segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Irregularidade no Bolsa Família


A Polícia Federal deflagrou operação para reprimir a máfia que retém cartões de beneficiários do programa Bolsa Família, nas cidades do Alto Solimões, no Amazonas.
Agentes públicos recolheram cartões de beneficiários indígenas do programa social que estavam em poder de nove comerciantes de Atalaia do Norte, mas a quantidade de documentos apreendidos ainda não foi contabilizada.
A polícia também recolheu anotações de vendas, registros de senhas, cadernos de apontamentos de dívidas, comprovantes de saque e extratos bancários.
O mandado de busca e apreensão dos cartões foi expedido pela Justiça Federal teve por base denúncia de esquema destinado à retenção de cartões por comerciantes envolvidos no esquema, que poderão ser indiciados e responder a processos por crimes de apropriação indébita, estelionato em detrimento de instituições financeiras e furto.
As investigações continuam em outros municípios com predomínio da população indígena, com vista a se coibir essa prática que desvirtua a proposta do programa social do governo.
A polícia já tem conhecimento de que o crime de reter os cartões ocorre também nas demais cidades amazonenses da região da tríplice fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru.
Causa perplexidade que as famílias simplesmente entregam os cartões e as senhas para os comerciantes, que se encarregam de retirar o dinheiro do benefício nas casas lotéricas e fazerem o acompanhamento da movimentação das contas.
Segundo foi apurado, as dívidas das famílias beneficiadas pelo programa só aumentam, porque os comerciantes inflam os preços dos produtos alimentícios para garantir o controle dos “parentes” que moram nas aldeias.
Os comerciantes justificaram a retenção dos cartões como garantia do pagamento das dívidas, seguindo o velho “sistema do barracão” que existia no começo do século XX, segundo o qual o dono de seringal fornecia alimentos e outros produtos para seus empregados que, diante do aumento da dívida, não podiam deixar o trabalho, sob pena de tortura e até morte.
A história da máfia dos cartões do Bolsa Família foi contada no caderno especial e em multimídia para a internet Favela Amazônia, que mostram o retrato da floresta, tendo sido publicado pelo O Estado. O jornal mostrou, por meio de textos, vídeos, fotografias e áudios, que comerciantes retinham, em larga escala, cartões do Bolsa Família e da Previdência.
O município de Atalaia do Norte tem o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano do país e apresenta elevados índices de desnutrição e morte de crianças, cujas famílias vítimas do esquema relataram que não acompanham a movimentação das contas dos benefícios, sendo que a máfia tinha apoio de casas lotéricas para a retirada do dinheiro.
A descoberta de verdadeira máfia de comerciantes evidencia mais uma fragilidade de controle na execução do Bolsa Família, ante o total desvirtuamento da finalidade institucional desse importante programa de distribuição de renda, que permite a sua normal manipulação por terceiros, ante a possibilidade de fraudes com o seu manuseio, como ficou provado na majoração dos preços dos produtos e principalmente na vinculação do seu produto a determinado comerciante, não permitindo que o seu titular disponha dos recursos pertinentes para nenhuma outra atividade e muito para controlar o saldo da sua conta, em total regime de completa submissão aos espertos comerciantes, que devem responder pelos crimes que cometeram.
Não chega a ser novidade a descoberta de mais uma forma de irregularidade envolvendo o Bolsa Família, que, vez por outra, surge novo caso de abuso na sua execução, principalmente no cadastramento de pessoas que não atendem aos requisitos de pobreza ou de outras exigências legais, em dissonância com os objetivos da sua institucionalização, o que demonstra a incapacidade de o governo exercer os devidos controle e acompanhamento sobre a sua execução com a eficiência que se exige na aplicação dos recursos públicos.
Convém que o governo seja bastante rigoroso contra a máfia dos cartões do Bolsa Família, adotando sistemas eficientes de controle sobre a execução dos pagamentos dos benefícios, de modo a serem evitados casos semelhantes ao referido na reportagem em tela e garantir que os beneficiários sejam acompanhados quanto ao correto uso de seus cartões, podendo receber e movimentar normalmente os recursos, para aplicação em suas necessidades, na forma prevista na instituição do programa. Acorda, Brasil!
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de outubro de 2015

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