terça-feira, 13 de outubro de 2015

Recriminável loteamento da máquina pública


Líderes de partidos de oposição na Câmara dos Deputados vão definir a estratégia a ser seguida no caso da abertura do processo de impeachment da presidente do país.

A oposição pretende incluir no pedido de impeachment formulado por dois célebres juristas relatório do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, onde consta que o governo repetiu, este ano, as operações conhecidas como "pedaladas fiscais", postas em prática pelo governo em 2015, que foram objeto de rejeição, por unanimidade, pelo citado órgão de controle externo, em sessão realizada recentemente e que teve enorme repercussão sobre possível crime de responsabilidade fiscal cometido pela presidente brasileira.

A oposição argumenta que o atraso nos repasses de recursos do Tesouro Nacional a bancos, neste ano, derruba a tese que vem sendo adotada pelo presidente da Câmara, de que não é possível a abertura de processo de impeachment com base em irregularidades praticadas no mandato anterior ao atual da petista.

Em julho último, a imprensa mostrou que a Caixa Econômica Federal havia fechado o mês de março com déficit de R$ 44 milhões na conta referente ao pagamento de Seguro-Desemprego, que é 100% financiado por recursos do Tesouro. Essa lacuna revela que faltaram recursos do governo e, por via de consequência, o banco pode ter sido forçado a, novamente, usar recursos próprios para pagar programa de incumbência do Estado.

O relatório do Ministério Público junto ao TCU aponta que o governo atrasou a transferência de R$ 40,2 bilhões aos bancos públicos no primeiro semestre de 2015, montante maior que o verificado em todo o ano passado, que foi de R$ 37,5 bilhões.

Importa se ressaltar que, recentemente, a imprensa publicou reportagem mostrando o esforço do governo para se evitar a abertura de processo de impeachment, por meio do qual a presidente da República determinara aos ministros da articulação política que entreguem os cargos no segundo e terceiro escalões aos partidos aliados, independentemente que resulte mais sacrifício para o PT, que já teria perdido espaço nos ministérios.

O texto dizia que o governo tinha muita pressa para sinalizar aos aliados que os compromissos assumidos durante a negociação da reforma ministerial serão cumpridos integralmente.

Um interlocutor do governo disse que "O PT vai ter de entender o momento grave e a necessidade de governar em parceria, repartindo espaço com os demais partidos da base aliada" e, mais, que todos os ministros têm de reservar horários em suas agendas para atender os parlamentares, tudo em evidente socorro à periclitante e horrorosa situação da presidente do país.

É lamentável que o governo se comprometa a fazer rateio de órgãos e entidades públicos entre seus aliados políticos, em deprimente negociata para garantir a blindagem da presidente contra a abertura de processo de afastamento dela do cargo, em clara deformação da qualidade dos serviços públicos, de forma absolutamente contrária aos princípios da dignidade e honorabilidade que devem prevalecer na administração do país.

Essa espúria maneira de atendimento, com urgência e de forma prioritária, as exigências de cargos pelos congressistas, como forma de se garantir fidelização à causa da blindagem da presidente contra a aceitação de pedido de seu impeachment não condiz com a seriedade que é exigida de governo cônscio da sua responsabilidade em cumprir as funções de Estado em absoluto respeito ao ordenamento constitucional e legal de legitimidade dos atos administrativos.

Trata-se do ilícito emprego da máquina pública para comprar a consciência de igualmente inescrupulosos e despudorados parlamentares, cujas medidas somente contribuem para indiscutíveis empobrecimento e ineficiência do serviço público, bem assim para o prejuízo da qualidade do desempenho das atividades do Estado.

Acredita-se que esse fato, por si só, já é mais do que suficiente para o impeachment da petista, por haver nele infração aos princípios da legalidade e da dignidade que devem imperar na administração do país, por condizerem com o desmazelo e a falta de cuidado para com o patrimônio dos brasileiros.

Urge que os brasileiros, no âmbito do seu dever cívico, repudiem, com o máximo de veemência, a forma inescrupulosa de loteamento de ministérios e empresas estatais entre partidos da base de sustentação do governo, com a finalidade exclusiva de fidelização à causa pessoal da presidente do país, com vistas à blindagem contra a abertura de processo de impeachment conta ela, por haver nisso cristalina dissonância com os objetivos precípuos do atendimento do interesse público, e concitem a oposição a levantar a inconstitucionalidade do uso da máquina pública em benefício pessoal da mandatária do país, como medida capaz de ensejar o afastamento dela do cargo presidencial. Acorda, Brasil!   

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 13 de outubro de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário