terça-feira, 22 de novembro de 2016

À espera das contestações

O ex-presidente da República petista atacou, de forma dura, a imprensa, os delegados da Polícia Federal, os procuradores do Ministério Público e o juiz de Curitiba, ao afirmar que “A menor preocupação é com a verdade”.
Mesmo já sendo réu em três processos contendo resultados de investigações sobre casos de corrupção, o ex-presidente não poupou críticas à força-tarefa da Operação Lava-Jato, exatamente por ocasião de ato de lançamento da campanha “Um Brasil Justo pra Todos e pra Lula”.
Diante de auditório lotado com centenas de pessoas na Casa de Portugal, na Liberdade, zona sul de São Paulo, o petista afirmou que “Eu penso que eles cometeram um pequeno erro. É que eles mexeram com a pessoa errada. Eu não tenho nenhuma preocupação de prestar contas à Justiça brasileira. O que eu tenho preocupação é quando eu vejo um pacto quase diabólico entre a mídia, a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz que está apurando todo esse processo”.
O político acusou a Operação Lava-Jato de mentir para a população, quando disse que “Não me sinto confortável participando de um ato da minha defesa. Eu me sentiria confortável participando de um ato de acusação à força-tarefa da Lava Jato, que está mentindo para a sociedade brasileira”.
O procurador-geral da República evitou comentar as críticas do ex-presidente, no que se refere à declaração dele de que há um “pacto quase diabólico” entre a Polícia Federal e o Ministério Público na Operação Lava Jato, mas, em breve comentário, ele destacou a liberdade de manifestação e concluiu que “O que posso dizer é que eu não sou religioso. Nós vivemos num país livre, onde o direito de crítica e de manifestação é assegurado na Constituição. Eu não tenho que me referir ao que ele disse. Ele tem todo direito de externar as opiniões e as críticas que entender necessárias”.
É estranho que o petista acuse a força-tarefa de mentir para os brasileiros, mas a maior mentira, no caso, pode ser a falta de resposta ao autor do libelo, permitindo que fatos investigados se tornem verdade.
Já que o petista acusa a força-tarefa de não se preocupar com a verdade, não custaria nada que ele se encarregasse de mostrá-la, demonstrando preocupação em relatar o que realmente aconteceu, de modo a pôr por terra as alegações de que ele teria implicação com os fatos irregulares objeto das denúncias aceitas pela Justiça.
O petista diz que não tem nenhuma preocupação de prestar contas à Justiça, mas demonstra enorme dificuldade de mostrar à sociedade, em forma de contestação, acompanhada de provas comprobatórias, a sua inculpabilidade com relação aos fatos denunciados à Justiça, que, em princípio, estão revestidos de materialidade substancial, porquanto, caso contrário, eles jamais seriam aceitos, por não preencherem os requisitos exigidos pela legislação aplicável à espécie.
Os brasileiros anseiam por que o ex-presidente mostre, à saciedade, que o trabalho da força-tarefa não tem consistência e que ele realmente está sendo perseguido e injustiçado pela Lava-Jato, ao invés de somente espernear e acusar insistentemente a mídia, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça pela prática de erros contra ele, quando nada melhor para acabar com a celeuma é provar que os fatos irregulares cuja autoria lhe vem sendo atribuída jamais existiram, com o que ficariam desmascarados os esforços para incriminá-lo, inclusive com a qualificação de chefe de organização criminosa, que teria ainda cometido os crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e tráfico de influência.
É evidente que, enquanto o político não se dignar a provar a sua inocência perante os brasileiros e a Justiça, as suspeitas são confirmadas pela dúvida e falta de elementos contestatórios.
O ex-presidente precisa saber que não adianta muito ficar repisando, somente com palavras, que é inocente, vítima e injustiçado, principalmente pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, porque o povo somente vai dar crédito às suas indignações verbais quando elas vierem respaldadas com provas juridicamente válidas, porque é assim que o ordenamento jurídico preconiza em caso de denúncia contra qualquer cidadão, à vista do princípio constitucional da isonomia. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
       Brasília, em 22 de novembro de 2016

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