domingo, 27 de novembro de 2016

A riqueza e a soberba no clericalismo

Ao discursar para delegações de jesuítas do mundo, durante evento da 36ª Congregação dos Jesuítas, o Sumo Pontífice houve por bem criticar duramente o clero, ao declarar que ele é "rico" não apenas de "dinheiro", mas também de "soberba".
O Santo Padre disse que "O clericalismo é rico. E se não é rico de dinheiro, o é de soberba. Mas é rico, tem um apego às posses. Ele não se deixa ser criado pela mãe pobreza, não deixa que protejam o muro da pobreza. O clericalismo é uma das piores formas de riqueza pelas quais a Igreja é acometida, ao menos em alguns lugares da Igreja e mesmo nas experiências mais cotidianas".
Em que pese a existência milenar da Igreja Católica, o atual papa foi o primeiro religioso jesuíta a alcançar o grau máximo da instituição.
Ao ensejo do citado encontro, o pontífice também disse que "as críticas" feitas à Companhia de Jesus e a ele "têm um sabor de tipo restauracionista. Vale a pena dizer que são críticas que desejam uma restauração. Por detrás das críticas, a este tipo de pensamento".
Na ocasião, o papa também teria comentado sobre atividades inerentes aos políticos, ao anunciar que faltam homens públicos que lutem por seus ideais, de modo a incentivar o diálogo, ante a importância para o seu desempenho como representantes do povo.
Ele ressaltou que "Em geral, a minha opinião é que os políticos caíram. Não há mais aqueles grandes políticos que eram capazes de ser levados a sério, de seguirem com seus ideais, de não temerem nem os diálogos e nem a luta e que também andavam adiante, com inteligência e com o carisma próprio da política. E sobre isso, acredito que as polarizações não ajudam. O que ajuda na política, ao contrário, é o diálogo".
Em substância, o que o papa quis dizer, mas não teve coragem de fazê-lo, é que o clericalismo não está em sintonia com os princípios sabiamente pregados pelo Mestre dos mestres, que não pregava absolutamente nada que se referisse à riqueza senão do amor, da fraternidade e da união entre os semelhantes.
Na verdade, a Igreja Católica precisa de mais sinceridade para dizer, na pessoa do Sumo Pontífice, exatamente que a sua evangelização se fundamenta nos princípios, sobretudo, da pobreza de dinheiro e da soberba, em sintonia com os consagrados pensamentos disseminados por Jesus Cristo, que em momento nenhum fazia menção à riqueza de dinheiro na sua instituição, mas sim de bondade, caridade e amor.
Outra questão que poderia ter sido abordada pelo papa diz respeito à ostentação na Igreja Católica, desde a Catedral de São Pedro, no Vaticano, onde as cerimônias são realizadas com muita pompa e deslumbramento, evidenciando a riqueza que não deveria transparecer nos eventos normalmente realizados em nome do Pai do cristianismo, que foi pródigo em propagar os sentimentos de simplicidade como forma de engrandecimento do seu primado de amor.
Na verdade, jamais Jesus Cristo certamente teria imaginado que as cerimônias na sua igreja pudessem chegar a elevadíssimo grau de luxo, opulência e esplendor, contrariamente aos ideais do cristianismo, que não  condizem absolutamente com o status pretendido de simplicidade e de despojamento das riquezas que não se coadunam com o verdadeiro pensamento cristão, mesmo que a humanidade tenha passado por processo natural da modernidade e da evolução, que tem sua importante para a humanidade, mas não tem o poder de modificar o ensinamento central de Jesus Cristo, que se assenta tão somente nas práticas condizentes com o princípio de humildade, que é a maior riqueza da igreja e que jamais deveria se afastar dele.      
Não adianta ficar apenas criticando comportamentos e práticas na Igreja Católica, sem que não haja verdadeira efetividade dos princípios idealizados por Jesus Cristo, centrados nos princípios da caridade, pobreza, humildade e amor, que são essenciais à sua reconstrução. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 27 de novembro de 2016

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