quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Os fatos falam por si...

Quando discursava para sindicalistas, o ex-presidente da República achou por bem atacar a força-tarefa da Operação Lava-Jato e a imprensa, tendo se empolgado a ponto de fazer comparação entre os tratamentos dispensados a ele e ao então ministro da Secretaria de Governo, que terminou inserindo o Palácio do Planalto no olho do furacão do escândalo do empreendimento imobiliário irregular de Salvador.
Em certo momento, o ex-presidente chega a admitir que é o dono do imóvel de Guarujá (SP), quando lançou a seguinte pérola, para espanto da imprensa: “Vocês percebem que não dão destaque ao apartamento do Geddel como deram ao meu tríplex”.
Em seguida, o ex-presidente disse que a mídia e os investigadores da Lava-Jato estão em campanha para demonizar sua imagem, tendo se referido aos procuradores do Ministério Púbico Federal como “moleques” que produziram acusação contra ele pela pratica de corrupção passiva e lavagem de dinheiro e asseverou: “Quando essa molecada não tinha nascido, eu já fazia greves”.
Em outra passagem do discurso, o petista afirmou que os meios de comunicação e os procuradores inventam mentiras diárias contra ele, a par de também atacar o juiz da Lava-Jato, dizendo que “Moro, ao invés de tentar aceitar ou não pelos autos, orienta como eles (a PF) têm que fazer”.
          O ex-presidente ressaltou que entrou com processo contra o juiz de Curitiba, pela “invasão que fez na minha casa” e que também demandou, na Justiça, contra o delegado que “falou que eu peguei dinheiro em Angola” e o “cidadão do Ministério Público que disse que Lula criou o PT, que é organização criminosa e eu o chefe, e que afirmou: ‘não tenho prova, mas tenho convicção’”.
Ao ensejo, o ex-presidente antecipou que irá processar alguns meios de comunicação, sem citá-los, mas assegurou que isso pode demorar, tendo aproveitado a oportunidade para conclamar os militantes a discutirem projeto para o Brasil e reformular políticas de educação, que teriam sido desfeitas pelo atual governo, na opinião dele.
No fim de sua explanação, o ex-presidente ainda disse que o PT não está sendo atacado “pelas coisas ruins que algum petista fez, mas pelas coisas boas que nós provamos que podemos fazer pelo país”.
O discurso do político se resume, basicamente, em ataques e acusações aos meios de comunicação e aos responsáveis pelas investigações objeto da Operação Lava-Jato, dando a entender que se houve algo de malfeito, a culpa não é dele nem do PT, mas sim daqueles que o acusam, com o detalhe de que, em momento algum o petista contestou, com elementos probantes, a sua inocência quanto aos casos já denunciados.
Por seu turno, fica muito clara a falta de humildade do petista, quando ele afirma que as reprovações ao partido não são pelos fatos deletérios, reiteradamente alardeados nos meios de comunicação, mas sim pelas boas realizações que eles provaram que podem fazer pelo Brasil, dando a entender que as coisas boas teriam sido responsáveis para infernizar a oposição ao PT.
Por enquanto, o ex-presidente não se dignou demover as denúncias feitas à Justiça, que as aceitou com a placidez de que elas estão em conformidade com os fatos objeto das investigações, cuja materialidade foi reconhecida pelo juiz das causas, que certamente poderia incorrer em crime funcional caso as aceitasse sem que não estivessem presentes nos autos os requisitos exigidos para a espécie, sob pena de sanção aplicável ao caso, ante a caracterização de desídia por parte do magistrado, que é obrigado a checar o cumprimento das exigências legais, principalmente no caso de inflação penal envolvendo a pessoa de ex-presidente, que tem a obrigação, em princípio, de sempre mostrar conduta exemplar.      
O referido tríplex está tão em evidência que parece ser mesmo do ex-presidente, que, nem negando isso, como vem fazendo de forma reiterada, fica impossível se negar essa realidade, porque dificilmente as obras especiais e cinematográficas seriam feitas lá se não tivesse por propósito agradar o gosto refinado do homem mais poderoso do país, que demonstra ter enorme dificuldade para explicar situação que está em permanente exposição na mídia, cujos fatos levantados e documentados pelos investigadores apontam para a direção do ex-presidente como proprietário do citado imóvel.
Aliás, o histórico dos fatos que vinculam as reformas do imóvel com a família do ex-presidente mostra forte tendência de que jamais o tríplex seria preparado e destinado para outra pessoa, porque, ao que tudo indica, nenhuma outra família teve tanto interesse em acompanhar in loco as luxuosas reformas promovidas com o maior carinho pela OAS, inclusive sob seus auspícios financeiros.
É verdade que o ex-presidente, nessa sua última expressão de chamar o “meu tríplex”, pode ter sido traído pela memória e levado a assumir que o imóvel é realmente dele, como, de fato, sempre pode ter sido, apenas não se encontra escriturado no seu nome, porque isso é apenas mero detalhe, que não vai ao caso quando se trata de confiança mútua entre pessoas amigas.
O certo é que o ex-presidente, mais cedo ou mais tarde, vai ser obrigado a assumir que é realmente dono do questionado imóvel, à vista das fortes evidências nesse sentido, corroboradas pelas investigações da Operação Lava-Jato, que deverão ser reveladas por ocasião do julgamento da ação pertinente pela Justiça. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 30 de novembro de 2016

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