Quando discursava para sindicalistas, o
ex-presidente da República achou por bem atacar a força-tarefa da Operação Lava-Jato
e a imprensa, tendo se empolgado a ponto de fazer comparação entre os tratamentos
dispensados a ele e ao então ministro da Secretaria de Governo, que terminou inserindo
o Palácio do Planalto no olho do furacão do escândalo do empreendimento imobiliário
irregular de Salvador.
Em certo momento, o ex-presidente chega a admitir
que é o dono do imóvel de Guarujá (SP), quando lançou a seguinte pérola, para
espanto da imprensa: “Vocês percebem que
não dão destaque ao apartamento do Geddel como deram ao meu tríplex”.
Em seguida, o ex-presidente disse que a mídia e os
investigadores da Lava-Jato estão em campanha para demonizar sua imagem, tendo se
referido aos procuradores do Ministério Púbico Federal como “moleques” que
produziram acusação contra ele pela pratica de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro e asseverou: “Quando essa
molecada não tinha nascido, eu já fazia greves”.
Em outra passagem do discurso, o petista afirmou
que os meios de comunicação e os procuradores inventam mentiras diárias contra
ele, a par de também atacar o juiz da Lava-Jato, dizendo que “Moro, ao invés de tentar aceitar ou não
pelos autos, orienta como eles (a PF) têm
que fazer”.
O
ex-presidente ressaltou que entrou com processo contra o juiz de Curitiba, pela
“invasão que fez na minha casa” e que
também demandou, na Justiça, contra o delegado que “falou que eu peguei dinheiro em Angola” e o “cidadão do Ministério Público que disse que Lula criou o PT, que é
organização criminosa e eu o chefe, e que afirmou: ‘não tenho prova, mas tenho
convicção’”.
Ao ensejo, o ex-presidente antecipou que irá
processar alguns meios de comunicação, sem citá-los, mas assegurou que isso
pode demorar, tendo aproveitado a oportunidade para conclamar os militantes a
discutirem projeto para o Brasil e reformular políticas de educação, que teriam
sido desfeitas pelo atual governo, na opinião dele.
No fim de sua explanação, o ex-presidente ainda
disse que o PT não está sendo atacado “pelas
coisas ruins que algum petista fez, mas pelas coisas boas que nós provamos que
podemos fazer pelo país”.
O
discurso do político se resume, basicamente, em ataques e acusações aos meios
de comunicação e aos responsáveis pelas investigações objeto da Operação
Lava-Jato, dando a entender que se houve algo de malfeito, a culpa não é dele
nem do PT, mas sim daqueles que o acusam, com o detalhe de que, em momento
algum o petista contestou, com elementos probantes, a sua inocência quanto aos
casos já denunciados.
Por
seu turno, fica muito clara a falta de humildade do petista, quando ele afirma que
as reprovações ao partido não são pelos fatos deletérios, reiteradamente
alardeados nos meios de comunicação, mas sim pelas boas realizações que eles
provaram que podem fazer pelo Brasil, dando a entender que as coisas boas
teriam sido responsáveis para infernizar a oposição ao PT.
Por
enquanto, o ex-presidente não se dignou demover as denúncias feitas à Justiça,
que as aceitou com a placidez de que elas estão em conformidade com os fatos
objeto das investigações, cuja materialidade foi reconhecida pelo juiz das
causas, que certamente poderia incorrer em crime funcional caso as aceitasse
sem que não estivessem presentes nos autos os requisitos exigidos para a
espécie, sob pena de sanção aplicável ao caso, ante a caracterização de desídia
por parte do magistrado, que é obrigado a checar o cumprimento das exigências
legais, principalmente no caso de inflação penal envolvendo a pessoa de
ex-presidente, que tem a obrigação, em princípio, de sempre mostrar conduta
exemplar.
O
referido tríplex está tão em evidência que parece ser mesmo do ex-presidente,
que, nem negando isso, como vem fazendo de forma reiterada, fica impossível se negar
essa realidade, porque dificilmente as obras especiais e cinematográficas
seriam feitas lá se não tivesse por propósito agradar o gosto refinado do homem
mais poderoso do país, que demonstra ter enorme dificuldade para explicar situação
que está em permanente exposição na mídia, cujos fatos levantados e
documentados pelos investigadores apontam para a direção do ex-presidente como
proprietário do citado imóvel.
Aliás,
o histórico dos fatos que vinculam as reformas do imóvel com a família do ex-presidente
mostra forte tendência de que jamais o tríplex seria preparado e destinado para
outra pessoa, porque, ao que tudo indica, nenhuma outra família teve tanto
interesse em acompanhar in loco as
luxuosas reformas promovidas com o maior carinho pela OAS, inclusive sob seus
auspícios financeiros.
É
verdade que o ex-presidente, nessa sua última expressão de chamar o “meu
tríplex”, pode ter sido traído pela memória e levado a assumir que o imóvel é realmente
dele, como, de fato, sempre pode ter sido, apenas não se encontra escriturado
no seu nome, porque isso é apenas mero detalhe, que não vai ao caso quando se
trata de confiança mútua entre pessoas amigas.
O
certo é que o ex-presidente, mais cedo ou mais tarde, vai ser obrigado a
assumir que é realmente dono do questionado imóvel, à vista das fortes
evidências nesse sentido, corroboradas pelas investigações da Operação
Lava-Jato, que deverão ser reveladas por ocasião do julgamento da ação
pertinente pela Justiça. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 30 de novembro de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário