domingo, 20 de novembro de 2016

Prova incontestável?

O ex-presidente da República petista, a par de ter sido emparedado pela Operação Lava-Jato, já é réu em três processos em razão de práticas nada dignas para os homens públicos, como obstrução de Justiça, ocultação de patrimônio, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, organização criminosa e tráfico de influência.
Já há, na verdade, uma sucessão de fatos que depõem contra a honestidade tão bem defendida por ele, segundo a visão dele, à vista da abundância de provas cuja autoria dos atos irregulares lhe é atribuída, contrariando a costumeira falácia da sua defesa, de que tudo não passa de acusação sem comprovação.
Agora, é muito provável que não deva existir nada mais contundente e definitivo como a definição de corrupção, representada pelo recebimento de pagamentos de propina em dinheiro vivo, como a revelação que acaba de fazer ISTOÉ, ao garantir que o petista teria recebido, em espécie, o valor de R$ 8 milhões da Odebrecht, o que constitui prova potencialmente destruidora para o petista, porque é o então presidente dessa construtora que está declarando o fato ocorrido.
Segundo levantamentos realizados por ISTOÉ, o acordo de delação da referida empresa tem a robusta comprovação de 300 anexos, constituindo a mais sólida e contundente colaboração premiada do mundo, onde sobressai a afirmação do herdeiro e ex-presidente da empresa de ter entregue ao petista dinheiro em espécie, fato que tem o poder de desmascarar a figura pública mais poderosa do país e demonstrar, ao contrário do que ele reverberava, enorme intimidade dele com o lado podre da corrupção.
Segundo o ex-dirigente da construtora, os repasses ocorreram, em sua maioria, nos anos de 2012 e 2013 e foram provenientes do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, que tratava, na qualidade de departamento específico, da propina da empresa, perfazendo o montante de R$ 8 milhões, conforme revelação feita também pela Polícia Federal.
Os especialistas garantem que os pagamentos em dinheiro vivo são classificados entre aqueles de “método clássico” da prática corrupta, porque se trata de procedimento que não permite registros de nada, muito menos de entrada do dinheiro sujo, para quem recebe, e de saída, para quem paga.
A presente revelação constitui prova de que o petista não somente presenciou as negociatas, como também aceitou receber em espécie gorda propina, certamente na convicção da impunidade, em razão da sua suprema autoridade presidencial, que jamais seria denunciada e muito menos investigada com a profundidade da competência demolidora da Lava-Jato.
A verdade é que o repasse de dinheiro vivo ao petista desmascara qualquer argumento de que ele corresponde à contrapartida de “palestras”, como tem sido usado pela defesa do ex-presidente, fato este que contribui para fragilizar as reiteradas ladainhas nesse sentido.
Inicialmente, a ideia da Odebrecht era dificultar as ações da Operação Lava-Jato, com vistas à identificação dos envolvidos nas irregularidades com recursos públicos, mas a necessidade da sobrevivência obrigou a transparência e a entrega do todo-poderoso, que agora não tem escapatória das mãos da Justiça, com mais esse gravíssimo caso para responder e não será fácil, diante das provas entregues aos investigadores.
De acordo com as delações da Odebrecht, há bastante clareza quanto à influência do petista para a aprovação de projetos da construtora no BNDES, sendo que um diretor confirmou as mensagens levantadas pela Polícia Federal, onde consta que as influências do ex-presidente e do ex-ministro da Fazenda dele, agora preso, foram decisivas para a aprovação de projetos definidos exatamente na forma concebida pela construtora, sem a submissão de nenhum tipo de checagem.
Ao que tudo indica, os depoimentos bombásticos dos dirigentes da Odebrecht, com a clareza estonteante do seu então presidente, não deixam dúvida alguma de que o ex-presidente da República petista se encalacrou em definitivo, porque já havia indicativo em demonstrativo do repasse de oito milhões de reais de propina a ele, que agora se confirma com a força da delação do ex-presidente da empreiteira.
Na realidade, a situação do petista, à luz da legislação penal, se complica de vez, tendo em vista que a comprovação e a confirmação da materialidade do crime tornam muito mais difícil de se contestar o fato com simples falácias, que já vêm sendo reiteradas desde o início das investigações a cargo da Operação Lava-Jato, que já o denunciou, com base em provas contundentes, juridicamente válidas, mas elas são apenas menosprezadas pelo petista, na tentativa de desmascarar o trabalho da força-tarefa da Lava-Jato, que até agora vem sendo aceito com mérito pela Justiça.
A verdade é que a delação dos dirigentes da Odebrecht está causando enorme preocupação não somente para a cúpula petista, mas para muitos políticos, à vista de as informações prestadas por eles se transformarem em verdadeiro tsunami destruidor de dezenas de homens públicos que se passam por exemplo de honestidade e de dignidade, quando o seu envolvimento com a corrupção poderá ser confirmado pela delação em apreço, porque os fatos declinados têm o peso da absoluta verdade, uma vez que, ao contrário disso, os delatores não se beneficiam de nada e ainda podem correr o risco de ser penalizados, em caso de confissão de inverdades contra alguém.
À toda evidência, é gravíssima a acusação de o petista ter recebido dinheiro em espécie, porque isso tem o condão de pôr por terra as argumentações de que ele é o homem mais honesto da face da Terra, mesmo se sabendo que o sentido de ser honesto é sequer haver qualquer suspeita sobre a existência de atos irregulares, quanto mais envolvendo a pessoa de quem já foi presidente do país, que tem o dever cívico, patriótico, de realmente comprovar a licitude de seus procedimentos como homem público.
Com certeza, desta vez, o "rei" está nu mesmo, com a diferença de que seus súditos não têm como acobertar tamanha indignidade, porque a prática da corrupção é simplesmente imperdoável e avassaladora, quanto mais em se tratando de quem se julgava, obviamente da boca para fora, o suprassumo da "imacularidade" em pessoa, que certamente não resistira a mais esse duro e certeiro golpe na sua moleira, que já se encontra um tanto fragilizada pela pletora de denúncias sobre a autoria de tantos outros atos igualmente irregulares.
Os brasileiros anseiam muitíssimo em saber a verdade sobre o mar de podridão ocorrido com o valioso dinheiro da Petrobras e até mesmo outras entidades públicas, porque é muito difícil entender como importantes homens públicos tiveram a indignidade de tramar esquemas criminosos para desviar dinheiro de cofres públicos em proveito próprio e ainda terem o despudor de não assumir seus erros, na esperança de que a ingenuidade, a ignorância e a imbecilidade de alguns brasileiros engolissem a seco tanta traição e deslealdade aos cidadãos honestos, que não merecem tratamento da pior qualidade, à vista da confiança depositada em quem se encontra completamente envolvido em casos escabrosos e indignos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 20 de novembro de 2016

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