quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Respeito à vontade de Deus

Conforme reportagem publicada no site da Veja, quatro cardeais da ala conservadora da Igreja Católica fizeram inusitado desafio público ao papa, ao acusá-lo de semear confusão acerca de temas morais importantes. 
Os referidos cardeais escreveram carta ao papa, em setembro último, onde havia questionamentos fatos importantes da igreja, mas eles não foram respondidos até o momento, o que motivou a iniciativa do desafio em público.
Eles alegaram que ainda estão em discussão alguns dos ensinamentos da encíclica “Amoris Laetitia” (A Alegria do Amor), documento onde é exposta a fundamentação sobre a tentativa do papa de tornar a Igreja Católica, de 1,2 bilhão de seguidores, mais inclusiva e menos condenatória. 
No aludido documento, assinado em abril deste ano, o papa concita a igreja a ser menos rígida e mais compassiva com quaisquer membros que o pontífice os denomina de “imperfeitos”, como aqueles que se divorciaram e voltaram a se casar, tendo afirmado que “ninguém pode ser condenado para sempre”.
As críticas ao papa se concentraram na parte onde a carta papal se refere à reintegração plena à igreja de pessoas que se divorciam e voltam a se casar em cerimônias civis. Os cardeais disseram ao papa que “Nós, abaixo assinados, e também muitos bispos e sacerdotes, temos recebido inúmeros pedidos de fiéis sobre a interpretação correta a dar o Capítulo VIII da Exortação”.
De acordo com a norma da igreja, aquelas pessoas não podem receber a comunhão, salvo se abstenham de sexo com os novos parceiros, pelo fato de que o seu primeiro casamento ainda permanecer válido perante os olhos da igreja e, agindo dessa forma, considera-se que eles estão vivendo em estado pecaminoso de adultério.
Na encíclica, o papa demonstrou seu alinhamento à corrente progressista que propuseram o “fórum interno”, no qual ficou definido que o padre ou o bispo pode decidir em cada caso, conjuntamente com o indivíduo, se ele ou ela pode ser reintegrado plenamente à igreja e receber a comunhão.
Esta não é a primeira vez que conservadores se desentendem com o pontífice, os quais, volta e meia, demonstram temor de que o papa esteja contribuindo para enfraquecer os ditames católicos referentes a temas morais, a exemplo da homossexualidade e do divórcio, enquanto ele se concentra em problemas sociais como a mudança climática e a desigualdade econômica.
Nem se pode entender que os cardeais estejam tentando criar embaraço ao trabalho do papa, mas essa questão da reconciliação do cristão com a igreja não poderia sequer existir condição senão de que ele deseja reintegrar ao rebanho de Jesus Cristo, sem precisar de ser obrigado a passar pelo crivo de qualquer forma de exigência, porque a única condição deveria ser a de que ele acredita nos mandamentos essenciais de amor aos ensinamentos do Filho de Deus.
Parece até brincadeira que cardeais fiquem controlando se os cristãos estão aptos a se conciliarem com Deus, até mesmo no caso de divorciados, homossexuais e demais pessoas, não importando a sua ideologia ou o seu pensamento social ou comportamental, porque, para tanto, basta apenas que os filhos de Deus procurassem a igreja para confirmar a profissão de fé e de amor aos ensinamentos de Jesus Cristo.
A verdade é que os novos tempos convidam a Igreja Católica a se modernizar, em harmonia com os sentimentos da sociedade que se evoluiu e não pode ficar a reboque dos ditames católicos estratificados em pensamentos retrógrados de cardeais que precisam igualmente se reciclar e entender que a realidade social passou por transformação para melhor, em que o homem precisa viver no seu tempo, independentemente dos gargalos impostos por religiosos que resistem bravamente em acompanhar a evolução da humanidade.
A notória perda do rebanho da Igreja Católica tem muito a ver com a falta de sintonia de suas normas ultrapassadas com a modernidade, que faz parte indispensável das conquistas da ciência e da tecnologia e que precisam ser respeitadas e acompanhadas pelo homem e isso exige que os ditames católicos sejam concomitantemente adaptados à realidade, evidentemente por contar a plena vontade de Deus.
Não há a menor dúvida de que Deus quer que o homem continue em completa evolução, arrastando com ele a modernização da sua igreja, que não pode ficar à mercê de meia dúzia de cardeais conservadores que permanecem no seu tempo de estagnação, fato que não condiz com a modernidade que precisa ser compreendida em toda sua extensão, sob pena de a divisão entre os membros da Igreja Católica somente contribuir para dificultar ainda mais a unidade das ideais em torno dos pensamentos de paz, união, amor e fraternidade disseminados por Jesus Cristo. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 16 de novembro de 2016

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