essência, Deus ama seus filhos e todos têm a consciência sobre a necessidade e a importância que o amor é capaz de produzir de bom e maravilhoso nos corações dos homens, não importando as formas e as condições como eles vivem e se relacionam com seus semelhantes. Acorda, Vaticano!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, 27 de outubro de 2015

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