Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o Palácio do Planalto teria atuado nos
bastidores, para o Supremo Tribunal Federal adiar o julgamento de processo que envolve
o presidente do Senado Federal, que, conforme o seu resultado, pode complicar a
vida do senador alagoano.
O aludido processo trata de ação pedindo que réus
sejam impedidos de ocupar cargos na linha sucessória da Presidência da
República está marcada para amanhã, mas o governo avalia que este cronograma é
inconveniente, sob o ponto de vista político.
O julgamento da matéria em tela havia sido marcado
antes do desentendimento com o presidente do Senado, em virtude dos estragos
causados pela operação judicial que resultou na prisão de quatro policiais
legislativos, por suspeita de obstrução das investigações da Operação Lava-Jato.
A reportagem do citado jornal esclarece que, pelo
menos, dois assessores da Presidência da República estiveram informalmente com
ministros do Supremo, para dizer a eles que é inoportuno, no momento, o julgamento
da ação interposta pelo partido Rede Sustentabilidade.
Na visão do jornal, o Palácio do Planalto vem se
empenhando ao máximo para se evitar contrariar o senador peemedebista, diante
da proximidade da votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que trata
da medida que limita o aumento dos gastos públicos, por 20 anos, e já foi
aprovada na Câmara dos Deputados, estando agora na pendência do Senado, com
votação prevista para o próximo dia 29.
A situação do presidente do Senado é bastante delicada,
porque, sendo o segundo na linha sucessória do presidente da República, após o
presidente da Câmara, ele é alvo de 11 inquéritos em tramitação no Supremo, sob
suspeitas de irregularidades.
Um ministro do Supremo disse que “Precisamos definir essa matéria porque a
época é propícia, já que não temos ninguém na linha de substituição do
presidente da República na condição de réu no Supremo. Então, estaremos
decidindo mesmo em tese. A matéria não tem complexidade maior. Estarei presente
à sessão, pronto a fazer o relato, a votar e a ouvir. A sociedade precisa
ouvir, até mesmo porque não podemos colocar em segundo plano o valor ético e
moral. Todo adiamento é negativo e trunca a apreciação da matéria”.
Quando
se esperava que não mais haveria recaída dos reprováveis sentimentos
corporativistas nada republicanos, como indecente forma do uso do deplorável tráfico
de influência, na tentativa de se dissimular situação com vistas a procrastinar
a adoção de medidas destinadas à moralização da administração pública, eis que
o Palácio do Planalto desafia o princípio da ética, para sair em defesa de quem
se encontra com a bagagem superlotada de denúncias referentes à prática de
irregularidades, dando a entender que as múltiplas lições de impunidade de nada
serviram de ensinamentos sobre a necessidade de moralização do país.
Os
brasileiros confiam na seriedade e na compostura dos integrantes da Suprema
Corte de Justiça, no sentido de rechaçar a infeliz tentativa de influência em
favor de quem, diante do seu currículo recheado de suspeitas de
irregularidades, não merece ser atendido nesse pleito absurdo de adiamento de
tão esperada decisão, que, se atendido, terá agravante em desfavor da Corte,
diante da manobra em benefício do postulante.
A
sociedade certamente depositará na conta do Supremo a inaceitável complacência
com caso que já deveria ter sido apreciado e decidido há bastante tempo,
porquanto o seu adiamento somente conspira contra a atuação da Justiça, que
precisa dinamizar seus trabalhos em cumprimento da sua relevante missão
constitucional de zelar pela constitucionalidade dos atos da administração
pública, inclusive da moralização do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 02 de novembro de 2016
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