quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Tragédia ou catástrofe?

Além da estrondosa surpresa, os especialistas em política também entendem que a vitória do bilionário americano suscita as maiores preocupações para o mundo, diante da desconcertante e inesperada representação delegada pelo povo norte-americano, em absoluta sintonia com o avanço de grupos políticos nacional-populistas, anti-imigrantes, xenófobos e outras tantas características próprias de movimentos reacionários contra a globalização.
Segundo a mídia, trata-se de uma "tragédia", uma "catástrofe", enquanto há quem diga que é a "vitória da raiva" e "a revanche das pessoas comuns", mas a imprensa mundial, quase à unanimidade, concorda em afirmar que a vitória do republicano significa o triunfo do populismo e a escolha de presidente imprevisível, que não condiz exatamente com o princípio democrático, que não se assenta na absoluta convicção da transparência e da verdade democráticas.
O jornal francês Le Monde estampou a manchete de que se operou "A vitória da raiva", por compreender que a chegada ao poder do republicano traduz a vitória que "reforçará os movimentos e líderes populistas de todo o mundo". E a sua promessa de "tornar a América grande novamente" sinaliza para "contenção e isolamento".
O jornal francês Libération (esquerda) classificou a vitória de "Trumpocalípse", tendo acrescentado que "Não se enganem: A primeira potência mundial está agora nas mãos da extrema direita. A metade dos americanos votou, com toda a consciência, em um candidato racista, mentiroso, sexista, vulgar, odioso (...) Esta eleição é mais um alerta para aqueles que pensam que Marine Le Pen não pode chegar ao poder na França em 2017".
O jornal Le Figaro (de direita) diz que, "na raiva americana", ​foi levado ao poder "o maior primo das frondes europeias. Esta nova realidade não vai se dissipar como um céu obscurecido por uma noite de combate. Nem numa margem do Atlântico, nem na outra".
O jornal Süddeutsche Zeitung, da Alemanha, lamenta "a pior catástrofe possível (...) O inimaginável que se tornou realidade".
O jornal Guardian (esquerda), de Londres, afirma que "O povo americano mergulhou no abismo. O próximo presidente é um homem sectário e instável, um predador sexual e um mentiroso inveterado. É capaz de tudo".
O Daily Mail, tabloide de direita, cumprimentou "A revanche das pessoas comuns. Uma humilhação para Hillary, para as pesquisas e elites dos negócios e do show business".
O jornal La Stampa, da Itália, foi menos pessimista, tendo apresentado o título "Trump, um furacão de raiva e descontentamento", acreditando que "a vitória de Trump confirma a vitalidade da democracia americana, capaz de se transformar continuamente", mesmo que isso cause "um dilúvio de incertezas ligado à imprevisibilidade do vencedor.”.
Na Austrália, o colunista econômico dos jornais do grupo Fairfax Media enxerga a vitória como catástrofe, tendo previsto "extraordinária instabilidade financeira" e o risco de que isso "desestabilize a maior economia do mundo, empurrando sua dívida a mais de 100% do PIB".
Nos Estados Unidos, o centro do furacão político, os principais jornais destacam a derrota das elites políticas e midiáticas, como o jornal New York Times, que disse: "O presidente Donald Trump. Três palavras que eram impensáveis ​​para dezenas de milhões de americanos", tendo reconhecido "um golpe humilhante para a mídia, pesquisadores e elite democrata".
Já o jornal Washington Post disse que se trata da vitória "dos eleitores rurais e de áreas industriais devastadas, que sentem que a elite política os abandonou" e espera que "Trump seja um presidente melhor do que temos medo", e que a força das instituições democráticas o impeçam de "deportar milhões de pessoas, rasgar acordos comerciais limitar a imprensa (...) e minar os esforços globais de luta contra as mudanças climáticas, como anunciado em sua campanha.”.
A revista New Yorker, a par de estampar o título "Uma tragédia americana", ressaltou que a vitória do republicano, "quando seu racismo e misoginia eram bem conhecidos, sugere que estes sentimentos são amplamente compartilhados".
O candidato republicano conseguiu convencer, com seu jeito demolidor da elegância diplomática, o americano branco e negro também, de qualificação média ou baixa, que mostra preocupação com a defesa do emprego, o inimigo que vem de fora do país e o sentimento do resgate patriótico, como forma da reconquista da grandeza e do brio americanos.
A chegada do republicano à Casa Branca causa muita apreensão, em especial porque as suas ideias de truculência em defesa de seu pensamento ultranacionalista têm o condão de sinalizar para o mar de incertezas quanto às relações com as nações amigas, deixando a maior interrogação no ar sobre o futuro da principal potência mundial, em termos de governança com competência, segurança, tranquilidade e responsabilidade.
A surpresa da vitória do republicano se tornou evidente diante da unanimidade manifestada pelas lideranças políticas mundiais, que captam nela o reforço emergido em favor das forças do atraso, consideradas contrárias à integração entre as sociedades e as economias.
O mundo imaginava que os norte-americanos já tinham atingido nível de avanço e maturidade, no que se refere à percepção das estratégias maquiavélica próprias do populismo que objetiva transmitir ideias que não significam exatamente a intenção pretendida senão o atingimento de objetivos personalísticos, haja vista que a maioria delas é absolutamente inexequível.
O que mais surpreendeu o mundo foi que a tragédia, como muitos assim classificam a vitória republicana, acontece justamente na América, que sempre foi considerado o país que é farol para o mundo, em termos de democracia, por já ter dado inumeráveis exemplos de aprimoramento das atividades político-democráticas.
Não à toa que os norte-americanos que elegeram o republicano para o seu presidente devem ter absoluta consciência sobre a famosa máxima segunda a “o povo tem o governo que merece” e certamente que os votos dados a ele têm a voluntariedade e a convicção de que seus programas de governo já sinalizavam para seara de incertezas e dúvidas, mescladas de muitas intenções contrárias ao princípio da civilidade.   
Em pesem os piores agouros para o governo republicano dos Estados Unidos da América, evidentemente à luz de tudo que o futuro titular da Casa Branca disse, fez ou deixou de transparecer durante a sua campanha eleitoral, o mundo torce por que ele tenha governo centrado nos princípios de civilidade e racionalidade, em sintonia com os verdadeiros conceitos de democracia e os avanços dos sentimentos de liberdade, progresso e respeito às individualidades e aos acordos firmados entre as nações. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 10 de novembro de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário