sábado, 24 de outubro de 2015

A formação da consciência coletiva


Há 23 anos, seis dos advogados e juristas que redigiram a petição que originou o afastamento, em 1992, do presidente alagoano do Palácio do Planalto, tinham e defendiam o mesmo objetivo, mas agora três deles se encontram em lado oposto, se manifestando pela rejeição ao pedido de impedimento da petista, enquanto os outros três são favoráveis à aplicação da medida.
Os três advogados favoráveis ao impeachment alegam que as denúncias contra a presidente são gravíssimas, basicamente pelas pedaladas fiscais, que são manobras contábeis com recursos de bancos federais, que contribuíram para agravar a situação econômica; pela omissão quanto aos fatos ligados à corrupção; pelo fato de terem tornadas ilegítimas as suas ações do governo; pela edição de decretos sem autorização legal, autorizando a realização de despesas; pela formação da consciência coletiva como sentimento nacional de reprovação do governo federal; e pela responsabilização por irregularidades nas contas públicas.
Por seu turno, os juristas que são contrários ao impeachment, em pareceres contratados para opinar a favor da presidente, fundamentam seus conceitos afirmando que não se fez qualquer comprovação de envolvimento pessoal da presidente em atos de corrupção; há irregularidades formais, administrativas, mas não a configuração de crime de responsabilidade; existe apenas o caos político total; não existe consistência jurídica para o impeachment; a Constituição expressa que o presidente só pode ser responsável por atos da sua gestão atual; as elites tradicionais não se conformam com a valorização dos direitos sociais; e juridicamente, toda a questão é ridícula e infundada.
Causa enorme perplexidade que jurista renomado afirme que “há irregularidades formais, administrativas, mas não a configuração de crime de responsabilidade”, quando a própria terminologia “irregularidade” já caracteriza, por si só, a infringência da norma legal e, por via de consequência, a confirmação do crime contra a administração pública, justamente por descumprimento de preceitos constitucional e legal, que é o enquadramento cabível nos casos das pedaladas fiscais e das extrapolações dos limites das diretrizes orçamentárias previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal.
Na verdade, o maior crime cometido pelo governo contra o Brasil foi ter implantado o que ele chama de coalizão de governabilidade, que nada mais é do que fisiologismo que tem por parâmetro o indecente e recriminável critério do "toma lá, dá cá", que tem por base o loteamento de ministérios e empresas públicas entre partidos políticos em troca de apoio no Congresso Nacional, com o objetivo de garantir a base de sustentação suficiente para a aprovação de projetos do Palácio do Planalto, sob o terrível preço da precariedade dos serviços públicos prestados à população, por força do despreparo e da incompetência dos políticos indicados no laço para ocupar os cargos de direção que deveriam ser preenchidos, na forma da Carta Magna, por pessoas qualificadas, especializadas, escolhidas pelos critérios decentes da meritocracia e da eficiência, como forma de proporcionar qualidade aos serviços públicos.
Esse fato, por si só, já seria mais que suficiente para criminalizar a presidente do país pela deliberada transformação da máquina pública em moeda de troca com partidos políticos, com vistas a garantir apoio pessoal, como no caso da última reforma ministerial, que foi promovida para a consolidação do que foi denominado de fidelização à presidente, no sentido de fortalecer a base para se evitar a abertura do processo de impeachment da petista.
Ou seja, a presidente do país, às claras, de forma escandalosa e espúria, promove reforma ministerial, com o uso da máquina pública, para agregar ao seu redor, em cristalina compra da consciência de igualmente inescrupulosos parlamentares, que se submetem a negociatas e barganhas nitidamente imorais, para se evitar o afastamento do poder de quem vem destruindo o patrimônio dos brasileiros, conforme mostram os fatos do cotidiano.
A presidente ainda foi incapaz de evitar que a economia se fragilizasse e se tornasse verdadeiro frangalho com a recessão que reflete negativamente em todos os componentes da economia, permitindo que haja mais desemprego, menos arrecadação, desindustrialização, debandada do capital estrangeiro, inexistência de investimentos em obras, entre outras mazelas que os juristas remunerados para opinar a favor do governo preferem escamotear, aliás, no seu papel de defensor de quem paga, a realidade dos fatos para bem longe das discussões, ao dizerem, de forma leviana, que as graves irregularidades praticadas pela presidente são de natureza formal, quando não existe contrariedade à regra com essa denominação ultrassuavizada, em termos jurídicos.
Tudo isso, sem falar que os rombos nas contas públicas são consequências da gastança irresponsável, em total descrumprimento do ordenamento jurídico do país, em afronta à legislação que disciplina as normas de administração orçamentária e financeira, contrariando o juramento de posse da presidente, onde ela prometeu cumprir e fazer cumprir a Constituição e as leis do país.
Por seu turno, ainda se pode trazer à colação as promessas mentirosas e inverossímeis da última campanha presidencial, quando a presidente prometeu realizar profundas mudanças no país, que, segundo ela, instruída por brilhantes marqueteiros, já se encontrava às mil maravilhas, mas, no seu segundo mandato, só haveria bonanças, porque ajustes fiscal e econômico seriam feitos somente por seus opositores, caso eles fossem eleitos.
Porém, a triste realidade é que o país se encontra quebrado, em recessão, endividado, atolado até a raís no lamaçal de graves crises política, econômica e administrativa, apesar dos ingentes esforços já empreendidos com aumentos de impostos, restrições de crédito e de consumo, aumento de juros, e de outras mazelas que a presidente não consegue contornar nem mesmo evitar que as agências de classificação de risco retirem o grau de investimento do país, fato que contribui para a maciça retirada de investidores estrangeiros, tudo conspirando para que os interesses dos brasileiros fiquem cada vez mais prejudicados com a continuidade de governo sem a menor perspectiva, mas mesmo assim os famosos e contratados juristas não conseguem enxergar prejuízos capazes de justificar o afastamento do cargo presidencial de quem nada mais se espera senão o aprofundamento da derrocada dos sonhos dos brasileiros iludidos no último pleito eleitoral, quando foi projetado pela presidente, de forma leviana e irresponsável, um país maravilhoso, totalmente diferente do atual, onde imperam crises de toda ordem.
Não é preciso ser jurista para se perceber, sem o menor esforço, que os fatos deletérios, as irregularidades consistentes no rombo das contas púbicas, em flagrante descumprimento das normas de administração orçamentária e financeira, a contumaz precariedade dos serviços públicos, o espúrio loteamento dos ministérios e das empresas estatais entre os partidos aliados, a perda de confiança dos investidores estrangeiros, por força da desconfiança nas políticas públicas, a concessão de financiamento para obras em outros países, quando há escassez de recursos para a realização de obras no Brasil, entre muitas deficiências prejudiciais aos interesses nacionais, são motivos que embasam robustamente o impeachment da presidente, exatamente porque a sua gestão não condiz com os anseios dos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de outubro de 2015

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